São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2007

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Serra mira Lula ao atacar "crise moral" e "pasmaceira econômica"

Governador relega problemas do Estado a segundo plano na posse e faz discurso com foco nacional

Novo governador de São Paulo classifica política macroeconômica como "hostil à produção" e rejeita pacto pela governabilidade


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tomou posse ontem e, em seu discurso, fez uma crítica aos pontos críticos do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva: atacou a estagnação econômica e pediu a volta da ética na política.
"Vivemos no Brasil um período de crise de valores. Não se trata de uma indisposição passageira ou de uma simples pane. Trata-se de uma crise mesmo. Crise moral, que prospera numa economia na qual faltam empregos e sobra a estagnação. Crise política que se alimenta da teimosa incoerência entre os discursos e as ações na vida pública", disse Serra durante a solenidade de posse, na Assembléia Legislativa.
Depois, no evento organizado no Palácio dos Bandeirantes para a transmissão de cargo, Serra voltou a falar da crise moral e, num tom mais rigoroso, cobrou um maior desenvolvimento econômico para o país, ponto central do segundo mandato de Lula.
"A política da pasmaceira em relação à nossa economia tem consagrado a mais perversa tendência depois de um século de prosperidade: a semi-estagnação. [...] Hoje, [...] os resultados ruins [da economia] não são colhidos da fatalidade, mas da fragilidade da política macroeconômica, hostil à produção e aos investimentos. [...] A fatalidade quase sempre conta a história de um erro, quando não de uma covardia", disse.
Um dos principais problemas de São Paulo, a questão da segurança pública, foi apenas citada pelo novo governador. No início do discurso, de quase 30 minutos, Serra disse que falaria de seus "valores e crenças", não sobre os projetos que já haviam sido debatidos durante a campanha eleitoral.
A tônica dos discursos, que foram burilados pelo governador durante a madrugada de ontem, após passar o Réveillon com a família, é um sinal de como deverá ser o relacionamento dele com o presidente. Serra é um dos nomes do PSDB para disputar o Planalto em 2010.
É preciso acabar com o compadrio e o fisiologismo, disse Serra. "Ser ético significa evitar o loteamento de cargos, que estimula a corrupção."
Em jantar restrito ontem à noite no palácio, Serra reiterou as críticas à economia e foi elogiado pelo discurso. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que participou da posse, estava entre os convidados e endossou as palavras de Serra. Cerca de 30 pessoas foram ao evento. O ex-governador Geraldo Alckmin não participou.
A idéia de Serra é ver FHC no comando do PSDB a partir de outubro, quando termina a gestão de Tasso Jereissati (CE), que não compareceu à posse.

Momento
Antes do jantar, no entanto, FHC negou que o tom de Serra indique um interesse por 2010. "Ele sabe que o momento não é de pensar na Presidência, mas de governar bem São Paulo." O próprio Serra, ainda em seu pronunciamento, se antecipou e disse que a preocupação com temas nacionais se justifica pela repercussão negativa que a estagnação causa aos Estados, com falta de trabalho e queda na arrecadação.
Terminada a transmissão de cargos, o governador deu posse aos novos secretários e editou oito decretos, entre eles os que determinam a reavaliação de todos os contratos firmados pelo Estado. Alckmin, que comandou o Estado de 2001 até março do ano passado, estava na platéia quando o Serra fez o anúncio.
Sobre Lula, Serra, que deixou a Prefeitura de São Paulo e ganhou a eleição com 12,38 milhões de votos, disse que tentará manter as "melhores relações institucionais" com o presidente, mas que será sempre oposição.
"Não fomos, não somos nem seremos adeptos do quanto pior, melhor. Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais", afirmou o governador.
Sem citar nomes, Serra ironizou a sugestão feita por Lula de pacto com a oposição para garantir a governabilidade: "A governabilidade é tarefa de quem obteve nas urnas o mandato para governar. Não me passa pela cabeça, por exemplo, transferir para a oposição o dever de assegurar a governabilidade do Estado que me elegeu. Quem é altivo na derrota não se sujeita. Quem é humilde na vitória não exige sujeição".
Ao final do evento, quando citava algumas pessoas com quem conviveu, como o ex-governador Franco Montoro e dom Paulo Evaristo Arns, Serra chorou. Depois, retomou o discurso que foi lido por meio de teleprompters invisíveis.


Leia a íntegra dos discursos de Serra


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