São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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QUESTÃO AGRÁRIA

MST quer desapropriação de 3,3 mi de ha, ocupados ilegalmente

Sem-terra acampam há 5 meses no Incra em Cuiabá

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) mantém há cinco meses um acampamento com 300 pessoas na frente, no pátio e no estacionamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Cuiabá (MT).
São 320 barracas de lona preta. Nem todas são usadas como casas. Uma delas virou o "barzinho da reforma agrária", que conta com freezer ligado graças a "gambiarra" na rede elétrica da rua.
Outras duas barracas, no pátio onde o Incra guarda seus carros oficiais, são os banheiros masculino e feminino, só para banho.
Os sem-terra montaram uma rede de encanamentos que conduz água do Incra aos chuveiros.
"Para fazer nossas necessidades, temos de nos deslocar para o mato", diz o coordenador do acampamento, Vicente Polibi Marciano, 23, apontando terreno baldio atrás de muro de cerca de três metros de altura ao lado do Incra.
O acampamento tem até uma escola, sob barraca de lona, onde estudam 40 crianças de até oito anos. Os professores são do MST.
"Estamos aqui há cinco meses sofrendo em frente ao Incra, que é o órgão para tomar terra de fazendeiros e fazer a reforma agrária que nem o presidente Lula põe em prática", diz Marciano.
O coordenador diz que os acampados recebem "cestas básicas do Fome Zero [programa do governo federal]", mas não soube dizer quantas. "As famílias já assentadas [que receberam terra] ajudam também."
O MST reivindica que o Incra retome 3,3 milhões de hectares em Mato Grosso e use a área na reforma agrária.
Segundo o Incra, a área, que corresponde a 22 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, pertence à União, mas está na posse ilegal de empresários e fazendeiros. O assessor de gabinete do Incra Hudson César Melo, 32, diz que as terras "foram griladas". "O MST está com um discurso na legalidade. Ele quer a reforma agrária em um patrimônio que é da União", afirma Melo.
O MST diz que não há previsão sobre quanto tempo os sem-terra continuarão acampados.
O prédio está localizado no CPA (Centro Político Administrativo) de Cuiabá, onde fica a sede do governo de Mato Grosso e o Tribunal de Justiça, além de órgãos públicos federais e estaduais.
A superintendência do Incra informou que o acampamento não atrapalha o trabalho do órgão.
Nos vidros da porta e das janelas na entrada do prédio, o MST estendeu ao menos quatro faixas, além de cartazes, com críticas ao atraso na reforma agrária e ao presidente Lula.
O movimento anunciou um "novembro vermelho" com uma série de manifestações, principalmente passeatas, em Cuiabá.


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