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CAMPO MINADO
Em documento, entidade diz que não ignora as dificuldades financeiras enfrentadas pelo país, mas pede mudança
CNBB cobra reforma agrária do governo e teme "explosão social"
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de afirmar que o "governo tem seus próprios momentos", a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) cobrou
ontem reforma agrária no país,
dizendo que ela é "imprescindível
para evitar uma explosão social de
consequências imprevisíveis não
só no meio rural, mas em toda a
sociedade".
No dia seguinte ao jantar oferecido pelo presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP), a cerca
de 80 convidados, a maioria representantes da Igreja Católica, o
Conselho Permanente da CNBB
divulgou uma nota para dizer
que, "por sua gravidade e urgência, a solução da questão agrária
torna-se prioridade, exigindo de
todos compreensão e apoio".
O documento ressalta ainda que
a entidade não ignora as dificuldades financeiras enfrentadas pelo país e está certa de que haverá
uma reforma agrária "justa e pacífica, ampla e profunda".
"[A reforma agrária] pode aliviar simultaneamente grandes
problemas sociais de nosso país,
como o desemprego, o acúmulo
de terras improdutivas, o êxodo
rural e a fome", diz a nota, assinada pelo presidente da CNBB, dom
Geraldo Majella Agnelo, pelo vice-presidente dom Antônio Celso
de Queirós e pelo secretário-geral
dom Odilo Pedro Scherer.
No início de setembro, dom Geraldo já havia dito que os conflitos
sociais no Brasil "formam uma
panela de pressão que está prestes
a explodir". Ele se referia a incidentes que ocorreram em Salvador envolvendo estudantes.
Iniciativa
"Estamos aguardando o governo tomar iniciativa", disse dom
Odilo em entrevista ontem.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que concorda
com o teor da nota e sabe da importância da mobilização da sociedade em favor da reforma
agrária. "E a CNBB é nossa parceira nessa questão", afirmou.
O ministro disse ainda que está
analisando o Plano Nacional de
Reforma Agrária, apresentado
pelo economista Plínio de Arruda
Sampaio, ex-deputado federal petista ligado ao MST. Apesar de
não ter metas definidas, o plano
sugere o assentamento de até 1
milhão de famílias no governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Prato principal
No jantar oferecido por Sarney
para celebrar o jubileu de prata do
pontificado do papa João Paulo
2º, um dos principais temas da
conversa também foi a reforma
agrária. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva esteve na casa do senador, mas chegou após o jantar
porque estava viajando.
"Neste momento, estamos conseguindo colocar a cabeça para
fora d'água. Nós apoiamos o projeto apresentado pelo Plínio de
Arruda Sampaio. Se a reforma
agrária não anda, é porque algo
está impedindo, não é? Temos
que saber o que é", disse no jantar
dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG).
Dom Eusébio Oscar Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro e novo
cardeal brasileiro, afirmou que "o
problema é que o Brasil está muito acoplado à situação financeira
internacional". "Não sei até que
ponto o governo atual pode fazer
alguma coisa." Scheid, no entanto, não responsabiliza o governo
passado. "O problema vem desde
Juscelino Kubitschek", diz.
A CNBB acompanha há anos a
questão agrária no país. Em 1975
foi criada a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que cuida do tema e
faz levantamentos sobre violência
no campo.
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