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Governo agora investe na cooperação Sul/Sul
DO ENVIADO A EVIAN
O governo brasileiro explicitou
ontem que está fazendo uma
aposta forte no chamado relacionamento Sul/Sul, ou seja, entre os
países em desenvolvimento.
"O presidente Lula se entusiasmou muito com a possibilidade
de uma reunião entre os grandes
países em desenvolvimento, o que
incluiria China e Rússia", disse o
chanceler Celso Amorim, depois
de dois dias de reuniões bilaterais
entre a delegação brasileira e governantes de Arábia Saudita, Senegal, África do Sul, Nigéria, Argélia e Rússia. Hoje, Lula fecha o
círculo, ao reunir-se com o primeiro-ministro da Índia, Atal Bihari Vajpayee, e com o presidente
da China, Hu Jintao.
"Saímos das reuniões com a
consciência de que os países em
desenvolvimento precisam estreitar relações entre si", disse o próprio Lula, em entrevista coletiva.
O presidente sugeriu que se faça
no Brasil a próxima cúpula do
G15, um grupo de países em desenvolvimento de que o Brasil faz
parte, mas que vinha tratando
com certo descaso.
Reuniões à parte, o encontro
com o primeiro-ministro argelino, Abdelaziz Bouteflika, rendeu
cooperação concreta: o Brasil vai
enviar ajuda humanitária ao país,
vítima de recente terremoto que
causou a morte de mais de 3.000
pessoas. Além disso, vai estudar a
possibilidade de colaborar na reconstrução das 15 mil casas.
Outro passo no rumo da cooperação Sul/Sul será dado nos dias 5
e 6, em Brasília, na primeira reunião da chamada Trilateral do Sul.
Chanceleres do Brasil, África do
Sul e Índia discutirão passos concretos para a cooperação.
"Um acordo na área de transporte marítimo, por exemplo, pode facilitar o comércio do Mercosul com a Índia, via África do Sul",
sonha o ministro Celso Amorim.
A Folha quis saber de Amorim
se o esquema Sul/Sul poderia ser
uma resposta preventiva à hipótese de fracasso nas negociações comerciais com a União Européia e
os EUA. "Não é alternativa. A
cooperação é boa em si mesmo e,
além disso, reforça nosso poder
de barganha ante os países desenvolvidos", respondeu Amorim.
Também não é uma cooperação
de pobres com pobres, com resultados igualmente pobres, diz o assessor diplomático da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Lembra, primeiro, que a China
tornou-se, em abril, o segundo
maior mercado para exportações
brasileiras, após os EUA. Lembra
igualmente que, com Índia e China, as trocas comerciais envolvem
"rubricas de primeiro mundo",
como informática, aviões e fármacos. "Não estamos trocando
manga por kiwi."
(CR)
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