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EM REFORMAS
Início de votação da tributária no Senado marca fim da pouca unidade de ação que havia entre governadores
Estados vivem guerra de todos contra todos
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O início das votações da reforma tributária no Senado indica
que os governadores perderam de
vez a pouca unidade de ação que
ainda exibiam quando o projeto
foi aprovado na Câmara nos Deputados. Eles não conseguem se
entender entre si nem, em alguns
casos, com as bancadas de seus
próprios partidos. Outros, como
os do PT, começaram uma negociação paralela com o governo.
A guerra fiscal opõe os governadores do Nordeste aos do Sudeste,
especialmente de Minas Gerais e
São Paulo. O Fundo de Desenvolvimento Regional junta todos
contra a União quanto à forma do
repasse, mas volta a desunir
quando a discussão é sobre quais
Estados serão beneficiados com
os recursos.
"Não existe consenso entre os
governadores, entre os governadores e o Congresso nem entre as
duas Casas do Congresso", afirma
o governador do Acre, Jorge Viana (PT).
Convencido de que o governo
federal não cederá em relação ao
fundo, Viana e os outros três governadores petistas (do Piauí, de
Mato Grosso do Sul e de Roraima) resolveram "trabalhar por fora" uma saída para as regiões
Norte e Nordeste.
Pela proposta do governo, o
Fundo de Desenvolvimento Regional seria constituído com 2%
da receita do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) e do
Imposto de Renda, algo em torno
de R$ 2,1 bilhões, para financiar o
setor privado nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, além do
Espírito Santo e de áreas do Rio de
Janeiro e de Minas Gerais.
Os governadores preferem receber o dinheiro para investimentos
diretos.
"O Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda] não
abre mão do fundo como está",
afirma Viana, que, além do ministro, já tratou do assunto com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro José Dirceu
(Casa Civil).
Segundo o governador, os três
foram receptivos à idéia de tentar
uma compensação por meio do
Orçamento para os Estados do
Norte e do Nordeste, como defendem os governadores do PT.
Os petistas se articulam com os
governadores de outros partidos
do Nordeste por meio de Cássio
Cunha Lima (PSDB), da Paraíba.
Na próxima segunda-feira, Cunha Lima receberá, em João Pessoa, todos os governadores nordestinos para uma reunião. A
proposta dos governadores petistas será discutida nesse encontro.
Existe divisão mesmo no Nordeste, inclusive entre governadores de um mesmo partido. Do
PFL, por exemplo: João Alves, de
Sergipe, e José Reinaldo Tavares,
do Maranhão, acham que a reforma não deveria tratar do ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços). Mas
Paulo Souto, da Bahia, julga boa a
unificação das 27 legislações estaduais e a redução das atuais 44 alíquotas para apenas cinco.
Lobby
O lobby de quem prefere manter a autonomia dos Estados para
legislar sobre o ICMS ganha força
no Congresso. O presidente do
PFL, Jorge Bornhausen (SC), que
era a favor da unificação, repensou a posição. Quando governava
Santa Catarina, diz Bornhausen,
uma epidemia de peste suína arrasou a suinocultura local, que só
teria conseguido se reerguer graças a incentivos de ICMS.
Sem unidade - até o grupo de
cinco representantes de cada região se desfez -, resta aos governadores fazer lobby individual
com suas bancadas ou com bancadas de Estados que têm interesses em comum.
No decorrer da semana, chegou
a surgir um conflito envolvendo
governadores e seus próprios partidos. Caso dos tucanos, que reclamaram da ação da bancada do
PSDB no Senado, que estaria atrapalhando a aprovação da reforma. Aécio Neves (MG) ligou para
senadores, e Lúcio Alcântara (CE)
esteve no Senado.
O Planalto chegou a estimular a
divisão. Mas ela acabou ganhando vida própria, por causa dos interesses distintos dos Estados.
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