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PMDB formaliza seu apoio a Lula, mas já faz "ameaças"
Renan Calheiros diz que agora "cabe ao presidente integrar o partido ao governo"
Presidente reconhece que errou ao rejeitar acordo com o PMDB em 2002; partido, que hoje tem 3 pastas, quer dobrar a sua participação
Lula Marques / Folha Imagem
![](../images/n0112200601.jpg) |
Orestes Quércia, José Sarney, Michel Temer, Eunício Oliveira e Renan Calheiros (dir.) na reunião |
KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa manifestação de consenso inédita desde 1985, quando apresentou ao Colégio Eleitoral do Congresso a candidatura de Tancredo Neves a presidente, o PMDB oficializou ontem em reunião do Conselho
Político o apoio ao governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Aprovada a coalizão, o presidente do PMDB, Michel Temer
(SP), telefonou para o ministro
Tarso Genro (Relações Institucionais). Tarso informou Lula e
marcaria audiência do presidente com Temer, provavelmente ainda hoje.
A única dissidência explícita
foi do senador eleito Jarbas
Vasconcelos e de sua seção partidária, Pernambuco. O diretório do Acre se absteve na votação por aclamação do apoio a
Lula. Agora, abre-se a fase de
negociação explícita de cargos.
"Aprovada a coalizão, cabe ao
presidente integrar o partido
ao governo", disse o presidente
do Senado, Renan Calheiros
(AL), da ala que apóia Lula desde 2003. "A questão dos cargos
é uma simples expectativa",
afirmou Temer, do grupo neolulista.
A cota do PMDB no governo
é de três ministérios, apesar de
o partido nunca tê-lo apoiado
institucionalmente. Em dezembro de 2002, Lula rejeitou
a aliança oficial selada ontem,
quando desautorizou o então
articulador político, futuro ministro José Dirceu, a dar duas
pastas ao partido. Desde então,
fez negociações pontuais com a
sigla, sempre privilegiando a
ala capitaneada por Renan e
pelo senador José Sarney (AP).
Em conversas reservadas,
Lula admite que errou em
2002. Com apenas uma parte
do PMDB, não teve maioria sólida no Congresso -capaz, por
exemplo, de evitar as CPIs que
deram eco político ao escândalo do mensalão. "Se tiver juízo e
souber compor com todas as
alas, o governo terá uma base
sólida e evitará os graves erros
do primeiro mandato", disse o
deputado federal Geddel Vieira
Lima (BA), do grupo neolulista.
A quase unidade peemedebista é uma novidade política.
"União assim só para apoiar o
Tancredo contra a ditadura militar. A favor de um governo,
nunca tivemos um grau tão alto
de unidade", disse o deputado
federal Henrique Eduardo Alves (RN), decano da Câmara.
Divisão
Em 1989, Ulysses Guimarães
foi cristianizado como candidato a Presidente. O mesmo se
deu com o ex-governador Orestes Quércia no pleito presidencial seguinte (1994). Em seus
oito anos de poder (1995-2002), o tucano Fernando
Henrique Cardoso obteve entre 60% e 70% de adesão das
bancadas parlamentares. Lula
conseguiu entre 40% e 50%.
A partir de ontem, abre-se a
perspectiva de um apoio quase
unânime. Exemplo: o senador
Pedro Simon (RS) se disse independente, mas afirmou que
torceria para que o governo
apresentasse projetos que pudessem receber o seu voto. O
PMDB tem uma bancada atual
de 18 senadores. Na Câmara,
serão 84 deputados federais a
partir de fevereiro.
A "unidade" peemedebista
passará em breve pelo primeiro
teste: a partilha de cargos. O
PMDB tem hoje os ministérios
das Comunicações, Saúde e Minas e Energia. Deseja aumentar
a cota para seis pastas, algo que
Lula relutará em dar. Nos bastidores, avalia-se que o partido
deverá ter quatro pastas. A discussão sobre as presidências da
Câmara e do Senado também
entrará nessa negociação.
Jarbas, único a manifestar
claramente que considera a
adesão um equívoco, previu
que a "unidade" não dura nem
um semestre. "Acho que essa
coalizão pró-Lula não dura
muito. (...) Aqueles que forem
para o governo em busca de espaço vão ver que o espaço não
vai dar para todo mundo."
Minimizando a pecha fisiológica do PMDB, Temer disse que
a coalizão se dará com base em
sete propostas de governo feitas por Lula: "Nosso compromisso é com esses princípios
programáticos. Se forem adiante, nosso compromisso prosseguirá. Se não forem, vamos ouvir o partido e ver o que fazer".
Os discursos insistiram na tese
de coalizão governamental, e
não eleitoral, o que abriria espaço ao lançamento de um candidato à Presidência em 2010
-o partido não disputou o cargo em 1998, 2002 e 2006.
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