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Uma inacreditável festa na inacreditável Brasília
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Na noite do Réveillon, em
Brasília, teve de tudo, e
apesar de a ""alta sociedade" ter
saído da cidade -já que não ia
ter festa de posse, ficar para
quê?- outros grupos permaneceram e abriram suas mansões para festas i-na-cre-di-tá-veis. Uma delas, produzida pelo assessor de emergente (sim,
essa profissão existe) Alexandre Ferreira, vai ficar na história. Na minha, pelo menos.
Para começar, Alexandre.
Assim como algumas crianças
almejam ser médicos, arquitetos ou engenheiros, ele teve
sempre uma única ambição na
vida: ser colunista social. A vocação era tão forte que, quando
ia ao açougue comprar carne
moída para a mãe, pedia ao
açougueiro que embrulhasse a
mercadoria nas páginas das colunas sociais.
Aos 23, Alexandre chegou lá,
oh glória, e a noite do 31 -que
homenageou Vera Loyola,
convidada especial do presidente Lula- foi em casa do casal Sonia e José Caboclo Lima,
do ramo da construção civil, e
organizada por ele de ponta a
ponta.
Para começar, a decoração:
entre uma árvore de Natal que
piscou a noite inteira, diversos
arranjos natalinos, presépio,
relógios de pêndulo e dezenas
de arranjos de lisianto, destacavam-se as mesas em volta da
piscina, cobertas por redes arrastão em prata, tendo no centro alegorias de plumas brancas; sobre o piso da casa, em
vários níveis e em diversos tipos de mármore -tapetes e tapetes persas nem tão persas assim.
O clima era a léguas de distância da posse de Lula, e quando alguém perguntou "esta é
uma festa petista?", a resposta
veio logo, de um dos cabeleireiros presentes (que eram muitos, alguns acompanhados de
suas respectivas mães): "Eu
não era, mas agora que virou
chique eu sou, né?"
Havia na festa muitos corretores de imóveis, a famosa
Moema Leão, sogra de Nelson
Piquet e dona da mansão alugada por Duda Mendonça,
uma poetisa paraibana e várias
jovens senhoras que haviam
feito o curso de jornalismo mas
que nunca exerceram a profissão; em compensação, tinham
os narizes bem feitíssimos.
Desnecessário dizer que elas
usavam longo; quanto a eles, a
maioria calçava sapatos brancos. A grande extravagância
correu por conta de Carlinhos
Beauty, cuja camisa de lamê
prateado combinava à perfeição com sua maquiagem, ai ai.
Os pratos e copos tinham a
borda de ouro, e o som misturava de "Diana", "Estúpido
Cupido", "Banho de Lua" a
"Carinhoso". Uma coisa.
Nos jardins da casa, uma família de três tartarugas de granito: a mãe, o pai e a filha, e, enquanto os convidados se despediam, um outro cabeleireiro
-mais um- contorcido em
dúvidas, perguntava a quem
passava: "Ligo pra ele ou não?"
Tudo isso aconteceu em Brasília, na inacreditável Brasília.
(DANUZA LEÃO)
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