São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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PMDB formaliza seu apoio a Lula, mas já faz "ameaças"

Renan Calheiros diz que agora "cabe ao presidente integrar o partido ao governo"

Presidente reconhece que errou ao rejeitar acordo com o PMDB em 2002; partido, que hoje tem 3 pastas, quer dobrar a sua participação


Lula Marques / Folha Imagem
Orestes Quércia, José Sarney, Michel Temer, Eunício Oliveira e Renan Calheiros (dir.) na reunião


KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa manifestação de consenso inédita desde 1985, quando apresentou ao Colégio Eleitoral do Congresso a candidatura de Tancredo Neves a presidente, o PMDB oficializou ontem em reunião do Conselho Político o apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Aprovada a coalizão, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), telefonou para o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais). Tarso informou Lula e marcaria audiência do presidente com Temer, provavelmente ainda hoje.
A única dissidência explícita foi do senador eleito Jarbas Vasconcelos e de sua seção partidária, Pernambuco. O diretório do Acre se absteve na votação por aclamação do apoio a Lula. Agora, abre-se a fase de negociação explícita de cargos.
"Aprovada a coalizão, cabe ao presidente integrar o partido ao governo", disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), da ala que apóia Lula desde 2003. "A questão dos cargos é uma simples expectativa", afirmou Temer, do grupo neolulista.
A cota do PMDB no governo é de três ministérios, apesar de o partido nunca tê-lo apoiado institucionalmente. Em dezembro de 2002, Lula rejeitou a aliança oficial selada ontem, quando desautorizou o então articulador político, futuro ministro José Dirceu, a dar duas pastas ao partido. Desde então, fez negociações pontuais com a sigla, sempre privilegiando a ala capitaneada por Renan e pelo senador José Sarney (AP).
Em conversas reservadas, Lula admite que errou em 2002. Com apenas uma parte do PMDB, não teve maioria sólida no Congresso -capaz, por exemplo, de evitar as CPIs que deram eco político ao escândalo do mensalão. "Se tiver juízo e souber compor com todas as alas, o governo terá uma base sólida e evitará os graves erros do primeiro mandato", disse o deputado federal Geddel Vieira Lima (BA), do grupo neolulista.
A quase unidade peemedebista é uma novidade política. "União assim só para apoiar o Tancredo contra a ditadura militar. A favor de um governo, nunca tivemos um grau tão alto de unidade", disse o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN), decano da Câmara.

Divisão
Em 1989, Ulysses Guimarães foi cristianizado como candidato a Presidente. O mesmo se deu com o ex-governador Orestes Quércia no pleito presidencial seguinte (1994). Em seus oito anos de poder (1995-2002), o tucano Fernando Henrique Cardoso obteve entre 60% e 70% de adesão das bancadas parlamentares. Lula conseguiu entre 40% e 50%.
A partir de ontem, abre-se a perspectiva de um apoio quase unânime. Exemplo: o senador Pedro Simon (RS) se disse independente, mas afirmou que torceria para que o governo apresentasse projetos que pudessem receber o seu voto. O PMDB tem uma bancada atual de 18 senadores. Na Câmara, serão 84 deputados federais a partir de fevereiro.
A "unidade" peemedebista passará em breve pelo primeiro teste: a partilha de cargos. O PMDB tem hoje os ministérios das Comunicações, Saúde e Minas e Energia. Deseja aumentar a cota para seis pastas, algo que Lula relutará em dar. Nos bastidores, avalia-se que o partido deverá ter quatro pastas. A discussão sobre as presidências da Câmara e do Senado também entrará nessa negociação.
Jarbas, único a manifestar claramente que considera a adesão um equívoco, previu que a "unidade" não dura nem um semestre. "Acho que essa coalizão pró-Lula não dura muito. (...) Aqueles que forem para o governo em busca de espaço vão ver que o espaço não vai dar para todo mundo."
Minimizando a pecha fisiológica do PMDB, Temer disse que a coalizão se dará com base em sete propostas de governo feitas por Lula: "Nosso compromisso é com esses princípios programáticos. Se forem adiante, nosso compromisso prosseguirá. Se não forem, vamos ouvir o partido e ver o que fazer". Os discursos insistiram na tese de coalizão governamental, e não eleitoral, o que abriria espaço ao lançamento de um candidato à Presidência em 2010 -o partido não disputou o cargo em 1998, 2002 e 2006.


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