São Paulo, sábado, 2 de janeiro de 1999

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RIO DE JANEIRO
Ex-governador baixa 41 dispositivos no último dia; pedetista se ajoelha e reza na festa da posse
Garotinho revoga medidas de Alencar

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

O novo governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), tomou posse ontem à tarde anunciando que irá revogar as 41 medidas assinadas pelo seu antecessor, Marcello Alencar (PSDB), e publicadas dois dias antes no Diário Oficial.
Entre os decretos, há concessões de incentivos fiscais na cultura, mudanças na regulamentação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e contratação de professores na área de ciência e tecnologia.
"São projetos de leis que foram aprovados pela Assembléia Legislativa. Um deles regulamenta o ICMS. Eu tinha que facilitar o próximo governo. As medidas são todas de ordem administrativa. Eram processos que estavam em atraso. O que eu fiz foi dar uma virada para evitar que o novo governo entrasse tumultuado com o excesso de processo", explicou Marcello Alencar, que não consultou seu sucessor.
Garotinho, que estava a seu lado no momento, não aprovou essa suposta facilitação. "Vou anular todos os decretos", afirmou o novo governador, reclamando que as medidas podem inviabilizar sua administração.
"Não quero julgar se as pessoas têm essa ou aquela intenção", disse o novo secretário estadual de Fazenda, Carlos Antônio Sasse. "Apenas acho que isso não é bom no último dia de governo."
Ontem, nem ele nem Garotinho souberam detalhar o teor das mudanças no ICMS nem que tipo de impacto teria a alteração feita no imposto.
"Mas são medidas que mexem com a receita e a despesa do Estado", afirmou Sasse, que passa o fim-de-semana estudando com sua equipe o impacto dos decretos nas finanças públicas.
˛ Confusão
Garotinho foi empossado no início da tarde na Assembléia Legislativa. A transmissão de cargo no Palácio Guanabara -sede do Executivo estadual- foi marcada pelo tumulto, com muito empurra-empurra e gritos. Os seguranças tiveram trabalho quando o governador empossado, o ex-governador e suas mulheres ficaram espremidos pela multidão.
O palácio foi aberto ao público. Seus jardins foram ocupados por cerca de 7.000 pessoas, segundo a Polícia Militar -entre militantes petistas e pedetistas, fiéis evangélicos (Garotinho e sua vice, Benedita da Silva, são evangélicos) e socialites como Vera Loyola, a ex-miss Brasil Marta Rocha, a cantora Joanna e as atrizes Bete Mendes e Camila Pitanga.
Quem foi pôde assistir, sob pingos de chuva, a um show com 40 cantores evangélicos -entre eles Aline Barros e a ex-garota da Playboy e ex-animadora de programa infantil Mara Maravilha.
Mas o grande momento foi quando o governador, já empossado, se ajoelhou, foi abençoado e cantou músicas religiosas.
Seu canto, mudando a letra do hino "Ele não mandou, ele mesmo veio": "Os que estão caídos ele já falou que vai levantar/ Ele não mudou nem vai mudar/ O que fez em Campos no Estado do Rio também vai fazer/ E o povo de Deus está aqui para agradecer".
O tema religioso foi uma constante na posse de Garotinho. Após fazer um agradecimento especial ao ex-governador Leonel Brizola -presidente do PDT-, que não foi ao palácio, Garotinho abriu seu discurso de posse citando Deus.
"O Deus que deu sabedoria a Salomão, coragem ao rei Davi, que povoou o coração de Neemias de esperança para reconstruir os muros de Jerusalém quando só ele acreditava."
Segundo a Bíblia, Neemias foi um dos protagonistas mais expressivos do retorno dos exilados judeus do cativeiro na Babilônia. Mais tarde foi governador de Jerusalém e considerado um reformador vigoroso.
Ao contrário dos discursos de campanha, o de posse não incluiu nenhuma promessa de governo -além das genéricas. Ele prometeu "um governo eficiente, moderno, transformador", e ajudar a "construir uma nova ordem de paz e de justiça".


Colaborou Anna Lee, da Sucursal do Rio



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