São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Em nota, partido classifica como irresponsável declaração de Thomaz Bastos sobre fita em que subprocurador negocia com Cachoeira

Acusação de conspiração é facciosa, diz PSDB

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Executiva Nacional do PSDB divulgou ontem uma nota em que afirma ser "facciosa", "inaceitável", "desequilibrada" e "irresponsável", entre outros adjetivos, a declaração do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) de que haveria uma "espécie de conspiração" para derrubar o governo. "A única conspiração evidente é a conspiração do PT e de seu governo contra a busca da verdade."
Lidas no plenário da Câmara dos Deputados pelo líder da bancada do PSDB, Custódio Mattos (MG), as críticas foram motivadas por declarações feitas anteontem -e repetidas ontem- por Bastos, escalado pelo governo para falar sobre a gravação da conversa entre o subprocurador-geral da República, José Roberto Santoro, e o empresário dos jogos Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na fita, o subprocurador negocia com Cachoeira a entrega de uma outra gravação na qual o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz pede propina e dinheiro para campanha ao empresário dos jogos.
O ministro disse ver na gravação da conversa de Santoro uma "espécie de conspiração" com o objetivo de prejudicar José Dirceu (Casa Civil) e derrubar o governo.
"O ministro da Justiça, de quem se deveria esperar prudência, adota atitude facciosa, inaceitável para quem controla a Polícia Federal", diz a nota do PSDB. "A declaração de que haveria uma conspiração em andamento para derrubar o presidente da República seria apenas ridícula, não fosse grave. A atitude evidencia desequilíbrio e irresponsabilidade."
Para o PSDB, o governo procura intimidar o Ministério Público e "encobrir a verdade". "Procura-se agora intimidar o Ministério Público, desorganizar a Polícia Federal e turvar a atmosfera de tranqüilidade institucional."
O texto tucano pede, por fim, que haja nova mobilização no Congresso para a instalação de uma CPI do caso Waldomiro.
"A nota busca, por meio de várias bravatas, caracterizar que o nosso governo não está desenvolvendo a apuração. Não é o que acontece", disse Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada do PT na Câmara, que citou as investigações da sindicância do Planalto, do inquérito na PF, do Ministério Público e da CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
"É mentira tentar dizer que o governo tenta intimidar o Ministério Público", disse Chinaglia.
O Ministério da Justiça afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Bastos não iria se pronunciar, mas negou que o ministro tenha declarado categoricamente que há conspiração contra o governo, afirmando, sim, que há "sinais de conspiração" que devem ser investigados pela Corregedoria do Ministério Público.


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