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ELIO GASPARI
Independência ou morte para o IBGE
Era só o que faltava, o IBGE
arrastado na onda do comissariado petista que concebeu o
conselho de jornalismo e a Ancinav. O IBGE vive de juntar números e credibilidade. Juridicamente, é uma fundação mais independente do governo que o
Banco Central. Por que o instituto deve mandar os resultados de
suas pesquisas ao Ministério do
Planejamento com 24 ou 48 horas de antecedência, por cima ou
por baixo do pano? E por que não
ao Vaticano? São números que
permitem manipulações do mercado e do humor da patuléia.
Vem aí um indicador ruim? Arma-se um circo, lança-se a última versão do ProNada e cria-se
um grupo de trabalho. Não se
trata de usar a conhecimento
prévio para fraudar indicadores,
mas de permitir ao aparelho de
propaganda do governo que se
adapte, para o bem ou para o
mal, às contas do IBGE.
O comissariado argumenta
que a imprensa também recebe
esses números com antecedência,
comprometendo-se a respeitar os
prazos de embargo. Talvez seja
melhor devolver a gentileza do
que misturar a imprensa nessa
transação.
É possível que os doutores Nelson Machado (ministro interino
do Planejamento) e Eduardo
Nunes (presidente do IBGE) não
se lembrem: Luiz Inácio da Silva
deve seus primeiros 15 minutos
de fama a uma manipulação estatística legitimada pela Fundação Getúlio Vargas. Coisa de
1977, quando presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
O caso foi o seguinte: em 1973 o
governo do general Emílio Médici fechou o ano com uma inflação de 15,5%, segundo a FGV.
Ninguém acreditava nisso, nem
a FGV que fez a conta, nem o governo que fez o truque, nem seu
sucessor, que ficaria com a mágica. No final de julho de 1977, a
Folha publicou um enorme caderno com um diagnóstico do
Banco Mundial sobre a economia brasileira. Lá, numa nota de
pé de página, estava a revelação
de que, para o banco, a inflação
de 1973 ficara em 22,5%.
Lula acompanhou outros líderes sindicais que saíram por aí
pedindo a reposição das perdas
provocadas pela fraude. O resto
da história todo mundo sabe.
Coisas que só acontecem na ditadura? Nem tanto. É verdade
que a falsificação de um índice
desse tamanho é coisa impensável numa democracia, mas em
novembro de 2003, em pleno governo de Lula do ABC, o então
ministro do Planejamento, Guido Mantega, meteu-se numa encrenca com o secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Marcos Lisboa. Mantega dizia que a economia cresceria
0,8% e desdenhava previsões da
Fazenda que ficavam em 0,4%.
Até aí, nada demais, pois os
dois sabiam que os instrumentos
de medição do PIB brasileiro estão longe de uma precisão decimal. O caso enfeou quando Mantega disse o seguinte: "Eu não
derrubo, só levanto o PIB". Como
o Padre Eterno não deu a Mantega o poder de mudar a realidade
econômica do país, entende-se
que se falava em levantamento
de PIB no campo da subjetividade. (Pode me chamar de manipulação benigna.)
Quando um ministro e o presidente do IBGE dirigem-se à patuléia para explicar que pretenderam "normatizar e regularizar o
fluxo de informações estruturais", verifica-se que perderam a
capacidade de expressar suas intenções. O que vem a ser "regularizar o fluxo" das notícias que
saem do IBGE e vão ao Planejamento? Quando elas ficam desnormatizadas, o que é que acontece?
Se Lula quer falar sério, pode
mandar ao Congresso um projeto
que dá ao IBGE a autonomia que
a banca quer convencê-lo a dar
ao Banco Central.
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