DO ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que os "deputados de responsabilidade" devem aprovar o aumento do salário mínimo, de R$ 151 para R$ 180, sob pena de serem "mal vistos pela população".
"Nós fizemos um grande esforço para chegar a um resultado positivo e todos comemoramos o fato de encontrarmos recursos para aumentar o salário mínimo", disse FHC, ao desembarcar ontem na Cidade do México, onde participará da posse do novo presidente, Vicente Fox Quesada.
Segundo FHC, a disputa pela presidência da Câmara e do Senado e a briga entre os partidos aliados ao governo não devem atrapalhar a votação do aumento.
"Eu não acho que se decida uma coisa dessa natureza contra o que todo o país deseja. E o país não está preocupado, naturalmente, com eleição de mesa da Câmara. Eu é que estou", disse o presidente, dando um recado aos principais líderes de sua base, que ainda não se entenderam sobre a sucessão no comando das Casas.
"O Congresso tem de seguir o caminho do país e não de suas disputas internas", disse FHC, que chegou acompanhado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), um dos nomes citados na disputa pela presidência do Senado.
Sarney evitou a imprensa. E FHC encerrou a rápida entrevista ao ser questionado se havia conversado com Sarney durante o vôo sobre a sucessão nas Mesas. "Sobre Mesa? Estou fazendo dieta. Só (como) fruta", disse, ensaiando um trocadilho.
O presidente, contudo, sabe que o tema continua sendo indigesto, devido à dificuldade em garantir fontes de financiamento. Dois dias após anunciar o acordo para a elevação do piso, não param de surgir dificuldades.
A primeira delas é que o STF (Supremo Tribunal Federal) deverá declarar inconstitucional a autorização para que a Receita Federal tenha acesso aos dados bancários dos contribuintes.
Se confirmar essa tendência, a Justiça, indiretamente, reduzirá em R$ 1,2 bilhão os recursos destinados ao aumento do mínimo. Esse valor, segundo o governo, representaria o aumento de arrecadação tributária resultante do combate à sonegação fiscal, que seria mais eficiente com a quebra do sigilo bancário para o Fisco.
Além disso, o reajuste do salário mínimo promete causar demissões nas prefeituras mais pobres do país, segundo a CNM (Confederação Nacional de Municípios). A entidade estima que o aumento do piso vai significar um incremento de R$ 400 milhões por ano nas despesas dos municípios.

Acidente
O avião da TAM que trouxe FHC e sua comitiva ao México envolveu-se num pequeno acidente ao taxiar na base aérea da capital.
Uma das turbinas do avião aproximou-se de um galpão e fez voar meia dúzia de placas. O incidente não teve consequências.
FHC falou à imprensa mexicana, elogiando a "expectativa positiva" sobre "um país renovado, onde a democracia está estabelecida e o desenvolvimento econômico é bastante forte". Segundo ele, "Fox deixou bem clara sua intenção de aproximação com o Brasil". WLADIMIR GRAMACHO

Texto Anterior: Para Everardo, projeto respeita Constituição
Próximo Texto: FHC quer Lampreia até fim de mandato
Índice