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JANIO DE FREITAS
O crime, por acaso
A insistência dos governistas, e
do próprio Fernando Henrique
Cardoso, de que o grampo registrou apenas esforços para aumentar a concorrência e o valor, no
leilão das teles, transformou um
mau argumento, precipitado pelo
susto com a revelação dos diálogos, em reconhecimento de práticas injustificáveis por todos os envolvidos.
É simples: se os diálogos transcritos expusessem esforços legais e
decentes, os governistas e o próprio Fernando Henrique não estariam qualificando a publicação
como criminosa, mas a louvando
como prova da sua lealdade ao interesse público. O mesmo Fernando Henrique não estaria propondo, com o eco dos seus áulicos, restrições à divulgação de quaisquer
documentações não autorizadas.
Em vez de pretender essa redução
fascistóide do jornalismo às publicações convenientes ao governo, estaria explorando o seu feito
para (mais) propaganda.
Se o governo fez bem, a Folha
não fez mal em mostrar isso ao
país. Mas fez mal ao governo e
bem ao país se o governo fazia
bem a si e mal ao país.
Por que não houve incentivo à
competição e ao melhor preço nos
tantos outros leilões de telefônicas? Por que tal esforço só no leilão do pudim de 16 empresas, inclusive a Telerj, pretendido por
um certo consórcio?
Dado que o pessoal do governo
agiu sempre no interesse público,
o que se observa de peculiar naquele leilão e no consórcio só pode
ser uma série de acasos inexplicáveis. A formação do consórcio foi
organizada por Pérsio Arida, que,
precisando para tanto do apoio de
uma entidade empresarial, recebeu o título de diretor do banco
Opportunity, em cujo nome passou a atuar.
Por acaso, o comando do processo de privatização, pelo lado do
BNDES, estava com Lara Resende, o mais próximo amigo e companheiro de atividades profissionais de Arida, desde remotos tempos. Por acaso, na privatização,
pelo lado ministerial, estava
Mendonça de Barros, que até
pouco antes possuía com Lara Resende o banco de investimentos financeiros Matrix, caso excepcional de lucros excepcionais com
brevidade excepcional.
Por acaso, os diálogos que comprometem Mendonça de Barros,
Lara Resende e Fernando Henrique em manobras e pressões deformantes do leilão, fortalecendo
um consórcio com o fundo de previdência do Banco do Brasil, favoreciam o consórcio representado
por Pérsio Arida.
Não é por acaso que os governistas precisam ficar chafurdados na
contradição de que as fitas só
mostraram atitudes admiráveis,
da sua parte, e a divulgação disso
foi caluniosa, difamatória, injuriante. Criminosa.
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