UOL

São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO PLANALTO

Governo impõe mordaça ao funcionalismo

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No passado recente, a junção do PT com a máquina de xerox interrompeu a carreira de vários segredos nas repartições públicas de Brasília. Infiltrado na engrenagem do Estado, o petismo abiscoitou dados sigilosos de sucessivas administrações, de Sarney a FHC.
Receando provar do próprio veneno, o governo do ex-PT adotou a política da língua presa. Submetidos a uma espécie de centralismo informativo, os funcionários públicos são "aconselhados" a evitar contatos com jornalistas. Justo, muito justo, justíssimo.
Sob Lula, Brasília vive uma fase de oba-oba. Que não pode ser conspurcada pela desenvoltura de jornalistas fuçadores. Ir muito fundo na investigação de qualquer tema é um desserviço à causa da unanimidade.
O repórter que pergunta demais é um chato que deve ser contido. Pelo menos até entender que o ambiente de oba-oba não comporta a velha dicotomia entre certo e errado. Agora só há o conveniente e o inconveniente. E a crítica não convém.
A situação de Lula reclama compreensão. É dura a vida de um presidente que luta para salvar a biografia ao mesmo tempo em que cuida da unidade do PMDB, que quer um ou dois ministérios, não uma boa reputação. Não é fácil dividir uma cena que se pretendia renovadora com atores antiquados como José Sarney.
A hora é mesmo de ajudar o governo. Vai aqui, a propósito, uma sugestão: a censura deveria ser estendida ao primeiro escalão.
O que se depreende das declarações oficiais é que presidente e ministros não têm nada a dizer. Repetem idéias e conceitos de governos anteriores, sobretudo da gestão FHC.
A estratégia da língua presa pode estimular a suspeita de que a administração petista se autoconsidera impublicável. Mas não se deve enxergar na medida um viés antidemocrático.
Está preservado o direito de qualquer um de concordar inteiramente com o governo.
Iniciada na Presidência, a política da língua sitiada escala a Esplanada. É o que demonstra o documento reproduzido nesta página. Na SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão que pende do organograma da pasta da Justiça, os funcionários já não podem dizer um "olá" aos jornalistas sem pedir autorização aos superiores. Justo, muito justo, justíssimo.
A SDE está na bica de analisar a fusão Varig-TAM. O negócio tende a impor ao consumidor passagens mais caras e serviços mais vulgares. Mas a transação é costurada sob os auspício$ do bom e velho BNDES. De modo que o questionamento não convém.
No Planalto, a gestão do cercadinho da informação foi confiada ao general Jorge Armando Félix, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O correio eletrônico dos funcionários vem sendo bombardeado com orientações sobre o que convém: evitar jornalistas, trancar portas e gavetas etc, etc, etc...
Informou-se em nota: "Eventuais indiscrições e inconfidências podem prejudicar os órgãos detentores do conhecimento, as autoridades responsáveis, o governo e o país".
O mais provável é que o esforço se revele inócuo. Em pouco tempo, o ex-PT vai descobrir que os funcionários "impatrióticos" são tantos que não há número suficiente de militares para controlá-los. Sempre restará a alternativa de levar as línguas rebeldes ao paredão.


Texto Anterior: Elio Gaspari: A aula do doutor Maniglia
Próximo Texto: Espírito Santo: Gratz deve ficar preso durante todo o feriado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.