São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Votos de brucutu

Por falta de promessas este novo ano não se perde. Lula vai ensinar-nos a amar a família, vai criar nossa auto-estima, vai incutir-nos a afetuosidade, uma sucessão de dádivas, enfim, que dá bem idéia dos brutos trogloditas que são os brasileiros na visão de Lula.
Se considerarmos que Lula adotou, e difunde-a com uma fortuna publicitária, a velha frase de Câmara Cascudo - "o melhor do Brasil é o brasileiro" -, que droga de país será esse em que o melhor é a gente que não passa de brucutus? Não foi sem propósito que Lula entregou o comando do país aos gringos do FMI, com a cobertura de dois ou três "laranjas" nativos.
A reforma da alma brasileira não é tudo, porém. Teremos um crescimento fantástico e, na mesma linha, todas aquelas maravilhas que, no dizer anualmente diário de quase todos os jornalistas econômicos, o Brasil está sempre na iminência de alcançar. As tantas promessas feitas por Lula, nas últimas semanas, têm um único problema: a escassa ou nenhuma credibilidade do autor, que, faz exatamente dois anos, jogou na lixeira ética os compromissos do candidato e todas as suas palavras de 20 anos, que um cinismo adjetivo disse não terem sido senão bravatas.
Como o governo conhece o governo melhor do que ninguém, lá mesmo a previsão de Lula para 2005 já está posta desqualificada: foi Lula falar em crescimento econômico maior neste novo ano, o Banco Central logo emitiu a previsão de menor crescimento que em 2004. Já que a ocasião é propícia, façamos votos de que em 2005 o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não ache tão necessárias as exibições de que tem coberturas que o situam acima de qualquer um no governo.
A série de desmentidos diretos, imediatos e duros, feitos por Henrique Meirelles e seus diretores a Lula, que se curva em silêncio, se não constrange quem ostenta o status de presidente da República, nem por isso tem sentido menos visível: fica entre o desafio e a humilhação, que nenhum malabarismo de colunista oficiosa consegue atenuar.
Os votos que interessam a Lula e ao PT são outros, os digitados na maquininha, mas, para não perder a ocasião, eis os meus votos definitivos a Lula e seu governo: de que 2005 não voltem a reduzir, como fizeram em 2003 e 2004, os recursos para os municípios mais pobres do Brasil. É sórdido que isso ocorra. E dizer que o Bolsa Família está compensando, ou até mais, é falacioso. Saneamento, assistência à doença e ensino dependem, nos municípios de pobreza extrema, das verbas que têm sido cortadas.

Mais um
Muitos petistas mostraram-se irados com esta coluna no decorrer do ano. Não posso lhes pedir desculpas. Os leitores que se foram, por certo nada perderam, nem mesmo a paciência por alguns minutos. Aos que ficaram e aos que vieram, supondo que existam, agradeço pela companhia. A todos, votos de que tenham um ano de bastante sorte.


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