São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

PMDB ensaia unificação ao redor do governo Lula

Integrantes do governo FHC declararam apoio ao presidente nas últimas semanas

Mesmo candidatos ligados a tucanos ou a pefelistas nos Estados têm se mostrado receptivos a, pelo menos, um pacto de não-agressão

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Em seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre contou com o apoio de apenas uma parcela do PMDB. Porém, as conversas avançaram e Lula pode conseguir, se reeleito, governar com praticamente todo o partido.
Nas últimas semanas, deixaram o pólo oposicionista alguns expoentes do que se convencionou chamar "as viúvas de FHC", grupo que teve importância nos governos de Fernando Henrique Cardoso e não aderiu a Lula logo de cara.
Alguns, como Geddel Vieira Lima (BA), passaram abertamente para o lado de Lula. Outros, como o ex-ministro de FHC Moreira Franco (RJ), mantêm a aproximação nos bastidores, mas já articulam, inclusive, cargos no governo.
Os responsáveis pelo "plano de expansão" (como foi apelidado internamente) são o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney (AP), pelo PMDB, e petistas como o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e Jaques Wagner (BA).
A despeito de PMDB e PT serem adversários renhidos no Rio Grande do Sul, Tarso Genro é o maior entusiasta, no governo, de uma aliança que traga o PMDB inteiro. Avalia que, formando uma coalizão de fato, que reduza a vulnerabilidade do governo no Congresso, deixaria sua marca como articulador político e permitiria a estabilidade política que faltou nos dois últimos anos.
Tarso trocou até mesmo amabilidades com o governador Germano Rigotto, que prometeu palanque neutro no Rio Grande do Sul -o que contraria os planos do tucano Geraldo Alckmin, que contava com o apoio do PMDB no Estado. Também conversou recentemente com Michel Temer, presidente da sigla, cuja aproximação com o governo tem sido pendular -ora se aproxima, ora se afasta.
A ampliação do apoio a Lula deve gerar resistências por parte de quem deteve, até aqui, a exclusividade na interlocução com o governo e, conseqüentemente, na nomeação de cargos. Os ex-oposicionistas tem deixado claro que a interlocução com o governo pode mudar.
"A interlocução não pode continuar a passar pelo Renan e pelo Sarney. Se o Lula quiser ter o PMDB todo, terá de ampliar a interlocução", diz um dos ex-oposicionistas.
Os poucos focos de resistência no PMDB não devem incomodar Lula na campanha. Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco e favorito para o Senado, já avisou a aliados que não fará ataques ao presidente na campanha.
Aliado de Anthony Garotinho, crítico feroz do presidente, o candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral, tem mantido conversas freqüentes com interlocutores de Lula. Além de Berzoini, conversa com o prefeito de Nova Iguaçu, o petista Lindberg Farias.
Alckmin, que conta com palanques peemedebistas para alavancar sua reação nas pesquisas, terá de driblar a atração exercida pelo atual favoritismo de Lula. Mesmo candidatos que fecharam com o PSDB ou o PFL nos Estados, como Garibaldi Alves (RN) e André Pucinelli (MS), estão sendo procurados pelos emissários da unificação -e têm sido bastante receptivos a, pelo menos, um pacto de não-agressão.

Resistências petistas
Não é só no PMDB governista e no PSDB que a aproximação preocupa. O PT vê com desconfiança a possível ampliação do espaço do partido no governo. O presidente da sigla, Ricardo Berzoini, trabalha pela coalizão, mas faz questão de delimitar espaços. "Não seremos obstáculo para um governo de coalizão, mas sempre terá de ser levado em conta o tamanho do PT. O PMDB já tem três ministérios fortíssimos", diz.
Ele afirma que, hoje, "o PMDB está majoritariamente com Lula". Atribui a aproximação não aos índices de Lula nas pesquisas, mas às "raízes" de PMDB e PT. "O discurso mais popular de Lula coincide com a história do PMDB", diz.


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