São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma inacreditável festa na inacreditável Brasília

ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Na noite do Réveillon, em Brasília, teve de tudo, e apesar de a ""alta sociedade" ter saído da cidade -já que não ia ter festa de posse, ficar para quê?- outros grupos permaneceram e abriram suas mansões para festas i-na-cre-di-tá-veis. Uma delas, produzida pelo assessor de emergente (sim, essa profissão existe) Alexandre Ferreira, vai ficar na história. Na minha, pelo menos.
Para começar, Alexandre. Assim como algumas crianças almejam ser médicos, arquitetos ou engenheiros, ele teve sempre uma única ambição na vida: ser colunista social. A vocação era tão forte que, quando ia ao açougue comprar carne moída para a mãe, pedia ao açougueiro que embrulhasse a mercadoria nas páginas das colunas sociais.
Aos 23, Alexandre chegou lá, oh glória, e a noite do 31 -que homenageou Vera Loyola, convidada especial do presidente Lula- foi em casa do casal Sonia e José Caboclo Lima, do ramo da construção civil, e organizada por ele de ponta a ponta.
Para começar, a decoração: entre uma árvore de Natal que piscou a noite inteira, diversos arranjos natalinos, presépio, relógios de pêndulo e dezenas de arranjos de lisianto, destacavam-se as mesas em volta da piscina, cobertas por redes arrastão em prata, tendo no centro alegorias de plumas brancas; sobre o piso da casa, em vários níveis e em diversos tipos de mármore -tapetes e tapetes persas nem tão persas assim.
O clima era a léguas de distância da posse de Lula, e quando alguém perguntou "esta é uma festa petista?", a resposta veio logo, de um dos cabeleireiros presentes (que eram muitos, alguns acompanhados de suas respectivas mães): "Eu não era, mas agora que virou chique eu sou, né?"
Havia na festa muitos corretores de imóveis, a famosa Moema Leão, sogra de Nelson Piquet e dona da mansão alugada por Duda Mendonça, uma poetisa paraibana e várias jovens senhoras que haviam feito o curso de jornalismo mas que nunca exerceram a profissão; em compensação, tinham os narizes bem feitíssimos.
Desnecessário dizer que elas usavam longo; quanto a eles, a maioria calçava sapatos brancos. A grande extravagância correu por conta de Carlinhos Beauty, cuja camisa de lamê prateado combinava à perfeição com sua maquiagem, ai ai. Os pratos e copos tinham a borda de ouro, e o som misturava de "Diana", "Estúpido Cupido", "Banho de Lua" a "Carinhoso". Uma coisa.
Nos jardins da casa, uma família de três tartarugas de granito: a mãe, o pai e a filha, e, enquanto os convidados se despediam, um outro cabeleireiro -mais um- contorcido em dúvidas, perguntava a quem passava: "Ligo pra ele ou não?"
Tudo isso aconteceu em Brasília, na inacreditável Brasília.
(DANUZA LEÃO)


Texto Anterior: Mônica Bergamo e Danuza Leão
Próximo Texto: Discurso no congresso: 'É preciso controlar ansiedades sociais'
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.