|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Filósofo diz haver
burocratização de
novas tecnologias
DA SUCURSAL DO RIO
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Professor-emérito da USP
(Universidade de São Paulo), o filósofo José Arthur
Giannotti acusou ontem o
governo de impedir o desenvolvimento científico-tecnológico do país ao subordiná-lo a interesses políticos.
"É como se fosse decidir se
você terá alta do hospital ou
não através dos votos dos
enfermeiros ou dos pacientes. Há questões técnicas que
não estão sendo levadas em
conta", disse Giannotti, que
foi um dos palestrantes do
primeiro encontro político
entre PPS e PSDB, realizado
ontem no Rio.
Giannotti afirmou que o
governo de Luiz Inácio Lula
da Silva está burocratizando
o acesso a novas tecnologias.
"Por exemplo, não vejo
por que a Embrapa não possa desenvolver pesquisas como um todo para depois ser
avaliada pelo governo e pela
sociedade civil. Ela não precisa ficar pedindo autorização para uma quantidade
enorme de órgãos [do governo] a cada projeto que
desenvolve", afirmou.
Para o filósofo, o PT "partidarizou" a máquina do Estado. "É grave e não sabemos até que ponto isso vai
ocorrer", disse ele.
Segundo Giannotti, no governo, o PT abandonou o
discurso "moralista". "Não
que a ética tenha deixado de
ser importante, mas ela não
é mais uma bandeira de denúncia", disse. Essa transformação petista, segundo
ele, é típica dos partidos que
assumem o poder.
"Precisa-se governar e obviamente para governar é
preciso ter a maior decência
possível, mas isso não significa que o sistema como tal
não vai ter imperfeições,
corrupção e assim por diante. Há graus diferentes e é isso que ocorre. Não sabemos
se o PT, apesar de seu discurso anterior, aumentou ou diminui o grau de moralidade
da máquina pública."
Também palestrante do
encontro, a cientista política
Aspásia Camargo, da FGV
(Fundação Getúlio Vargas),
disse que o Estado brasileiro
vive uma "dislexia operacional grave". "A situação do
Brasil é extremamente tímida, dispersa e fragmentada",
disse a cientista política.
Segundo ela, o Estado patrimonialista ainda sobrevive. "A armadilha do déficit
público está matando o Estado brasileiro. Ele está sofrendo de gangrena, morrendo
aos poucos", afirmou.
Procurada pela Folha após
a palestra, Camargo disse
que suas palavras não se referiam ao governo do PT,
mas a uma situação conjuntural, que remonta "à época
da transição democrática".
Texto Anterior: Para petista, Lula fez discurso sob "emoção" Próximo Texto: Caso Santo André: Escuta revela operação para blindar Lula Índice
|