São Paulo, Quarta-feira, 02 de Junho de 1999
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GRAMPO NO BNDES
Ministro afirma que há "diferenças" entre setores do governo
Calheiros vê "crise" entre PF e inteligência do governo

AUGUSTO GAZIR
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília


O ministro Renan Calheiros (Justiça) reconheceu ontem que há "crise", "rusga" e "tremor" na relação entre a Polícia Federal -subordinada a ele- e o setor de inteligência federal, comandado pelo general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar da Presidência da República.
"Não dá para esconder as divergências", afirmou Calheiros. "Se essas coisas continuarem a acontecer, não vamos chegar a lugar nenhum", disse.
Segundo o ministro, há dois tipos de inteligência: a policial, que investiga em busca de provas, e a clássica, que assessora o governo e o presidente da República.
"Essas coisas precisam definitivamente ser separadas. Se você juntar as duas coisas, vai colaborar para uma guerra que não tem sentido. É preciso dizer isso", afirmou o ministro da Justiça.
"Isso tudo terá de ser resolvido. Agora, é preciso ter humildade e conversar. Colocar o problema sobre a mesa e não tentar escondê-lo embaixo do tapete", afirmou Calheiros.
O ministro disse que seu propósito é buscar conciliação com o general Cardoso. "Se separarmos as duas inteligências, nós não vamos ter crise. É preciso que todos saibam que um não pode atropelar o espaço do outro", disse o ministro da Justiça.

Relacionamento bom
Calheiros afirmou ainda que todos os setores do governo possuem conflitos. "O setor de inteligência também." Ele disse, porém, manter o melhor dos relacionamentos com Cardoso.
Calheiros fez as afirmações no Palácio do Planalto depois da cerimônia de apresentação do projeto que proíbe a venda de armas no país.
No mesmo ato, presidido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, estava presente o general Cardoso.
Ele não comentou as declarações de Calheiros, mas disse que "nunca passou pela sua cabeça" pedir demissão, ao contrário dos boatos que circularam no fim-de-semana. "Nunca abandonei um barco, sempre fui até o fim nas minhas missões", afirmou.
O general Cardoso disse ter ainda duas missões no governo federal: consolidar o serviço de inteligência e a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas).
Segundo ele, a Senad "tem incomodado muita gente". O principal desafeto do órgão é a Polícia Federal, que perdeu o controle sobre o combate às drogas.

Investigações
Sobre a demora da PF em concluir as investigações do grampo no BNDES, Calheiros frisou que o órgão foi chamado para investigar o fato sete meses após o ocorrido.
O ministro disse que "não vai se prestar" a influenciar na investigação, como alguns setores -ele não disse quais- estariam reivindicando. Segundo ele, o comando deve ser exercido pelo presidente do inquérito, o delegado Rubens Grandini, da PF.
O caso se refere à gravação de conversas telefônicas no prédio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio.


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