São Paulo, terça-feira, 02 de abril de 2002

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NO AR

Silêncio

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Iasser Arafat, segundo relatos não de todo confiáveis, já que a bateria do celular acabou e poucos chegam até seu refúgio, dizia ontem que "existe uma conspiração de silêncio" contra ele.
Chega a soar estranho, vindo de quem bateu o telefone na cara de Cristiane Amanpour, da CNN, na sexta. Ele não gostou de duas perguntas, exigiu equilíbrio da CNN -que não favorecesse Ariel Sharon- e desligou ao vivo.
Agora Arafat questiona a "conspiração de silêncio" -e não está errado.
Antes de Amanpour, semana passada, ele já havia falado à emissora Al Jazeera. Não mais. Desde a ocupação de Ramallah, os correspondentes do canal do Qatar estão sem sair do prédio, cercado por tanques e ocupado por soldados:
- Não nos deixam sair.
Não deixam chegar a Arafat. Nem Al Jazeera nem qualquer outro canal árabe.
A CNN conseguiu no fim de semana, mas para tanto seguiu os militantes pacifistas que avançaram em meio aos soldados atônitos.
Com direito à bandeira do MST, fartamente mostrada na CNN, parecia cena de "Terra de Ninguém", sátira de guerra que venceu o Oscar.
Mostrando ter aprendido a lição americana do Afeganistão, os soldados de Sharon não demoraram a acabar com a cobertura de TV.
Outras redes já sofreram com a censura a Arafat e seja lá o que mais não se quer mostrar -a começar das imagens de Ramallah destruída.
Uma equipe da CBS foi cercada por sete veículos militares e retirada da cidade. A agência Reuters, que fornece imagens de TV, informou ela mesma que foi expulsa de sua sucursal. De um jornalista brasileiro, de seu hotel em Ramallah, para o Jornal da Band:
- Ninguém pode sair.
O resultado é que George W. Bush, Sharon, seu ministro do Exterior, da Defesa etc. falam sozinhos -sem um Arafat para dizer que não e sem cenas de horror para atrapalhar.
 
- Preferia que estivesse com a bandeira brasileira.
A crítica do ministro Celso Lafer à bandeira do MST estendida por Arafat não poderia soar mais canhestra.
FHC havia reagido de imediato em favor de Arafat e contra a ocupação. Prometeu tropas para uma força de paz. Mas não, quem foi parar nos telejornais do mundo foi o MST -que um ministro seu, dias antes, chamou de "terrorista".
Não se troca de lado assim, tão rápido.


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