São Paulo, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Com fortalecimento de Serra, governador já admite possibilidade de ficar no cargo até o fim

Alckmin reavalia decisão de renunciar a qualquer custo

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o fortalecimento do nome do prefeito José Serra dentro do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reavalia a decisão já declarada de deixar o Palácio dos Bandeirantes a qualquer custo. Em janeiro, ao anunciar a disposição de concorrer, Alckmin disse que renunciaria até o dia 31 de março, mesmo que não fosse o escolhido do partido para disputar a Presidência.
Segundo seus interlocutores, Alckmin tem dito, porém, que sairá apenas para a disputa presidencial e já estaria admitindo a hipótese de ficar no cargo. Nesse caso, trabalharia para eleger seu sucessor e colaboraria, formalmente, na campanha de Serra.
Ontem à tarde, Alckmin deu a entender que poderia concluir seu mandato ao responder, duas vezes, com um "aguardem" quando questionado se deixaria mesmo o governo. "Sair ou não sair do governo depende muito desse processo [de negociação interna]. Essa coisa não é mecânica", reagiu o líder do governo na Assembléia, Edson Aparecido, após a entrevista do governador.
Mais tarde, informado do impacto de sua declaração, Alckmin disse que houve "uma interpretação equivocada". "Não mudei nada. Meu nome está à disposição do partido, sou pré-candidato, deixo o governo no dia 30 de março", afirmou o governador.
Alckmin, porém, se recusou a analisar a possibilidade de deixar o governo ainda que não seja o escolhido. "Mas por que vou avaliar essa hipótese se está indo bem, se estamos começando um trabalho?", perguntou.
Adeptos da candidatura de Alckmin reconhecem, no entanto, que o governador ainda não decidiu se fica. "Não há uma decisão. O que o governador gostaria é que a escolha do partido fosse rápida", disse o deputado federal Silvio Torres (SP).
A interlocutores Alckmin disse que não disputará o Senado e falou até em disputar, em convenção, a preferência do partido. Alckmin alega que seu perfil e a aprovação de seu governo seriam capazes de conter eventuais arranhões em sua imagem por conta da decisão de deixar o cargo. Nesse caso, Alckmin evocaria o "apego à democracia" do PSDB.
A hipótese de encarar uma prévia pode ganhar corpo, mantido o desconforto de Alckmin. Ele tem reclamado do que chama de "plantação" de notícias, segundo as quais a opção por Serra já estaria tomada. O governador chegou a dizer ser vítima de "fofoca".
Segundo aliados de Alckmin, o governador está contrariado com a fixação de fim de março como data para a escolha do candidato. Ansioso, ele teme o desgaste de mais dois meses, até porque duvida que as pesquisas venham a apresentar grande alteração.
"Não acredito em nenhuma mudança grande de pesquisas. As mudanças serão pequenas. Pesquisa só começa a valer quando começar o programa de TV."
A aliados Alckmin se queixou ainda da falta de uma estrutura de articuladores a exemplo da tropa arregimentada por Serra. O governador estaria reclamando da falta de empenho do chefe da Casa Civil, Arnaldo Madeira, a quem não delegou essa função. Apesar das críticas, Madeira tem acompanhado o governador nas atividades públicas, como a de ontem.
Ainda segundo aliados, Alckmin mantém a esperança de que Serra desista de concorrer, temendo uma reação negativa entre os moradores de São Paulo. Segundo tucanos, a proporção de eleitores contrário à renúncia seria de dois por um.
Apesar disso, Alckmin mostrava ontem que se prepara para a possibilidade de ser preterido. "Não irá haver decepção. Não há demérito para quem não for o escolhido", disse em entrevista.


Colaborou ANA PAULA BONI, da Redação


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