São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2000


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EXPO 2000
Presidente pede na Alemanha que "alguma coisa prática" seja feita para eliminar a pobreza de nações emergentes
FHC cobra solidariedade dos países ricos

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A HANNOVER

O presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem dos países desenvolvidos "alguma coisa prática" para enfrentar o que disse ser "a obsessão de todos nós, que é a luta contra a pobreza". A cobrança foi feita quando o presidente falava dos temas que serão discutidos hoje e amanhã, em Berlim, pelos mandatários de 15 países, sob o tema "Governança Progressista".
É o novo nome que vem sendo dado à "Terceira Via", a busca de um caminho intermediário entre o neoliberalismo hoje hegemônico e a antiga tendência estatizante da social-democracia (todos os convidados se dizem social-democratas ou próximos dessa corrente ideológica).
Para FHC, "lutar contra a pobreza não é simplesmente denunciar a pobreza, é criar os mecanismos para que ela desapareça".
É isso que o presidente brasileiro espera que surja do encontro de Berlim.

Esforço
O sociólogo Vilmar Faria, assessor especial de FHC, por sua vez, explica que o presidente deverá chamar a atenção para o esforço que os países emergentes já fizeram para "colocar em ordem as finanças públicas segundo as exigências do mundo globalizado e competitivo".
Estariam, portanto, preparados em tese para "ampliar o esforço de inclusão social", mas cobram, como o fez FHC, a solidariedade dos países ricos.
A esperança de que o documento contenha "alguma coisa prática" sobre pobreza é vã: o rascunho quase definitivo do texto final do encontro trata de todos os temas apenas conceitualmente, não com "alguma coisa prática" como demanda FHC.

Mercado
Em todo o caso, outra reivindicação do governo brasileiro (a de que os países ricos abram seus mercados aos países em desenvolvimento) será atendida pelo documento.
Os mandatários dirão que, de fato, é importante que os países desenvolvidos abram seus mercados para a produção dos demais. Mas essa promessa já consta de inúmeros outros textos oficiais do mundo rico e, não obstante, persistem barreiras tanto na Europa como nos Estados Unidos.
O texto também fará menção, mas insuficiente, a uma terceira reivindicação de FHC, que é a de "uma redefinição do controle sobre o sistema financeiro internacional", como ele mesmo disse ontem.
O documento concorda com a necessidade de redefinição, mas diz que existem vários organismos já cuidando do assunto e que é necessário aprofundar os passos dados até agora (e que FHC tem considerado "tímidos").
Por fim, Fernando Henrique Cardoso defenderá a necessidade de uma cooperação mais concreta entre países ricos e países em desenvolvimento nas áreas de ciência e tecnologia.

Documento final
Pelo que a Folha apurou as oito páginas do documento, em seu rascunho quase final, estão divididas em duas grandes sessões. A primeira trata das questões internas dos países em geral, enquanto a segunda aborda o relacionamento internacional.
Exatamente por se tratar de um texto conceitual, não conterá definições mais precisas, ou seja, não será um bula sobre como devem se comportar governantes que se considerem "progressistas".
"A diversidade de situações entre os países é muito grande e não dá para ser específico", diz Vilmar Faria, um dos especialistas que participarão do debate prévio ao encontro dos governantes.
Os especialistas, sim, darão um passo prático: criarão um mecanismo permanente de consulta entre eles, utilizando a Internet, no que seria a comunidade acadêmica virtual da "Governança Progressista", embora Faria prefira o termo "profissional", em vez de acadêmica.


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