São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2000


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CONFLITO NO CAMPO
Sem-terra voltam a invadir sede do Incra em Salvador
CUT invade dez fazendas em MS

CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O Departamento Estadual dos Trabalhadores Rurais da Central Única dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul, que reúne 22 sindicatos de trabalhadores rurais, liderou ontem de madrugada a invasão de dez fazendas em nove cidades do Estado. A ação mobilizou cerca de mil famílias.
Segundo a coordenação regional da CUT, o órgão planeja outras dez invasões para os próximos dias. No final da tarde, cerca de 145 famílias de sem-terra se preparavam para ocupar a 11ª propriedade, em Pedro Gomes (328 km de Campo Grande).
O vice-presidente da CUT, Paulo César Faria, informou que os sem-terra estão orientados a resistir a ações de reintegração de posse e a reações de fazendeiros.
"'Vamos até o fim. O governo federal precisa rever os baixos valores que destina à reforma agrária", disse. Segundo ele, os R$ 38 milhões reservados para Mato Grosso do Sul são insuficientes para assentar as cerca de 13 mil famílias de sem-terra.
"A metade vai para os donos de fazendas desapropriadas. O resto daria para assentar no máximo 2.000 famílias. Precisamos de R$ 120 milhões", afirmou.
As dez invasões de ontem ocorreram entre 2h e 4h. Não houve conflitos. O único incidente aconteceu em Amambaí, onde as famílias derrubaram a ponte de acesso à sede da fazenda Laguna Peru. Segundo a CUT, a ponte foi derrubada para dificultar o acesso de "jagunços" à propriedade.
De acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Estado, 8 das 10 fazendas invadidas já foram vistoriadas e consideradas improdutivas. Celso Cestari, superintendente do órgão, disse que isso não justifica as invasões. "Se o Incra já vistoriou, é uma questão de tempo, logo a situação seria regularizada e os lotes distribuídos", disse Cestari. "Queremos acelerar o processo", afirmou Faria.
O representante regional do Movimento Nacional dos Produtores, organização que responde pelos fazendeiros, Renato Merem, pediu providências do governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. Merem acha que a CUT "deu um tiro no próprio ouvido". "Fazenda invadida não será vistoriada. É uma ordem que vem do governo federal."

Bahia
Cerca de 1.100 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem de manhã o pátio do prédio do Incra em Salvador.
Com isso, a direção estadual do MST quer forçar o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) a nomear o novo superintendente do órgão, cargo que está vago no Estado desde dezembro do ano passado. É a segunda vez que o MST invade a sede do Incra neste ano. Há dois meses, 500 sem-terra ficaram no prédio durante duas semanas, também reivindicando a nomeação do novo superintendente. Na época, Jungmann disse que só aceitava negociar depois da desocupação.
"O ministro Jungmann não cumpriu com a sua palavra. Então, vamos partir para o confronto", disse Valmir Assunção, coordenador do MST na Bahia.


Colaboraram Eduardo de Oliveira e a Agência Folha, em Salvador


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