São Paulo, sábado, 2 de janeiro de 1999

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DIVISÃO DE COTAS
Presidente da Câmara diz que votação de ajuste "caminhará' com preenchimento de cargos; senador contesta
Temer e ACM divergem sobre 2º escalão

AUGUSTO GAZIR
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), afirmou ontem que a aprovação do ajuste fiscal no Congresso vai "caminhar" com o preenchimento dos cargos de segundo escalão do governo federal.
"Ao mesmo tempo que o Congresso legisla, o governo vai fazendo o ajuste administrativo", disse Temer.
Ele disse não acreditar que a indefinição sobre os cargos prejudique a aprovação do ajuste fiscal, mas afirmou que o interesse dos políticos governistas no segundo escalão é "legítimo". "É natural que os partidos pleiteiem, segundo a constituição de forças, a presença no segundo escalão."
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), opôs-se a Temer e disse que não se deve misturar as necessidades do país com a nomeação de cargos.
"Tem de se fazer o que for melhor, com as melhores pessoas, sejam elas de que partidos forem", afirmou ACM.
Para ele, o Congresso vai aprovar com rapidez o ajuste fiscal, em especial a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). "Até porque, sem a aprovação, o governo tomará outras medidas que penalizarão mais o contribuinte."
Antonio Carlos afirmou que FHC tem autonomia para mexer na sua equipe, mas considerou "criminosa" a especulação, no dia da posse, sobre possíveis mudanças no ministério.
Os dois concordaram que a economia brasileira terá um início de ano difícil, o que torna urgente a aprovação do ajuste.
² Indefinição
Já o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), afirmou não acreditar que a indefinição sobre a composição do segundo escalão prejudique a aprovação do ajuste fiscal.
"Não haverá dificuldade na aprovação do ajuste porque o presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma engenharia política altamente competente na montagem do ministério, contemplando todos os partidos aliados."
Para Inocêncio, o mais polêmico foi a montagem do ministério. Como, em sua avaliação, todos os partidos aliados saíram satisfeitos, a indefinição no segundo escalão não fará diferença na votação do ajuste.
"Acho que agora os líderes estão ainda mais compromissados em aprovar as reformas. Eles vão fazer com que suas bancadas votem de acordo com a vontade do governo."
Ao contrário de Inocêncio, o senador Teotonio Vilela Filho (AL), presidente do PSDB, disse que a indefinição no segundo escalão trará algumas dificuldades para a aprovação do ajuste, porque é "inevitável que haja descontentamentos".
"É natural que haja atritos. Nada é fácil, mas o ajuste passará", afirmou.
A Folha apurou que a nova bancada do PTB na Câmara, por exemplo, está insatisfeita com a composição do ministério e espera a recompensa na nomeação do segundo escalão para aprovar a CPMF.
² Oposição
O deputado José Genoino (PT-SP), um dos poucos parlamentares de oposição presentes à posse, disse que o governo dificilmente perderá as votações do pacote fiscal no Congresso.
Para Genoino, o governo conseguirá os votos necessários à aprovação do pacote porque a montagem do ministério agradou os partidos aliados.
"O governo tem maioria aritmética e matemática para aprovar suas propostas, até porque ele montou o ministério para isso. E olha que ainda existem os cargos do segundo escalão, que são uma moeda importante. Mas vamos cumprir nosso papel de denunciar o absurdo que é o pacote. Como a CPMF é uma parada indigesta, quem sabe tenhamos chance", disse o deputado petista.



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