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QUESTÃO AGRÁRIA
MST quer desapropriação de 3,3 mi de ha, ocupados ilegalmente
Sem-terra acampam há 5 meses no Incra em Cuiabá
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) mantém há cinco meses um acampamento com 300 pessoas na frente,
no pátio e no estacionamento do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em
Cuiabá (MT).
São 320 barracas de lona preta.
Nem todas são usadas como casas. Uma delas virou o "barzinho
da reforma agrária", que conta
com freezer ligado graças a "gambiarra" na rede elétrica da rua.
Outras duas barracas, no pátio
onde o Incra guarda seus carros
oficiais, são os banheiros masculino e feminino, só para banho.
Os sem-terra montaram uma
rede de encanamentos que conduz água do Incra aos chuveiros.
"Para fazer nossas necessidades,
temos de nos deslocar para o mato", diz o coordenador do acampamento, Vicente Polibi Marciano, 23, apontando terreno baldio
atrás de muro de cerca de três metros de altura ao lado do Incra.
O acampamento tem até uma
escola, sob barraca de lona, onde
estudam 40 crianças de até oito
anos. Os professores são do MST.
"Estamos aqui há cinco meses
sofrendo em frente ao Incra, que é
o órgão para tomar terra de fazendeiros e fazer a reforma agrária
que nem o presidente Lula põe
em prática", diz Marciano.
O coordenador diz que os
acampados recebem "cestas básicas do Fome Zero [programa do
governo federal]", mas não soube
dizer quantas. "As famílias já assentadas [que receberam terra]
ajudam também."
O MST reivindica que o Incra
retome 3,3 milhões de hectares
em Mato Grosso e use a área na
reforma agrária.
Segundo o Incra, a área, que
corresponde a 22 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, pertence à União, mas está na posse
ilegal de empresários e fazendeiros. O assessor de gabinete do Incra Hudson César Melo, 32, diz
que as terras "foram griladas". "O
MST está com um discurso na legalidade. Ele quer a reforma agrária em um patrimônio que é da
União", afirma Melo.
O MST diz que não há previsão
sobre quanto tempo os sem-terra
continuarão acampados.
O prédio está localizado no CPA
(Centro Político Administrativo)
de Cuiabá, onde fica a sede do governo de Mato Grosso e o Tribunal de Justiça, além de órgãos públicos federais e estaduais.
A superintendência do Incra informou que o acampamento não
atrapalha o trabalho do órgão.
Nos vidros da porta e das janelas na entrada do prédio, o MST
estendeu ao menos quatro faixas,
além de cartazes, com críticas ao
atraso na reforma agrária e ao
presidente Lula.
O movimento anunciou um
"novembro vermelho" com uma
série de manifestações, principalmente passeatas, em Cuiabá.
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