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Sem metas, Lula diz que vai acelerar país
Presidente reitera que vai destravar economia com "medidas de desburocratização", mas evita se comprometar com PIB de 5%
Petista anuncia o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); reformas, prometidas em 2003, são citadas só de passagem
MARTA SALOMON
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três novos verbos -acelerar,
crescer e incluir- substituíram
no discurso de posse de Luiz
Inácio Lula da Silva o principal
mote de seu primeiro mandato
na Presidência da República.
Lula atribuiu a "fatores históricos, dificuldades políticas e
prioridades inadiáveis" os insucessos da mudança prometida
em 2003 e lançou o lema para
os próximos quatro anos de governo: "Vamos destravar o Brasil para crescer e incluir de forma mais acelerada".
Sem ter concluído as medidas com as quais pretende marcar seu segundo mandato no
Planalto, o presidente apresentou poucas novidades no discurso de 37 minutos que se seguiu à assinatura do termo de
posse, no Congresso. Lula foi
declarado empossado às 16h20.
A principal novidade é o nome do pacote que Lula pretende anunciar ainda neste mês, o
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento). Lula repetiu,
no discurso, 12 vezes a palavra
"crescimento", mas não se
comprometeu com um percentual de aumento do PIB. Disse
que o governo cuidará de aumentar o investimento público
e incentivar investimentos privados por meio de redução de
impostos e de medidas "vigorosas de desburocratização".
Em resposta a temores despertados recentemente no
mercado em meio à discussão
das medidas econômicas, Lula
reiterou o compromisso com o
controle de gastos. "Sei que o
crescimento, para ser rápido,
sustentável e duradouro, tem
de ser com responsabilidade
fiscal. Disso não abriremos
mão, em hipótese alguma".
Em seguida, o discurso também procurou atender aos que
defendem mudanças na condução da política econômica, entre os quais encontram-se dirigentes do PT: "Mas é preciso
combinar essa responsabilidade com mudanças de postura e
ousadia na criação de novas
oportunidades para o país".
Entre as promessas que fez
ontem, o presidente afastou o
risco de um apagão energético
nos próximos dez anos. Disse
que o fornecimento de energia
será garantido por projetos em
andamento e "novos e ambiciosos" projetos que serão abertos
a licitação neste ano.
Escrito conjuntamente pelo
ministro Luiz Dulci (Secretaria
Geral), o presidente do PT,
Marco Aurélio Garcia, e o marqueteiro João Santana, o texto
lido por Lula fez a defesa de seu
primeiro mandato no Planalto
e teve como referência o discurso de posse feito pelo presidente quatro anos antes.
"Quatro anos atrás, eu disse
que o verbo mudar iria reger o
nosso governo. E o Brasil mudou. Hoje digo que os verbos
acelerar, crescer e incluir vão
reger o Brasil nesses próximos
quatros anos. Os efeitos das
mudanças têm que ser sentidos
rápida e amplamente", disse
Lula, fazendo eco a frases expostas na decoração da festa.
Mudança para melhor
Lula disse que ele e o Brasil
mudaram para melhor. Entre
os feitos do primeiro mandato,
o presidente listou inflação baixa, crescimento das exportações e aumento do consumo
popular, além da ampliação do
emprego e da renda.
Contabilizou 7 milhões de
novos postos de trabalho, entre
empregos informais e com carteira assinada (100 mil ao mês).
Mas registrou que o país possui
sérias travas ao crescimento e
fragilidades nos instrumentos
de gestão. "Tudo é muito parecido , mas tudo é profundamente diferente", resumiu.
"E o mundo, vasto mundo,
como estará quatro anos depois?", questionou Lula, parodiando versos do poeta Carlos
Drummond de Andrade, para
criticar, na seqüência, a Organização das Nações Unidas. Ao lado de outros organismos internacionais, a ONU não teria se
atualizado. O plenário da Câmara tinha um terço das cadeiras vazias, e o discurso foi interrompido 16 vezes por palmas.
Entre os pontos do balanço
interno em que os avanços estão aquém dos necessários, o
presidente citou, de passagem,
o combate à corrupção. Em resposta à principal crítica que enfrentou durante a campanha
eleitoral, Lula reconheceu que
o país "precisa avançar em padrões éticos e em práticas políticas", mas não fez nenhuma
referência direta ao mensalão.
Bolsa Família
No lugar do fim da fome, a
grande causa nacional no discurso da primeira posse, Lula
disse que a política social -com
o Bolsa Família à frente- será
"peça-chave" do desenvolvimento estratégico no país. Reiterou o compromisso em promover educação com qualidade
e prometeu informatizar todas
as escolas públicas até 2010.
As reformas constitucionais,
que mereceram destaque no
discurso de 2003, apareceram
apenas de passagem ontem. A
urgência da reforma política foi
defendida em meio a apelos à
oposição e a defesa da democracia. "Nossas instituições
têm de ser mais permeáveis à
voz das ruas", disse. "As formas
de democracia participativa
não são opostas às da democracia representativa."
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