São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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QUESTÃO INDÍGENA

Polícia Federal encontra cinco focos de extração de madeira; novo levantamento será feito por terra

PF vê sinais de desmatamento na reserva

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARECHAL THAUMATURGO (AC)

A Polícia Federal encontrou evidências de que madeireiros peruanos estão atuando em território brasileiro, no oeste do Acre, o que havia sido denunciado há dez dias pelos índios ashaninkas que vivem na região do Alto Juruá.
Anteontem, agentes da PF sobrevoaram a região da floresta amazônica na fronteira do Brasil com o Peru e encontraram cinco focos de desmatamento na área.
Mas como os aparelhos de GPS (sigla em inglês de Sistema de Posicionamento Global) usados nos dois helicópteros da Força Aérea Brasileira não têm precisão suficiente quando operados do ar, não foi possível determinar se a extração de madeira está ocorrendo em solo peruano ou na terra indígena Kampa do rio Amônia.
Por isso, até o final desta semana, um grupo formado por policiais federais e representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Guarda Florestal do Estado será novamente enviado à região.
A nova fase da Operação Ashaninka será feita por terra, deverá durar no mínimo duas semanas e terá como prioridade a localização das áreas exploradas pelos madeireiros. As árvores mais procuradas são o cedro e o mogno.
Uma equipe do Exército também poderá ser acionada, caso seja necessária nova demarcação da fronteira entre os dois países. Segundo a Funai do Acre, apenas um marco é utilizado hoje como referência de divisa na região.
Hoje de manhã haverá uma reunião na sede do Instituto do Meio Ambiente do Acre para definir as estratégias da operação terrestre. "Tenho certeza de que as clareiras estão no Brasil e dentro da reserva indígena dos ashaninkas", disse o administrador da Funai do Acre, Antonio Pereira Neto. Segundo ele, a operação terrestre vai apenas confirmar que realmente houve uma invasão ao território indígena Kampa do rio Amônia.
Em decreto de 22 de novembro de 1992, o presidente Itamar Franco oficializou a terra indígena Kampa do rio Amônia com uma área de 87,2 mil hectares e um perímetro de 158,9 quilômetros.
A Agência Folha tentou falar ontem com o superintendente da PF no Acre, Ney Ferreira de Souza, para obter mais detalhes sobre a operação, mas não o localizou.
Anteontem, depois que os helicópteros da FAB pousaram na aldeia Apiwtxa, Moisés Pianko, um dos filhos de Antonio Pianko, líder dos ashaninkas, disse aos policiais que, "se em pouco tempo não houver uma solução pacífica para o caso, os índios vão se armar e partir para a guerra".
"Nós estamos preparados para defender a nossa tribo. Queremos que tudo seja resolvido de forma pacífica, mas se a natureza estiver em risco e nada for feito, nós vamos matar e morrer lutando pelo nosso povo", disse Moisés.
O delegado da PF responsável pela operação, Pedro Luís Novaes Santos, disse aos demais índios que "tudo será feito e resolvido com paz e tranquilidade".


O repórter EDUARDO SCOLESE viajou ao Acre a convite da Polícia Federal



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