São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI

Roberto Jefferson acusou tesoureiro petista de ter sugerido uma transação financeira do IRB que renderia R$ 100 mi ao PT e ao PTB

Delcídio rejeita a convocação de Delúbio

Lula Marques/Folha Imagem
Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios, em entrevista


FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse ontem que não há necessidade de o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ser convocado para explicar proposta que teria sido feita ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de cobrir gastos de campanha dos dois partidos com dinheiro do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).
Em depoimento à CPI dos Correios, anteontem, Jefferson disse que o publicitário Marcos Valério de Souza o procurou, em nome de Delúbio, pedindo que ele fizesse uma intervenção junto ao então presidente do IRB, Luís Appolonio Neto, indicado para o cargo pelo PTB. O encontro teria ocorrido em abril, na sede do PTB em Brasília. Valério teria proposto a transferência de U$ 600 milhões (R$ 1,4 bilhão na cotação de ontem) da conta do IRB em um banco na Europa para o banco Espírito Santo, em Portugal.
Segundo Jefferson, a movimentação renderia uma comissão de cerca de R$ 100 milhões para o PT e o PTB. "Ele [Valério] disse que o banco Espírito Santo tinha interesses no Brasil e a partir desse depósito começaria a movimentar esses interesses. Ele disse que sobrariam muitos recursos para o PT e o PTB", disse Jefferson.
Questionado sobre o valor, Jefferson respondeu que eram cerca de R$ 100 milhões. Ele disse não saber se o banco que possui a conta do IRB fica na Inglaterra ou na Suíça, mas afirmou que a operação não foi realizada porque ele teria se recusado a falar sobre o assunto com o presidente do IRB. Tanto Valério quanto o presidente do PT, José Genoino, negam a acusação, assim como Delúbio.
A conversa teria sido precedida por um jantar no dia "27 ou 28 de março", no apartamento de Jefferson, para acertar contas de campanha "que não fechavam de jeito nenhum". Estariam presentes Jefferson, o líder do PTB, deputado José Múcio (PE), o tesoureiro do partido, Emerson Palmieri, Delúbio e Genoino.
"Como o Delúbio disse que não tinha recursos para cobrir, mandou no princípio de abril o Valério falar comigo no PTB", disse Jefferson, que acusa o publicitário de ser o operador do tesoureiro do PT no pagamento do "mensalão" a deputados do PP e do PL.
Jefferson disse ter ligado para Genoino para tirar satisfação. "Eu falei "Zé, o cara é doido", e o Zé disse "não, pode confiar'", afirmou o deputado. "Eu entendo que ele era o PC Farias do sistema", disse Jefferson, em referência a Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992).
Jefferson afirma ter fechado um acordo com o PT segundo o qual seriam repassados R$ 20 milhões para o PTB nas eleições municipais do ano passado, mas só teriam sido pagos R$ 4 milhões.
O presidente da CPI considerou a denúncia "grave", mas afirmou que não é o caso de convocar Delúbio. "O que necessariamente vai acontecer é que alguém vai perguntar isso para o Marcos Valério na quarta-feira", disse ele. O publicitário e sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio vão depor na comissão no mesmo dia.
Essa não foi a única acusação feita por Jefferson. Segundo ele, o pagamento do "mensalão" parou de ser feito com malas de dinheiro. Assessores de deputados estariam sacando a mesada, "até há pouco tempo", em uma agência do Banco Rural em Brasília.


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