São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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Estrada preocupa os ashaninkas

DA AGÊNCIA FOLHA, EM

MARECHAL THAUMATURGO (AC)

A principal preocupação dos índios ashaninkas atualmente é com o impacto ambiental resultante da construção de uma estrada em território peruano, próxima à terra indígena Kampa do rio Amônia, no oeste do Acre.
Para eles, a invasão de peruanos em seu território é uma questão que deve ser resolvida pelos governos dos dois países, e não pelos próprios índios.
De acordo com o líder dos ashaninkas do Alto Juruá, Antonio Pianko, 58, a chegada da civilização às nascentes dos rios que deságuam no Brasil poderá comprometer o principal meio de subsistência dos índios e dos seringueiros na região de Marechal Thaumaturgo (AC).
"Nós dependemos do rio Amônia (que nasce no Peru) para sobreviver. Nossa caça também precisa do rio para se reproduzir. Não queremos que a poluição chegue à nossa tribo por meio das águas", disse Pianko à Agência Folha, na aldeia Apiwtxa (a quatro horas de barco de Marechal Thaumaturgo).
As aldeias ashaninkas na região estão distribuídas nas margens dos rios Amônia, Breu, Primavera, Envira e Tarauacá. Além de animais, frutas, verduras e legumes, eles se alimentam de 57 espécies de peixes dos rios da região.
Segundo o cacique Pianko, ashaninkas que vivem no Peru estão trabalhando para os madeireiros em troca de dinheiro, sem se preocupar com o impacto ambiental que isso poderá causar.
"Estamos preocupados com a natureza e com os limites da nossa terra. A respeito da invasão dos peruanos no Brasil, as autoridades do país é que deveriam estar indignadas, e não a nossa aldeia. Em primeiro lugar, nós somos ashaninkas, depois brasileiros."
A aldeia do Amônia, que está em conflito com madeireiros peruanos, está dividida em duas comunidades no município de Marechal Thaumaturgo -a principal conta com pelo menos 300 integrantes e, a outra, com 50.
Os líderes indígenas estão preocupados com a divisão entre os próprios índios. Parte dos ashaninkas é favorável à exploração de madeiras nobres na região, como mogno e cedro, para poder trabalhar e receber remuneração como mão-de-obra contratada pelos peruanos. A outra parte dos índios, incluindo os líderes, teme que, em troca de dinheiro, a tribo perca a identidade e a cultura.
No Brasil, os ashaninkas vivem na região do Alto Juruá, no oeste do Acre. Eles surgiram no Peru na época do nascimento da civilização inca, no século 12, e parte deles veio ao Brasil, no final do século 19, para trabalhar nos seringais.
No Peru, eles são conhecidos por kampa. No Brasil, os acreanos os identificam por kamparia. Pelo menos 70 mil ashaninkas vivem hoje no Peru e 1.500 no Brasil.



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