São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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"OPERAÇÃO GATINHO"

Policiais de Brasília fazem operação sem informar colegas de SP com o argumento de evitar vazamento

Polícia Federal esconde ação da própria PF

Jefferson Coppola/Folha Imagem
O suspeito de contrabando Law Kin Chong chega algemado à sede da Polícia Federal em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

A operação da Polícia Federal que levou à prisão do acusado de contrabando Law Kin Chong, empresário que comanda lojas em três shoppings de produtos importados em São Paulo, foi realizada pela Polícia Federal de Brasília sem o conhecimento da PF paulistana.
A CPI da Pirataria e a PF temiam que a informação de que estava em curso operação para prender Chong vazasse para o empresário e ele recuasse no fim das negociações para tentar corromper o deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
Com a aprovação do diretor-geral da PF de Brasília, Paulo Lacerda, e sob comando do delegado federal de Brasília Protógenes Queiroz, foram deslocados 30 policiais federais do Distrito Federal e do interior de São Paulo. Alguns vieram de carro, porque a simples aquisição de uma passagem aérea poderia revelar a realização de uma operação em São Paulo.
Queiroz é delegado de confiança de Lacerda e também foi deslocado a São Paulo para apurar as movimentações milionárias na Suíça atribuídas a Paulo Maluf e Celso Pitta, ex-prefeitos de São Paulo. Delegado especializado em lavagem de dinheiro, Queiroz foi transferido de São Paulo para Brasília após a posse de Lacerda.
A Folha apurou que alguns encontros em São Paulo entre policiais federais de outras cidades que investigaram o caso e o deputado Medeiros e seus assessores ocorreram em hotéis, em quartos alugados pelo parlamentar, tudo para não despertar suspeitas na PF paulistana.
Durante toda a operação, os policiais e integrantes da CPI eram proibidos de pronunciar o nome do empresário. Para se referir a Chong, chamavam-no de "Gatinho". Eles repetiam o tratamento dado ao empresário pelo advogado Pedro Sarlo. Na memória de seu telefone celular, o advogado gravou o telefone de Chong como "Tigresa". Por isso, a investigação ganhou o nome informal de "Operação Gatinho". O nome oficial foi "Shogun" -senhor da guerra do Japão medieval (Chong é chinês naturalizado brasileiro).
Ontem à tarde, de Brasília, Lacerda era mantido informado sobre o andamento da operação e foi informado minutos depois sobre a prisão de Chong.
"O Law é tão grande que a PF teve de trabalhar clandestinamente", disse o deputado federal Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), que preside a CPI e participou de toda a operação.
"Um juiz havia me dito: "O Law é blindado, não adianta". Ele tem mais de cem pessoas influentes, em cargos-chave. Até na companhia telefônica", disse Medeiros.
É a segunda grande operação que ocorre sem o conhecimento do superintendente regional da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva. Após a primeira, a Operação Anaconda, que prendeu o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, um delegado federal, um agente federal e levantou suspeita sobre outros policiais federais, o superintendente chegou a chorar, durante um evento público, sentindo-se traído por superiores.
Baltazar é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem deu proteção policial durante três campanhas eleitorais à Presidência da República.
Embora a PF paulistana não tenha participado da operação contra Chong, o Ministério Público Federal acompanhou o caso por meio do procurador da República Pedro Barbosa, que também atua nas investigações sobre Maluf e Pitta. Ele acompanhou a prisão de Pedro Sarlo. (RV e CG)


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