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JANIO DE FREITAS
Votos de brucutu
Por falta de promessas este
novo ano não se perde. Lula
vai ensinar-nos a amar a família,
vai criar nossa auto-estima, vai
incutir-nos a afetuosidade, uma
sucessão de dádivas, enfim, que
dá bem idéia dos brutos trogloditas que são os brasileiros na visão
de Lula.
Se considerarmos que Lula adotou, e difunde-a com uma fortuna
publicitária, a velha frase de Câmara Cascudo - "o melhor do
Brasil é o brasileiro" -, que droga de país será esse em que o melhor é a gente que não passa de
brucutus? Não foi sem propósito
que Lula entregou o comando do
país aos gringos do FMI, com a
cobertura de dois ou três "laranjas" nativos.
A reforma da alma brasileira
não é tudo, porém. Teremos um
crescimento fantástico e, na mesma linha, todas aquelas maravilhas que, no dizer anualmente
diário de quase todos os jornalistas econômicos, o Brasil está sempre na iminência de alcançar. As
tantas promessas feitas por Lula,
nas últimas semanas, têm um
único problema: a escassa ou nenhuma credibilidade do autor,
que, faz exatamente dois anos, jogou na lixeira ética os compromissos do candidato e todas as
suas palavras de 20 anos, que um
cinismo adjetivo disse não terem
sido senão bravatas.
Como o governo conhece o governo melhor do que ninguém, lá
mesmo a previsão de Lula para
2005 já está posta desqualificada:
foi Lula falar em crescimento econômico maior neste novo ano, o
Banco Central logo emitiu a previsão de menor crescimento que
em 2004. Já que a ocasião é propícia, façamos votos de que em 2005
o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, não ache tão
necessárias as exibições de que
tem coberturas que o situam acima de qualquer um no governo.
A série de desmentidos diretos,
imediatos e duros, feitos por Henrique Meirelles e seus diretores a
Lula, que se curva em silêncio, se
não constrange quem ostenta o
status de presidente da República,
nem por isso tem sentido menos
visível: fica entre o desafio e a humilhação, que nenhum malabarismo de colunista oficiosa consegue atenuar.
Os votos que interessam a Lula
e ao PT são outros, os digitados
na maquininha, mas, para não
perder a ocasião, eis os meus votos definitivos a Lula e seu governo: de que 2005 não voltem a reduzir, como fizeram em 2003 e
2004, os recursos para os municípios mais pobres do Brasil. É sórdido que isso ocorra. E dizer que o
Bolsa Família está compensando,
ou até mais, é falacioso. Saneamento, assistência à doença e ensino dependem, nos municípios
de pobreza extrema, das verbas
que têm sido cortadas.
Mais um
Muitos petistas mostraram-se
irados com esta coluna no decorrer do ano. Não posso lhes pedir
desculpas. Os leitores que se foram, por certo nada perderam,
nem mesmo a paciência por alguns minutos. Aos que ficaram e
aos que vieram, supondo que existam, agradeço pela companhia. A todos, votos de que tenham um ano de bastante sorte.
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