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Serra mira Lula ao atacar "crise moral" e "pasmaceira econômica"
Governador relega problemas do Estado a segundo plano na posse e faz discurso com foco nacional
Novo governador de São Paulo classifica política macroeconômica como "hostil à produção" e rejeita pacto pela governabilidade
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), tomou posse ontem e, em seu discurso, fez
uma crítica aos pontos críticos
do primeiro mandato de Luiz
Inácio Lula da Silva: atacou a
estagnação econômica e pediu
a volta da ética na política.
"Vivemos no Brasil um período de crise de valores. Não se
trata de uma indisposição passageira ou de uma simples pane. Trata-se de uma crise mesmo. Crise moral, que prospera
numa economia na qual faltam
empregos e sobra a estagnação.
Crise política que se alimenta
da teimosa incoerência entre
os discursos e as ações na vida
pública", disse Serra durante a
solenidade de posse, na Assembléia Legislativa.
Depois, no evento organizado no Palácio dos Bandeirantes
para a transmissão de cargo,
Serra voltou a falar da crise moral e, num tom mais rigoroso,
cobrou um maior desenvolvimento econômico para o país,
ponto central do segundo mandato de Lula.
"A política da pasmaceira em
relação à nossa economia tem
consagrado a mais perversa
tendência depois de um século
de prosperidade: a semi-estagnação. [...] Hoje, [...] os resultados ruins [da economia] não
são colhidos da fatalidade, mas
da fragilidade da política macroeconômica, hostil à produção e aos investimentos. [...] A
fatalidade quase sempre conta
a história de um erro, quando
não de uma covardia", disse.
Um dos principais problemas de São Paulo, a questão da
segurança pública, foi apenas
citada pelo novo governador.
No início do discurso, de quase
30 minutos, Serra disse que falaria de seus "valores e crenças", não sobre os projetos que
já haviam sido debatidos durante a campanha eleitoral.
A tônica dos discursos, que
foram burilados pelo governador durante a madrugada de
ontem, após passar o Réveillon
com a família, é um sinal de como deverá ser o relacionamento dele com o presidente. Serra
é um dos nomes do PSDB para
disputar o Planalto em 2010.
É preciso acabar com o compadrio e o fisiologismo, disse
Serra. "Ser ético significa evitar
o loteamento de cargos, que estimula a corrupção."
Em jantar restrito ontem à
noite no palácio, Serra reiterou
as críticas à economia e foi elogiado pelo discurso. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que participou da posse,
estava entre os convidados e
endossou as palavras de Serra.
Cerca de 30 pessoas foram ao
evento. O ex-governador Geraldo Alckmin não participou.
A idéia de Serra é ver FHC no
comando do PSDB a partir de
outubro, quando termina a gestão de Tasso Jereissati (CE),
que não compareceu à posse.
Momento
Antes do jantar, no entanto,
FHC negou que o tom de Serra
indique um interesse por 2010.
"Ele sabe que o momento não é
de pensar na Presidência, mas
de governar bem São Paulo." O
próprio Serra, ainda em seu
pronunciamento, se antecipou
e disse que a preocupação com
temas nacionais se justifica pela repercussão negativa que a
estagnação causa aos Estados,
com falta de trabalho e queda
na arrecadação.
Terminada a transmissão de
cargos, o governador deu posse
aos novos secretários e editou
oito decretos, entre eles os que
determinam a reavaliação de
todos os contratos firmados pelo Estado. Alckmin, que comandou o Estado de 2001 até
março do ano passado, estava
na platéia quando o Serra fez o
anúncio.
Sobre Lula, Serra, que deixou
a Prefeitura de São Paulo e ganhou a eleição com 12,38 milhões de votos, disse que tentará manter as "melhores relações institucionais" com o presidente, mas que será sempre
oposição.
"Não fomos, não somos nem
seremos adeptos do quanto
pior, melhor. Seremos oposição
no plano federal justamente
porque não somos iguais", afirmou o governador.
Sem citar nomes, Serra ironizou a sugestão feita por Lula de
pacto com a oposição para garantir a governabilidade: "A governabilidade é tarefa de quem
obteve nas urnas o mandato para governar. Não me passa pela
cabeça, por exemplo, transferir
para a oposição o dever de assegurar a governabilidade do Estado que me elegeu. Quem é altivo na derrota não se sujeita.
Quem é humilde na vitória não
exige sujeição".
Ao final do evento, quando
citava algumas pessoas com
quem conviveu, como o ex-governador Franco Montoro e
dom Paulo Evaristo Arns, Serra
chorou. Depois, retomou o discurso que foi lido por meio de
teleprompters invisíveis.
Leia a íntegra dos discursos de Serra
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