São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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RIO DE JANEIRO

Em um discurso duro, governadora afirma que, com antecessora, Estado "faliu"; Lula também é alvo de críticas

Rosinha ataca PT e ameaça oposição

MURILO FIUZA DE MELO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PSB), assumiu ontem criticando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua antecessora, Benedita da Silva (PT), a quem acusou ter falido o Estado. Ela deu a entender que poderá ir para a oposição caso Lula não atenda um dos principais pleitos de seu governo: a construção de uma refinaria no Norte fluminense.
"Não faço oposição por fazer, porque tenho princípios e ideais. A única coisa que pedi a ele [Lula" é que não discrimine o Rio de Janeiro da forma como vem sendo discriminado", afirmou Rosinha.
A governadora lamentou ainda a indicação do ex-senador José Eduardo Dutra (PT-SE) para a presidência da Petrobras.
"Não indicamos nenhum nome para a Petrobras. Sugerimos que ele [Lula" indicasse alguém, a critério dele, que fosse do Rio de Janeiro, até porque nós temos aqui 80% da produção nacional de petróleo e foi aqui que ele teve a votação mais expressiva de todos os Estados", disse a governadora.
Mais cedo, no discurso de posse na Assembléia Legislativa, Rosinha fez um duro ataque a Benedita. Segundo ela, a gestão da petista, ao qual se referiu como "governo interino", "fracassou".
"As obras foram paralisadas, a merenda escolar acabou, os hospitais fecharam por falta de medicamento e pagamento aos fornecedores. Houve piora na qualidade da comida de alguns restaurantes populares, jovens ficaram desamparados e a segurança pública perdeu o controle. O Cheque-Cidadão não é entregue há três meses às famílias carentes. O Estado parou, faliu", discursou.
Segundo a governadora, Benedita só deixou R$ 20 milhões em caixa para pagar a folha de dezembro dos funcionários, que é de R$ 655 milhões ao mês.

"Moratória sigilosa"
Ela anunciou um pacote de medidas de contenção de gastos, incluindo a suspensão, por 60 dias, do pagamento dos fornecedores e prestadores de serviços.
Rosinha chamou de "moratória sigilosa" um suposto débito "superior a R$ 300 milhões" que Benedita teria deixado, referente ao não-pagamento do serviço da dívida com a União.
Rosinha irá hoje a Brasília para a posse do ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, indicado pelo PSB. Ela tentará marcar uma audiência com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para tratar do problema.
"Foi o governo do PT que deixou de pagar [a dívida com a União", então creio que o governo do Lula terá interesse também em resolver [o problema", porque vai ser bom para todo mundo."
A assessora Salete Lisboa disse ontem que Benedita não comentaria as críticas de Rosinha porque viajara para Brasília.
Rosinha recebeu o cargo de Benedita numa cerimônia simbólica, antes de ser empossada na Assembléia. Benedita pediu a antecipação da transmissão, alegando que teria que ir a Brasília para a posse de Lula. O ato foi fechado e durou dez minutos. Na saída, elas se beijaram. Em seguida, no plenário, Rosinha atacou a petista.
Depois da cerimônia, Rosinha seguiu para o Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, onde empossou os secretários, sempre acompanhada do marido, o ex-governador Anthony Garotinho.
A cerimônia acabou em ritmo gospel, com shows de cantores evangélicos e de Elymar Santos, amigo do casal. Rosinha cantou com ele as músicas "Jesus Cristo", de Roberto e Erasmo Carlos, "Poxa", de Gilson de Souza, e "O que é o que é", de Gonzaguinha.
Em outra música, "Pra Não Dizer que Não Falei de Flores" (Geraldo Vandré), hit contra o regime militar, Rosinha chorou. Entre as apresentações dos cantores, ela orou com o pastor presbiteriano Ebér Cézar e recebeu uma Bíblia com o brasão do Estado.
A festa reuniu 8.000 pessoas e os custos, não revelados, foram pagos pelo PSB, segundo a assessoria de imprensa de Rosinha.



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