São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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MINAS GERAIS

Tucano atribui dificuldades econômicas do Estado ao "centralismo burocrático" e diz que vai lutar por "Federação autêntica"

Aécio faz crítica à "ditadura centralizadora da União"

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Aécio Neves (PSDB), 42, empossado ontem governador de Minas Gerais, discursou da sacada do Palácio da Liberdade fazendo críticas à "ditadura centralizadora da União", da qual Minas seria a "vítima preferencial". Afirmou que assume com o propósito de "retomar a luta histórica por uma Federação autêntica".
Ele usou frases contundentes para justificar as dificuldades financeiras de Minas, atribuindo os problemas ao centralismo da União. E enalteceu a luta contra isso de Itamar Franco (sem partido), que lhe passou o Grande Colar da Inconfidência.
"Não há democracia onde os Estados e municípios federados têm a sua autonomia violada pelo arbítrio de simples funcionários da burocracia centralizadora da União. Quero registrar que o governador Itamar Franco se empenhou, desde o início do seu governo, em denunciar esse centralismo burocrático e contra ele oferecer sua resistência."
Nos últimos meses da gestão Itamar, o ministro da Fazenda que deixou anteontem o cargo, Pedro Malan, foi apontado como a pessoa que sempre se opôs às reivindicações econômicas mineiras. Seu sucessor na Fazenda, Antonio Palocci Filho, também se opôs e foi criticado por Itamar.
Aécio lembrou frase do seu avô Tancredo Neves (1910-85), que governou o Estado no início dos anos 80, segundo a qual "Minas não se curva, não ajoelha, não rasteja". E afirmou: "É de Tancredo a grave constatação de que, sem Federação, não há república".
Nem quando falou sobre o trabalho que pretende fazer em prol dos municípios Aécio poupou a União. "Ao exigir o respeito do poder central pelos Estados e, particularmente, por Minas, que tem sido a vítima preferencial da ditadura centralizadora da burocracia, reafirmamos o empenho de defender a autonomia de seus municípios", disse.
O tucano disse que os Estados não podem trabalhar para transferir à União a maior parcela dos recursos, "sem que disso tenham retribuição correspondente".
"Enquanto não houver novo contrato federativo, que devolva aos Estados e municípios o que corresponde ao que produzem, teremos que continuar cortando as despesas públicas, a fim de garantir os serviços essenciais à população mineira", afirmou.
E defendeu, na reforma tributária que se apregoa, a desconcentração dos recursos nas mãos da União. Para Aécio, sem respeito aos Estados, a União "perde legitimidade e sentido".
"Não podemos aceitar como respeitosa ao pacto federativo a organização tributária nacional, que concentra na União 65% dos recursos fiscais do país (...). Não pode o poder central arrogar-se o monopólio da cobrança dos principais tributos e a prerrogativa de os distribuir conforme seus próprios critérios".
Em um único momento ele citou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desejando-lhe sorte.
Itamar não discursou. Cerca de 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, acompanharam a transmissão do cargo. Aécio foi para a Assembléia Legislativa e depois para o palácio em um Cadillac 1953 que serviu ao presidente Juscelino Kubitschek.
Em entrevista, disse que sua "obsessão" será o crescimento econômico do Estado e que vai se inspirar em JK e Tancredo.



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