São Paulo, terça-feira, 02 de abril de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidente nomeia presidente de Itaipu para a Secretaria Geral; Carlos Velloso recusa convite para Justiça

FHC indica Scalco e convida ministro do STF

RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O paranaense Euclides Scalco, 70, é o novo secretário-geral da Presidência. Scalco, atual presidente da Itaipu Binacional, é o primeiro nome a ser confirmado de um grupo de ministros-chave com os quais FHC quer encerrar o governo e fazer a ponte com a campanha de José Serra (PSDB).
Desse núcleo, farão parte os ministros palacianos, a equipe econômica e o Ministério da Justiça, para o qual foi convidado ontem o ministro Carlos Velloso, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo a Folha apurou, Velloso não aceitou o convite. Em razão da recusa, FHC vai tentar outro ministro do STF, Ilmar Galvão.
Serra participa ativamente da confecção do novo ministério de FHC. Scalco vai compor com Pedro Parente (Casa Civil) o núcleo forte do Palácio do Planalto nos últimos meses de governo. O presidente resolveu não mexer na área econômica. Por isso Everardo Maciel (Receita Federal), que era cotado para a Previdência Social, fica onde está. José Cechin, secretário-executivo da Previdência, assumirá o ministério.
A escolha de um ministro do Supremo para a Justiça abriria caminho para solucionar um dos pontos fracos do atual governo: a falta de um interlocutor de peso com o Judiciário. Vantagem extra: ela abriria mais uma vaga para FHC preencher no Supremo.
No Ministério das Comunicações, Pimenta da Veiga dará lugar ao secretário-executivo, Juarez Quadros. Caio Carvalho, presidente da Embratur, será efetivado na pasta dos Esportes e Turismo. Outro interino que virou titular, José Carlos Carvalho continuará no Meio Ambiente. E Paulo Jobim, secretário-executivo do Ministério do Trabalho, irá para o lugar do chefe, Francisco Dornelles.
Além da Justiça, a situação de outros três ministérios ainda estava indefinida até ontem as 19h: Transportes, Desenvolvimento Agrário e Integração Nacional.
Raul Jungmann tende a ficar na pasta do Desenvolvimento Agrário, mas isso dependia ainda de uma conversa entre o ministro e Fernando Henrique Cardoso.
Ney Suassuna, que deseja ficar na Integração Nacional, também conversaria com o presidente. Suassuna está sendo pressionado pelos peemedebistas a sair candidato a governador na Paraíba, mas Serra costura para ele ficar, a fim de facilitar uma eventual aliança PMDB-PSDB no Estado. O pernambucano Dorani Sampaio (PMDB) é uma opção.
Nos Transportes, há um cabo-de-guerra entre tucanos e peemedebistas. O PSDB quer manter Alderico Lima, mas o PMDB pretende nomear o deputado federal João Henrique (PI). FHC e o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), conversavam sobre isso até as 19h de ontem.
A pasta de Minas e Energia deverá ser ocupada por um técnico. Pedro Parente, que fica na Casa Civil, deseja indicar Otávio Castelo Branco, do BNDES. Mas tucanos tentam emplacar outro técnico. FHC deseja usar o ministério para continuar a atender a bancada do PFL, partido que detinha a pasta até o rompimento de uma aliança de quase oito anos.

Lógica
A reforma que FHC deve concluir hoje tem uma lógica. Segundo o Planalto, o governo não "inventa" mais nada neste ano, a não ser por alguma necessidade conjuntural. A idéia é consolidar a rede de proteção social, manter o que está sendo feito na agricultura (por isso Pratini de Moraes fica no ministério) e avançar na exportação. Após três ministros no Desenvolvimento, FHC acha que Sergio Amaral deu um rumo para a pasta.
O Planalto desistiu da reforma política. No máximo, dará o pontapé inicial na reforma tributária. A lógica da reforma, portanto, é arrumar a casa para FHC terminar bem seus últimos anos de governo e estabelecer a ponte com a campanha de Serra, o candidato de FHC à própria sucessão.
Scalco atende aos dois requisitos. Amigo do presidente, inspira segurança e confiança em FHC. Ao final da campanha da reeleição, o tucano paranaense foi chamado para a coordenação política do Planalto. Não aceitou devido a problemas familiares e por suspeitar de que teria de dividir a articulação com Clóvis Carvalho, ex-chefe da Casa Civil. O presidente voltou a chamá-lo outras duas vezes.
A nomeação de Scalco é resultado também da consolidação da candidatura Serra no PSDB: ele pertence ao grupo do Paraná liderado por José Richa, ligado ao governador Mário Covas, que se inclinava pela candidatura de Tasso Jereissati (CE) ao Planalto. É nesse contexto também que Pimenta da Veiga (Comunicações), outro ex-aliado de Tasso, deixa o ministério para chefiar a campanha de Serra.
Scalco assumirá o cargo amanhã em cerimônia coletiva dos novos ministros no Palácio do Planalto. O primeiro desafio de Scalco será articular a votação da CPMF na Câmara e no Senado. "Com certeza [a CPMF" é a principal preocupação do governo. Vou pensar nisso a partir de quarta-feira", afirmou Scalco.
FHC afirmou ontem, por meio de seu porta-voz, que não fez "restrições" pessoais a indicações de qualquer partido da base, incluindo o PFL na reforma ministerial desta semana.


Colaboraram LUIZA DAMÉ e LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília



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