|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO AR
Silêncio
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Iasser Arafat, segundo
relatos não de todo confiáveis, já que a bateria do celular
acabou e poucos chegam até seu
refúgio, dizia ontem que "existe
uma conspiração de silêncio"
contra ele.
Chega a soar estranho, vindo
de quem bateu o telefone na cara de Cristiane Amanpour, da
CNN, na sexta. Ele não gostou
de duas perguntas, exigiu equilíbrio da CNN -que não favorecesse Ariel Sharon- e desligou ao vivo.
Agora Arafat questiona a
"conspiração de silêncio" -e
não está errado.
Antes de Amanpour, semana
passada, ele já havia falado à
emissora Al Jazeera. Não mais.
Desde a ocupação de Ramallah,
os correspondentes do canal do
Qatar estão sem sair do prédio,
cercado por tanques e ocupado
por soldados:
- Não nos deixam sair.
Não deixam chegar a Arafat.
Nem Al Jazeera nem qualquer
outro canal árabe.
A CNN conseguiu no fim de
semana, mas para tanto seguiu
os militantes pacifistas que
avançaram em meio aos soldados atônitos.
Com direito à bandeira do
MST, fartamente mostrada na
CNN, parecia cena de "Terra de
Ninguém", sátira de guerra que
venceu o Oscar.
Mostrando ter aprendido a lição americana do Afeganistão,
os soldados de Sharon não demoraram a acabar com a cobertura de TV.
Outras redes já sofreram com
a censura a Arafat e seja lá o
que mais não se quer mostrar
-a começar das imagens de
Ramallah destruída.
Uma equipe da CBS foi cercada por sete veículos militares e
retirada da cidade. A agência
Reuters, que fornece imagens de
TV, informou ela mesma que foi
expulsa de sua sucursal. De um
jornalista brasileiro, de seu hotel em Ramallah, para o Jornal
da Band:
- Ninguém pode sair.
O resultado é que George W.
Bush, Sharon, seu ministro do
Exterior, da Defesa etc. falam
sozinhos -sem um Arafat para
dizer que não e sem cenas de
horror para atrapalhar.
- Preferia que estivesse com
a bandeira brasileira.
A crítica do ministro Celso Lafer à bandeira do MST estendida por Arafat não poderia soar
mais canhestra.
FHC havia reagido de imediato em favor de Arafat e contra a
ocupação. Prometeu tropas para uma força de paz. Mas não,
quem foi parar nos telejornais
do mundo foi o MST -que um
ministro seu, dias antes, chamou de "terrorista".
Não se troca de lado assim, tão
rápido.
Texto Anterior: Eleições-2002: Pesquisa aponta Serra em 2º lugar, com 19% Próximo Texto: Panorâmica - Questão agrária: TJ autoriza uso de laudo no caso Carajás Índice
|