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RIO DE JANEIRO
Ex-governador baixa 41 dispositivos no último dia; pedetista se ajoelha e reza na festa da posse
Garotinho revoga medidas de Alencar
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio
O novo governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), tomou
posse ontem à tarde anunciando
que irá revogar as 41 medidas assinadas pelo seu antecessor, Marcello Alencar (PSDB), e publicadas
dois dias antes no Diário Oficial.
Entre os decretos, há concessões
de incentivos fiscais na cultura,
mudanças na regulamentação do
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) e contratação de professores na área de
ciência e tecnologia.
"São projetos de leis que foram
aprovados pela Assembléia Legislativa. Um deles regulamenta o
ICMS. Eu tinha que facilitar o próximo governo. As medidas são todas de ordem administrativa.
Eram processos que estavam em
atraso. O que eu fiz foi dar uma virada para evitar que o novo governo entrasse tumultuado com o excesso de processo", explicou Marcello Alencar, que não consultou
seu sucessor.
Garotinho, que estava a seu lado
no momento, não aprovou essa suposta facilitação. "Vou anular todos os decretos", afirmou o novo
governador, reclamando que as
medidas podem inviabilizar sua
administração.
"Não quero julgar se as pessoas
têm essa ou aquela intenção", disse o novo secretário estadual de
Fazenda, Carlos Antônio Sasse.
"Apenas acho que isso não é bom
no último dia de governo."
Ontem, nem ele nem Garotinho
souberam detalhar o teor das mudanças no ICMS nem que tipo de
impacto teria a alteração feita no
imposto.
"Mas são medidas que mexem
com a receita e a despesa do Estado", afirmou Sasse, que passa o
fim-de-semana estudando com
sua equipe o impacto dos decretos
nas finanças públicas.
˛
Confusão
Garotinho foi empossado no início da tarde na Assembléia Legislativa. A transmissão de cargo no Palácio Guanabara -sede do Executivo estadual- foi marcada pelo
tumulto, com muito empurra-empurra e gritos. Os seguranças tiveram trabalho quando o governador empossado, o ex-governador e
suas mulheres ficaram espremidos
pela multidão.
O palácio foi aberto ao público.
Seus jardins foram ocupados por
cerca de 7.000 pessoas, segundo a
Polícia Militar -entre militantes
petistas e pedetistas, fiéis evangélicos (Garotinho e sua vice, Benedita
da Silva, são evangélicos) e socialites como Vera Loyola, a ex-miss
Brasil Marta Rocha, a cantora
Joanna e as atrizes Bete Mendes e
Camila Pitanga.
Quem foi pôde assistir, sob pingos de chuva, a um show com 40
cantores evangélicos -entre eles
Aline Barros e a ex-garota da Playboy e ex-animadora de programa
infantil Mara Maravilha.
Mas o grande momento foi
quando o governador, já empossado, se ajoelhou, foi abençoado e
cantou músicas religiosas.
Seu canto, mudando a letra do
hino "Ele não mandou, ele mesmo
veio": "Os que estão caídos ele já
falou que vai levantar/ Ele não mudou nem vai mudar/ O que fez em
Campos no Estado do Rio também
vai fazer/ E o povo de Deus está
aqui para agradecer".
O tema religioso foi uma constante na posse de Garotinho. Após
fazer um agradecimento especial
ao ex-governador Leonel Brizola
-presidente do PDT-, que não
foi ao palácio, Garotinho abriu seu
discurso de posse citando Deus.
"O Deus que deu sabedoria a Salomão, coragem ao rei Davi, que
povoou o coração de Neemias de
esperança para reconstruir os muros de Jerusalém quando só ele
acreditava."
Segundo a Bíblia, Neemias foi
um dos protagonistas mais expressivos do retorno dos exilados judeus do cativeiro na Babilônia.
Mais tarde foi governador de Jerusalém e considerado um reformador vigoroso.
Ao contrário dos discursos de
campanha, o de posse não incluiu
nenhuma promessa de governo
-além das genéricas. Ele prometeu "um governo eficiente, moderno, transformador", e ajudar a
"construir uma nova ordem de paz
e de justiça".
Colaborou
Anna Lee, da Sucursal do Rio
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