São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005

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Deputado encerra depoimento à CPI com gargalhada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo aparentando cansaço e incômodo com um ferimento no rosto, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) encerrou seu depoimento de nove horas à CPI dos Correios, na madrugada de ontem, com uma ruidosa gargalhada, citando a música "Nervos de Aço", de Lupicínio Rodrigues.
"Há pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, mas não sei se passando o que passo, talvez não lhes venha qualquer reação", diz a letra do samba, que fala em traição.
Lupicínio, segundo Jefferson, foi a causa dos 12 pontos que o deputado levou na região próxima ao olho esquerdo, na última segunda-feira. Jefferson procurava CDs do compositor na parte superior de um armário quando o móvel virou em cima dele.
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) perguntou qual a música que o deputado buscava e ele respondeu que era "Nervos de Aço", finalizando sua participação na CPI, às gargalhadas.
Após o depoimento, que terminou a 1h40, Jefferson justificou a gargalhada. "O clima foi de distensão", disse ele.
Nos momentos finais, a CPI virou uma sessão de bate-papo, contrapondo-se aos ataques feitos por petistas durante o depoimento. Jefferson chegou a homenagear seu pai, que faria discursos em forma de verso, e contou passagens de sua vida política.
Um pouco antes houve uma bateria de desagravos ao deputado. "Queria deixar um abraço pela sua competência e manifestar que seu depoimento no Conselho de Ética foi a peça mais bonita que eu vi em toda a minha vida no Congresso Nacional, pelo conteúdo e pelo brilhantismo. O senhor está fazendo um bom serviço", disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que até propôs que o mandato do petebista não seja cassado se ele contar tudo o que sabe.
Jefferson tem sido a principal fonte de denúncias contra o governo desde que foi divulgada uma gravação, no mês de maio, em que Maurício Marinho, funcionário dos Correios indicado pelo PTB, aparece recebendo propina para fraudar licitações. No vídeo ele diz que age em consonância com o deputado.
O presidente licenciado do PTB era um dos principais aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atribui a gravação à Abin (Agência Brasileira de Inteligência), agindo a mando, segundo ele, do então ministro José Dirceu.
"O senhor é o maior reformador do governo", ironizou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). As acusações de Jefferson sobre supostos esquemas de corrupção no governo já derrubaram Dirceu, antes considerado o "homem forte do Planalto", a diretoria dos Correios, do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e de Furnas.
Durante a madrugada Jefferson passou de protagonista a espectador. Cansado, assistia com a cabeça apoiada no braço governistas e membros da oposição quase se matando no plenário da CPI.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) deu um soco na mesa, irritado com as interrupções do deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) ao discurso do deputado Carlos Abicalil (PT-MT). "Sem histeria!", provocou o pefelista.
"Depois de todos quero pedir a palavra para fazer no final uma dissertação sobre o que aconteceu hoje", brincou o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que não conseguia encerrar a sessão.

Celso Daniel
A família do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel (PT), divulgou ontem nota negando ter recorrido a Jefferson para que este os auxiliasse durante a investigação do crime.
Durante o depoimento à CPI, Jefferson falou de um suposto esquema de financiamento de campanhas do PT por meio de empresas contratadas pelo poder público. A informação, disse ele, foi obtida por meio da família. Um suposto esquema de corrupção na prefeitura já é objeto de processo na Justiça.
"Os irmãos de Celso Daniel vêm a público informar que jamais procuraram o deputado Roberto Jefferson para tratar do processo relativo ao assassinato de seu irmão." A nota é assinada por João Francisco Daniel e Bruno José Daniel Filho. (FK, CG e LC)

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