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Estrada preocupa os ashaninkas
DA AGÊNCIA FOLHA, EM
MARECHAL THAUMATURGO (AC)
A principal preocupação dos índios ashaninkas atualmente é
com o impacto ambiental resultante da construção de uma estrada em território peruano, próxima à terra indígena Kampa do rio
Amônia, no oeste do Acre.
Para eles, a invasão de peruanos
em seu território é uma questão
que deve ser resolvida pelos governos dos dois países, e não pelos
próprios índios.
De acordo com o líder dos ashaninkas do Alto Juruá, Antonio
Pianko, 58, a chegada da civilização às nascentes dos rios que deságuam no Brasil poderá comprometer o principal meio de
subsistência dos índios e dos seringueiros na região de Marechal
Thaumaturgo (AC).
"Nós dependemos do rio Amônia (que nasce no Peru) para sobreviver. Nossa caça também precisa do rio para se reproduzir.
Não queremos que a poluição
chegue à nossa tribo por meio das
águas", disse Pianko à Agência
Folha, na aldeia Apiwtxa (a quatro horas de barco de Marechal
Thaumaturgo).
As aldeias ashaninkas na região
estão distribuídas nas margens
dos rios Amônia, Breu, Primavera, Envira e Tarauacá. Além de
animais, frutas, verduras e legumes, eles se alimentam de 57 espécies de peixes dos rios da região.
Segundo o cacique Pianko, ashaninkas que vivem no Peru estão
trabalhando para os madeireiros
em troca de dinheiro, sem se
preocupar com o impacto ambiental que isso poderá causar.
"Estamos preocupados com a
natureza e com os limites da nossa terra. A respeito da invasão dos
peruanos no Brasil, as autoridades do país é que deveriam estar
indignadas, e não a nossa aldeia.
Em primeiro lugar, nós somos ashaninkas, depois brasileiros."
A aldeia do Amônia, que está
em conflito com madeireiros peruanos, está dividida em duas comunidades no município de Marechal Thaumaturgo -a principal conta com pelo menos 300 integrantes e, a outra, com 50.
Os líderes indígenas estão preocupados com a divisão entre os
próprios índios. Parte dos ashaninkas é favorável à exploração de
madeiras nobres na região, como
mogno e cedro, para poder trabalhar e receber remuneração como
mão-de-obra contratada pelos
peruanos. A outra parte dos índios, incluindo os líderes, teme
que, em troca de dinheiro, a tribo
perca a identidade e a cultura.
No Brasil, os ashaninkas vivem
na região do Alto Juruá, no oeste
do Acre. Eles surgiram no Peru na
época do nascimento da civilização inca, no século 12, e parte deles veio ao Brasil, no final do século 19, para trabalhar nos seringais.
No Peru, eles são conhecidos
por kampa. No Brasil, os acreanos
os identificam por kamparia. Pelo
menos 70 mil ashaninkas vivem
hoje no Peru e 1.500 no Brasil.
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