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MÔNICA BERGAMO E DANUZA LEÃO
Surpresas, "incluídos" e "excluídos" no Réveillon do presidente
MÔNICA BERGAMO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O Réveillon do vice-presidente José de Alencar, que
parecia ser um dos mais familiares e discretos de Brasília (só dois
ministros, Celso Amorin, das Relações Exteriores, e Anderson
Adauto, dos Transportes, foram à
festa), acabou se tornando a grande celebração da virada do ano.
Lula surpreendeu. Contrariando as expectativas de alguns dos
principais ministros de seu governo, de assessores e até de seus irmãos e sobrinhos, que o aguardavam ansiosamente no hotel Blue
Tree, no Lago Sul, para brindar o
nascimento de 2003, o presidente
elegeu Alencar para estar a seu lado à meia-noite.
Eram 23h30 quando Lula apareceu no restaurante Belle Époque,
no Hotel Nacional, com Marisa. A
primeira-dama impressionou os
convidados: vestia camisa branca,
bordada com fios de ouro -presente de seu estilista, Walter Rodrigues-, e brincos idem, de ouro. Os cabelos, "by" Wanderley
Nunes, estavam impecáveis. Nunes viajou de SP a Brasília só para
penteá-la e lá teve à disposição
um carro do corpo diplomático.
A notícia de que Lula e Marisa
iriam à festa surpreendeu o casal
Alencar -José e sua mulher, que
também se chama Mariza. Eles
haviam preparado uma celebração para 119 convidados -a
maioria hospedada no próprio
hotel, com tudo pago por Alencar.
Lula se juntou à mesa principal,
com o vice e os dois ministros.
Faltavam cinco minutos para à 0h
quando o presidente se levantou
para discursar. "Devo essa vitória
ao caráter e ao companheirismo
do Zé Alencar", disse. E, dirigindo-se ao vice: "Sem você, eu não
teria ganhado essa eleição. Foi o
encontro de duas trajetórias pelo
bem do Brasil. Não vamos decepcionar o país". No primeiro brinde de 2003, sua "flûte" de champanhe -Chandon nacional- foi
erguida ao lado da de Alencar.
Muitos dos convidados do vice
choraram. O próprio Alencar segurou as lágrimas. Em um discurso, disse, emocionado, que a campanha, em que viu pobreza e
"pessoas morando em palafitas",
abriu seus olhos.
Na mesa, os afagos continuaram. Lula falou o tempo todo "sobre esse grande amor que os une",
segundo Mariza, a do Alencar.
A ceia foi preparada no hotel,
pelo cozinheiro Karl Marx, 32:
cordeiro ao molho de funghi seco,
cassarola de frutos do mar e filé ao
molho de champanhe. O vinho,
como o champanhe, era nacional:
Miolo. Foram servidas 56 garrafas
de Chandon, oito de uísque White
Horse e oito de Red Label.
Como a Marisa mulher de Lula,
a Mariza vice-primeira-dama,
mulher do vice Alencar, também
estava de branco -só que tudo
nela era mais simples: a roupa não
era de grife e não havia lugar para
jóias, usadas pela Marisa do Lula.
É que, há mais de 40 anos, a vice-primeira-dama fez uma promessa: caso o marido superasse
problemas pessoais, ela nunca
mais usaria jóias. Mariza só usa
aliança de casamento e relógio.
Enquanto isso, no hotel Blue
Tree, no Lago Sul, o clima era de
alegria -e de expectativa: será
que o Lula vem?
A saia justa também foi total: a
festa, organizada pelo PT para a
família de Lula, tinha uma lista de
"incluídos", com ministros e amigos mais íntimos, e outra de "excluídos". Os menos amigos, ou
assim considerados pelos organizadores, tinham que se contentar
com um jantar no restaurante vizinho -onde se abarrotava a imprensa.
A lista dos "incluídos" era estrelada por Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Luiz Furlan
(Desenvolvimento), e Gilberto Gil
(Cultura). Tinha velhos amigos,
como o advogado Roberto Teixeira (que ficou conhecido por emprestar uma casa, em São Bernardo do Campo, para Lula morar).
E novos amigos, como o marqueteiro Duda Mendonça. Havia
também personalidades, como o
fotógrafo Sebastião Salgado, e
médicos de Lula: estavam Roberto Kalil, com a mulher, Fernanda,
a pediatra dos filhos do presidente, e até o dentista da família.
Na lista dos "excluídos" estava o
deputado Roberto Freire, por
exemplo. Na porta do hotel, ele se
encontrou com vários ministros.
Não estava na lista dos "vips" do
PT e se acomodou no restaurante
vizinho. Para surpresa de muitos,
o ator Sérgio Mamberti e Lélia
Abramo ficaram do lado de fora.
A maior parte dos "vips" estava
bem descontraída: Frei Chico, irmão de Lula, usava sandálias de
couro; Aloizio Mercadante, muito
apropriado, estava de camisa de
mangas curtas, como Gil.
Lula deixou a festa de Alencar
por volta de 0h30. A comitiva seguiu em direção à Esplanada dos
Ministérios, onde o comboio presidencial entrou na contramão,
devido ao grande número de pessoas nas ruas.
No Blue Tree, Lula se encontrou
com os filhos e sobrinhos -Larissa, de 11 anos, a sobrinha caçula, filha de Frei Chico, era a estrela-mirim da festa. O presidente
elegeu Palocci e a mulher, Margareth, para cearem ao seu lado. Foi
servida lentilha com arroz, penne
com alcaparras, ragu de trigo sarraceno com vitela e tender.
O ainda presidente eleito não
escapou da romaria de autógrafos. Passou boa parte do tempo na
festa assinando em guardanapos
e pedaços de papel.
Colaboraram IURI DANTAS e HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília
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