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Deputado encerra depoimento à CPI
com gargalhada
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo aparentando cansaço e
incômodo com um ferimento no
rosto, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) encerrou seu depoimento de nove horas à CPI dos
Correios, na madrugada de ontem, com uma ruidosa gargalhada, citando a música "Nervos de
Aço", de Lupicínio Rodrigues.
"Há pessoas de nervos de aço,
sem sangue nas veias e sem coração, mas não sei se passando o
que passo, talvez não lhes venha
qualquer reação", diz a letra do
samba, que fala em traição.
Lupicínio, segundo Jefferson,
foi a causa dos 12 pontos que o deputado levou na região próxima
ao olho esquerdo, na última segunda-feira. Jefferson procurava
CDs do compositor na parte superior de um armário quando o
móvel virou em cima dele.
O senador Heráclito Fortes
(PFL-PI) perguntou qual a música que o deputado buscava e ele
respondeu que era "Nervos de
Aço", finalizando sua participação na CPI, às gargalhadas.
Após o depoimento, que terminou a 1h40, Jefferson justificou a
gargalhada. "O clima foi de distensão", disse ele.
Nos momentos finais, a CPI virou uma sessão de bate-papo,
contrapondo-se aos ataques feitos
por petistas durante o depoimento. Jefferson chegou a homenagear seu pai, que faria discursos
em forma de verso, e contou passagens de sua vida política.
Um pouco antes houve uma bateria de desagravos ao deputado.
"Queria deixar um abraço pela
sua competência e manifestar que
seu depoimento no Conselho de
Ética foi a peça mais bonita que eu
vi em toda a minha vida no Congresso Nacional, pelo conteúdo e
pelo brilhantismo. O senhor está
fazendo um bom serviço", disse o
senador Pedro Simon (PMDB-RS), que até propôs que o mandato do petebista não seja cassado se
ele contar tudo o que sabe.
Jefferson tem sido a principal
fonte de denúncias contra o governo desde que foi divulgada
uma gravação, no mês de maio,
em que Maurício Marinho, funcionário dos Correios indicado
pelo PTB, aparece recebendo propina para fraudar licitações. No
vídeo ele diz que age em consonância com o deputado.
O presidente licenciado do PTB
era um dos principais aliados do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atribui a gravação à Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), agindo a mando, segundo
ele, do então ministro José Dirceu.
"O senhor é o maior reformador do governo", ironizou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). As
acusações de Jefferson sobre supostos esquemas de corrupção no
governo já derrubaram Dirceu,
antes considerado o "homem forte do Planalto", a diretoria dos
Correios, do IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil) e de Furnas.
Durante a madrugada Jefferson
passou de protagonista a espectador. Cansado, assistia com a cabeça apoiada no braço governistas e
membros da oposição quase se
matando no plenário da CPI.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ)
deu um soco na mesa, irritado
com as interrupções do deputado
Onyx Lorenzoni (PFL-RS) ao discurso do deputado Carlos Abicalil
(PT-MT). "Sem histeria!", provocou o pefelista.
"Depois de todos quero pedir a
palavra para fazer no final uma
dissertação sobre o que aconteceu
hoje", brincou o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral
(PT-MS), que não conseguia encerrar a sessão.
Celso Daniel
A família do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel
(PT), divulgou ontem nota negando ter recorrido a Jefferson
para que este os auxiliasse durante a investigação do crime.
Durante o depoimento à CPI,
Jefferson falou de um suposto esquema de financiamento de campanhas do PT por meio de empresas contratadas pelo poder público. A informação, disse ele, foi obtida por meio da família. Um suposto esquema de corrupção na
prefeitura já é objeto de processo
na Justiça.
"Os irmãos de Celso Daniel vêm
a público informar que jamais
procuraram o deputado Roberto
Jefferson para tratar do processo
relativo ao assassinato de seu irmão." A nota é assinada por João
Francisco Daniel e Bruno José Daniel Filho.
(FK, CG e LC)
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