São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2007

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Sem metas, Lula diz que vai acelerar país

Presidente reitera que vai destravar economia com "medidas de desburocratização", mas evita se comprometar com PIB de 5%

Petista anuncia o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); reformas, prometidas em 2003, são citadas só de passagem


MARTA SALOMON
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três novos verbos -acelerar, crescer e incluir- substituíram no discurso de posse de Luiz Inácio Lula da Silva o principal mote de seu primeiro mandato na Presidência da República. Lula atribuiu a "fatores históricos, dificuldades políticas e prioridades inadiáveis" os insucessos da mudança prometida em 2003 e lançou o lema para os próximos quatro anos de governo: "Vamos destravar o Brasil para crescer e incluir de forma mais acelerada".
Sem ter concluído as medidas com as quais pretende marcar seu segundo mandato no Planalto, o presidente apresentou poucas novidades no discurso de 37 minutos que se seguiu à assinatura do termo de posse, no Congresso. Lula foi declarado empossado às 16h20.
A principal novidade é o nome do pacote que Lula pretende anunciar ainda neste mês, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Lula repetiu, no discurso, 12 vezes a palavra "crescimento", mas não se comprometeu com um percentual de aumento do PIB. Disse que o governo cuidará de aumentar o investimento público e incentivar investimentos privados por meio de redução de impostos e de medidas "vigorosas de desburocratização".
Em resposta a temores despertados recentemente no mercado em meio à discussão das medidas econômicas, Lula reiterou o compromisso com o controle de gastos. "Sei que o crescimento, para ser rápido, sustentável e duradouro, tem de ser com responsabilidade fiscal. Disso não abriremos mão, em hipótese alguma".
Em seguida, o discurso também procurou atender aos que defendem mudanças na condução da política econômica, entre os quais encontram-se dirigentes do PT: "Mas é preciso combinar essa responsabilidade com mudanças de postura e ousadia na criação de novas oportunidades para o país".
Entre as promessas que fez ontem, o presidente afastou o risco de um apagão energético nos próximos dez anos. Disse que o fornecimento de energia será garantido por projetos em andamento e "novos e ambiciosos" projetos que serão abertos a licitação neste ano.
Escrito conjuntamente pelo ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, e o marqueteiro João Santana, o texto lido por Lula fez a defesa de seu primeiro mandato no Planalto e teve como referência o discurso de posse feito pelo presidente quatro anos antes.
"Quatro anos atrás, eu disse que o verbo mudar iria reger o nosso governo. E o Brasil mudou. Hoje digo que os verbos acelerar, crescer e incluir vão reger o Brasil nesses próximos quatros anos. Os efeitos das mudanças têm que ser sentidos rápida e amplamente", disse Lula, fazendo eco a frases expostas na decoração da festa.

Mudança para melhor
Lula disse que ele e o Brasil mudaram para melhor. Entre os feitos do primeiro mandato, o presidente listou inflação baixa, crescimento das exportações e aumento do consumo popular, além da ampliação do emprego e da renda.
Contabilizou 7 milhões de novos postos de trabalho, entre empregos informais e com carteira assinada (100 mil ao mês). Mas registrou que o país possui sérias travas ao crescimento e fragilidades nos instrumentos de gestão. "Tudo é muito parecido , mas tudo é profundamente diferente", resumiu.
"E o mundo, vasto mundo, como estará quatro anos depois?", questionou Lula, parodiando versos do poeta Carlos Drummond de Andrade, para criticar, na seqüência, a Organização das Nações Unidas. Ao lado de outros organismos internacionais, a ONU não teria se atualizado. O plenário da Câmara tinha um terço das cadeiras vazias, e o discurso foi interrompido 16 vezes por palmas.
Entre os pontos do balanço interno em que os avanços estão aquém dos necessários, o presidente citou, de passagem, o combate à corrupção. Em resposta à principal crítica que enfrentou durante a campanha eleitoral, Lula reconheceu que o país "precisa avançar em padrões éticos e em práticas políticas", mas não fez nenhuma referência direta ao mensalão.

Bolsa Família
No lugar do fim da fome, a grande causa nacional no discurso da primeira posse, Lula disse que a política social -com o Bolsa Família à frente- será "peça-chave" do desenvolvimento estratégico no país. Reiterou o compromisso em promover educação com qualidade e prometeu informatizar todas as escolas públicas até 2010.
As reformas constitucionais, que mereceram destaque no discurso de 2003, apareceram apenas de passagem ontem. A urgência da reforma política foi defendida em meio a apelos à oposição e a defesa da democracia. "Nossas instituições têm de ser mais permeáveis à voz das ruas", disse. "As formas de democracia participativa não são opostas às da democracia representativa."


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