São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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PT paulista triunfa; PSDB sai arranhado

Ala "de raiz" do partido volta a ter figura importante na interlocução com Lula; PMDB também acaba bem na disputa

Vistos como responsáveis pela vitória de petista sobre Aldo e questionados por não terem alavancado Agripino, tucanos expõem seu racha


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O maior vencedor das disputas internas na Câmara e no Senado é o PT, sobretudo a seção paulista da sigla. Relegada a um quase ostracismo na crise do mensalão, a agremiação deu a volta por cima. Enquanto analistas falavam numa bancada petista de apenas 40 a 50 deputados, eles saíram da eleição com 83 cadeiras na Câmara.
Acusado de não fazer acordos e alianças, o PT montou o maior grupo partidário para apoiar Arlindo Chinaglia.
Mas faltava ao partido algum protagonismo no plano federal. O chamado "PT de raiz", o grupo paulista que levou a sigla nas costas por mais de duas décadas, estava quase sem chances de receber algum ministério importante de Lula.
Com a eleição de Chinaglia, o núcleo volta a ter alguém capaz de vocalizar os seus pleitos. O mais notório desses personagens é José Dirceu, que teve o mandato de deputado cassado em 2005. Ele apresentará projeto popular para tentar uma anistia. Conta com o beneplácito de Chinaglia na tramitação.
Também saem vitoriosos o PMDB, maior partido do Casa e que apostou em canoas vencedoras, e outras siglas pró-Chinaglia -a chamada trinca mensaleira: PTB, PR e PP.
No Senado, venceu Renan Calheiros (PMDB-AL) por larga margem. Na Câmara, o PMDB deu lastro a Chinaglia. O partido agora espera recompensas na forma de cargos federais relevantes.
O presidente Lula começou mal e terminou bem. Apoiava Aldo Rebelo (PC do B-SP). Notou resistências. Retirou-se publicamente da disputa. Nos bastidores, aquiesceu diante da oferta de recompensas aos apoiadores de Chinaglia.
Derrotado na eleição, Aldo afirmou, ao final da votação, que não teve nem pediu apoio do governo e que sai da disputa sem guardar mágoas. "Quem guarda mágoa não é feliz e vive pouco", disse o deputado, que ressaltou: "A base do governo é problema do governo."
"Quem teve a votação que tive não pode dizer que se sentiu abandonado", disse Aldo. Ele contou que, após a votação, recebeu um telefonema de Lula.
Entre os partidos, o PSDB saiu arranhado das disputas. No Senado, suspeita-se de que os tucanos foram responsáveis pela votação minguada em José Agripino (PFL-RN), que teve menos votos (28) do que o número de tucanos e pefelistas (30). Na Câmara, o PSDB ficou com fama de ter dado a Chinaglia os votos que precisava para vencer no segundo turno.
Em suma, os tucanos são de oposição, ajudaram o governo e saíram rachados.
Defensor da unidade do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu com a autoridade fragilizada, já que a sigla não deu bola para ele.
Entre os tucanos, a ressalva fica com os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (Minas). Traçaram uma estratégia e conseguiram empreendê-la com sucesso. Em público, defenderam a candidatura a presidente da Câmara de Gustavo Fruet (PSDB-PR). Honraram a palavra. A votação do tucano (98 votos) no primeiro turno superou em muito os 64 deputados federais da sigla.
No segundo turno, seguidores de Serra e Aécio descarregaram seus votos em Chinaglia e foram fundamentais. Serra e Aécio cimentaram acordos de bastidores com vários dirigentes petistas. Essa relação de confiança poderá ser útil a ambos, que sonham em ser candidatos a presidente em 2010.
O PFL, a outra sigla de oposição, também saiu esfacelada. Foi humilhada no Senado. Na Câmara, apoiou um comunista. Nada deu certo. Como se não bastasse, os pefelistas se digladiam para escolher os novos líderes do partido.
Por fim, outro personagem pouco venturoso foi o o agora deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Deu entrevistas pregando o caos. Apostou tudo em Aldo. Colecionou novos antagonismos no PT. Queimou assim um pouco do patrimônio que tenta construir para ser candidato a presidente apoiado por Lula e pelo PT nas eleições de 2010.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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