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EXPO 2000
Presidente pede na Alemanha que "alguma coisa prática" seja feita para eliminar a pobreza de nações emergentes
FHC cobra solidariedade dos países ricos
CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A HANNOVER
O presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem dos
países desenvolvidos "alguma
coisa prática" para enfrentar o
que disse ser "a obsessão de todos
nós, que é a luta contra a pobreza". A cobrança foi feita quando o
presidente falava dos temas que
serão discutidos hoje e amanhã,
em Berlim, pelos mandatários de
15 países, sob o tema "Governança Progressista".
É o novo nome que vem sendo
dado à "Terceira Via", a busca de
um caminho intermediário entre
o neoliberalismo hoje hegemônico e a antiga tendência estatizante
da social-democracia (todos os
convidados se dizem social-democratas ou próximos dessa corrente ideológica).
Para FHC, "lutar contra a pobreza não é simplesmente denunciar a pobreza, é criar os mecanismos para que ela desapareça".
É isso que o presidente brasileiro espera que surja do encontro
de Berlim.
Esforço
O sociólogo Vilmar Faria, assessor especial de FHC, por sua vez,
explica que o presidente deverá
chamar a atenção para o esforço
que os países emergentes já fizeram para "colocar em ordem as finanças públicas segundo as exigências do mundo globalizado e
competitivo".
Estariam, portanto, preparados
em tese para "ampliar o esforço
de inclusão social", mas cobram,
como o fez FHC, a solidariedade
dos países ricos.
A esperança de que o documento contenha "alguma coisa prática" sobre pobreza é vã: o rascunho quase definitivo do texto final
do encontro trata de todos os temas apenas conceitualmente, não
com "alguma coisa prática" como
demanda FHC.
Mercado
Em todo o caso, outra reivindicação do governo brasileiro (a de
que os países ricos abram seus
mercados aos países em desenvolvimento) será atendida pelo
documento.
Os mandatários dirão que, de
fato, é importante que os países
desenvolvidos abram seus mercados para a produção dos demais.
Mas essa promessa já consta de
inúmeros outros textos oficiais do
mundo rico e, não obstante, persistem barreiras tanto na Europa
como nos Estados Unidos.
O texto também fará menção,
mas insuficiente, a uma terceira
reivindicação de FHC, que é a de
"uma redefinição do controle sobre o sistema financeiro internacional", como ele mesmo disse
ontem.
O documento concorda com a
necessidade de redefinição, mas
diz que existem vários organismos já cuidando do assunto e que
é necessário aprofundar os passos
dados até agora (e que FHC tem
considerado "tímidos").
Por fim, Fernando Henrique
Cardoso defenderá a necessidade
de uma cooperação mais concreta
entre países ricos e países em desenvolvimento nas áreas de ciência e tecnologia.
Documento final
Pelo que a Folha apurou as oito
páginas do documento, em seu
rascunho quase final, estão divididas em duas grandes sessões. A
primeira trata das questões internas dos países em geral, enquanto
a segunda aborda o relacionamento internacional.
Exatamente por se tratar de um
texto conceitual, não conterá definições mais precisas, ou seja, não
será um bula sobre como devem
se comportar governantes que se
considerem "progressistas".
"A diversidade de situações entre os países é muito grande e não
dá para ser específico", diz Vilmar
Faria, um dos especialistas que
participarão do debate prévio ao
encontro dos governantes.
Os especialistas, sim, darão um
passo prático: criarão um mecanismo permanente de consulta
entre eles, utilizando a Internet,
no que seria a comunidade acadêmica virtual da "Governança Progressista", embora Faria prefira o
termo "profissional", em vez de
acadêmica.
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