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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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JUDICIÁRIO

Vicente Leal, que teve seu afastamento solicitado, vai analisar se concede habeas corpus para acusado do Mato Grosso

Juiz suspeito decidirá se liberta acusado de ser contador do crime

HUDSON CORRÊA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM CAMPO GRANDE

O ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Vicente Leal, que teve seu afastamento solicitado por uma comissão do tribunal, tem em mãos o julgamento de novo pedido de habeas corpus para Luiz Alberto Dondo Gonçalves.
Preso desde dezembro, Dondo Gonçalves é considerado o responsável pela contabilidade do crime organizado em Mato Grosso, segundo denúncia (acusação formal) do Ministério Público Federal. Ele é ligado ao empresário João Arcanjo Ribeiro, o "comendador", que está foragido da Justiça e é acusado de chefiar o crime organizado no Estado.
O nome do juiz do STJ Vicente Leal é citado nos relatórios de grampos da Polícia Federal na investigação que aponta um suposto esquema de venda de habeas corpus para narcotraficantes.
Uma comissão de sindicância do STJ decidiu recomendar a abertura de processo administrativo contra Leal e o seu afastamento. De acordo com a comissão, há indícios suficientes de conduta irregular no cargo.
A Agência Folha fez pedidos de entrevista à assessoria do ministro nesta semana e, até anteontem, ele não havia entrado em contato com a reportagem.
O processo com pedido de liminar para que Dondo Gonçalves, 51, seja solto deu entrada na Justiça em 30 de janeiro, oito dias após a viagem a Cuiabá (MT) do advogado Erick Travassos Vidigal, 28, filho do ministro Edson Vidigal, vice-presidente do STJ.
A PF apura esquema de "negociação de decisões" no STJ. Escutas com autorização judicial puseram sob suspeita Erick, que estaria negociando contrato de R$ 2 milhões por seus serviços com advogados ligados a Arcanjo, foragido desde dezembro.
Para julgar o habeas corpus, o ministro Leal, em despacho publicado no dia 19 deste mês, pede mais informações ao Tribunal Regional Federal, que decidiu manter Dondo Gonçalves preso.
O outro processo com pedido de liminar para Dondo Gonçalves, que deu entrada no STJ também no dia 30 de janeiro e no mesmo horário, foi indeferido pelo ministro Fernando Gonçalves.
O primeiro pedido de habeas corpus para Dondo Gonçalves foi negado pelo ministro Edson Vidigal no dia 21 de janeiro. O ministro e seu filho Erick Vidigal são citados nas gravações da Polícia Federal. Nas conversas, lobistas e advogados discutem, entre outros temas, a concessão de habeas corpus para Dondo Gonçalves.
"O Erick tá vindo aqui. É o Erick, o filho do velho lá, entendeu? Ele tá vindo trazer a cópia [do despacho] aqui", diz um dos trechos da conversa publicados pela Folha no domingo passado.
A liminar que colocaria Dondo Gonçalves em liberdade foi indeferida por Vidigal sob o argumento de que a concessão afrontaria a jurisprudência do STJ.
O procurador em Mato Grosso, Pedro Taques, pediu a abertura de inquérito. Vidigal se ofereceu para depor na quarta e na quinta e pediu que fosse quebrado o segredo de Justiça do inquérito para que as informações fiquem públicas. Isso foi negado.
O ministro disse que recebeu o advogado Eduardo de Vilhena Toledo em seu gabinete às vésperas de julgar o habeas corpus.
Toledo advoga para Arcanjo e Dondo Gonçalves e pediu "preferência" no julgamento. Vidigal afirma que isso é comum.
Toledo foi procurado desde terça-feira pela Agência Folha, mas não ligou de volta. A reportagem foi informada na quinta que ele viajou e só volta após o Carnaval. Em Mato Grosso, o advogado Henrique Augusto Vieira disse que não poderia dar entrevistas.


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