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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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CAMPO MINADO

Em documento, entidade diz que não ignora as dificuldades financeiras enfrentadas pelo país, mas pede mudança

CNBB cobra reforma agrária do governo e teme "explosão social"

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de afirmar que o "governo tem seus próprios momentos", a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) cobrou ontem reforma agrária no país, dizendo que ela é "imprescindível para evitar uma explosão social de consequências imprevisíveis não só no meio rural, mas em toda a sociedade".
No dia seguinte ao jantar oferecido pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a cerca de 80 convidados, a maioria representantes da Igreja Católica, o Conselho Permanente da CNBB divulgou uma nota para dizer que, "por sua gravidade e urgência, a solução da questão agrária torna-se prioridade, exigindo de todos compreensão e apoio".
O documento ressalta ainda que a entidade não ignora as dificuldades financeiras enfrentadas pelo país e está certa de que haverá uma reforma agrária "justa e pacífica, ampla e profunda".
"[A reforma agrária] pode aliviar simultaneamente grandes problemas sociais de nosso país, como o desemprego, o acúmulo de terras improdutivas, o êxodo rural e a fome", diz a nota, assinada pelo presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, pelo vice-presidente dom Antônio Celso de Queirós e pelo secretário-geral dom Odilo Pedro Scherer.
No início de setembro, dom Geraldo já havia dito que os conflitos sociais no Brasil "formam uma panela de pressão que está prestes a explodir". Ele se referia a incidentes que ocorreram em Salvador envolvendo estudantes.

Iniciativa
"Estamos aguardando o governo tomar iniciativa", disse dom Odilo em entrevista ontem.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que concorda com o teor da nota e sabe da importância da mobilização da sociedade em favor da reforma agrária. "E a CNBB é nossa parceira nessa questão", afirmou.
O ministro disse ainda que está analisando o Plano Nacional de Reforma Agrária, apresentado pelo economista Plínio de Arruda Sampaio, ex-deputado federal petista ligado ao MST. Apesar de não ter metas definidas, o plano sugere o assentamento de até 1 milhão de famílias no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Prato principal
No jantar oferecido por Sarney para celebrar o jubileu de prata do pontificado do papa João Paulo 2º, um dos principais temas da conversa também foi a reforma agrária. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na casa do senador, mas chegou após o jantar porque estava viajando.
"Neste momento, estamos conseguindo colocar a cabeça para fora d'água. Nós apoiamos o projeto apresentado pelo Plínio de Arruda Sampaio. Se a reforma agrária não anda, é porque algo está impedindo, não é? Temos que saber o que é", disse no jantar dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG).
Dom Eusébio Oscar Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro e novo cardeal brasileiro, afirmou que "o problema é que o Brasil está muito acoplado à situação financeira internacional". "Não sei até que ponto o governo atual pode fazer alguma coisa." Scheid, no entanto, não responsabiliza o governo passado. "O problema vem desde Juscelino Kubitschek", diz.
A CNBB acompanha há anos a questão agrária no país. Em 1975 foi criada a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que cuida do tema e faz levantamentos sobre violência no campo.


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