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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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Filósofo diz haver burocratização de novas tecnologias

DA SUCURSAL DO RIO
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Professor-emérito da USP (Universidade de São Paulo), o filósofo José Arthur Giannotti acusou ontem o governo de impedir o desenvolvimento científico-tecnológico do país ao subordiná-lo a interesses políticos.
"É como se fosse decidir se você terá alta do hospital ou não através dos votos dos enfermeiros ou dos pacientes. Há questões técnicas que não estão sendo levadas em conta", disse Giannotti, que foi um dos palestrantes do primeiro encontro político entre PPS e PSDB, realizado ontem no Rio.
Giannotti afirmou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está burocratizando o acesso a novas tecnologias.
"Por exemplo, não vejo por que a Embrapa não possa desenvolver pesquisas como um todo para depois ser avaliada pelo governo e pela sociedade civil. Ela não precisa ficar pedindo autorização para uma quantidade enorme de órgãos [do governo] a cada projeto que desenvolve", afirmou.
Para o filósofo, o PT "partidarizou" a máquina do Estado. "É grave e não sabemos até que ponto isso vai ocorrer", disse ele.
Segundo Giannotti, no governo, o PT abandonou o discurso "moralista". "Não que a ética tenha deixado de ser importante, mas ela não é mais uma bandeira de denúncia", disse. Essa transformação petista, segundo ele, é típica dos partidos que assumem o poder.
"Precisa-se governar e obviamente para governar é preciso ter a maior decência possível, mas isso não significa que o sistema como tal não vai ter imperfeições, corrupção e assim por diante. Há graus diferentes e é isso que ocorre. Não sabemos se o PT, apesar de seu discurso anterior, aumentou ou diminui o grau de moralidade da máquina pública."
Também palestrante do encontro, a cientista política Aspásia Camargo, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse que o Estado brasileiro vive uma "dislexia operacional grave". "A situação do Brasil é extremamente tímida, dispersa e fragmentada", disse a cientista política.
Segundo ela, o Estado patrimonialista ainda sobrevive. "A armadilha do déficit público está matando o Estado brasileiro. Ele está sofrendo de gangrena, morrendo aos poucos", afirmou.
Procurada pela Folha após a palestra, Camargo disse que suas palavras não se referiam ao governo do PT, mas a uma situação conjuntural, que remonta "à época da transição democrática".


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