São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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ELEIÇÕES 2006/ALIANÇAS

Geddel, antes algoz de Lula, agora se une ao PT na Bahia

Deputado do PMDB mais estridente na oposição diz que "evoluiu", e cita "erros" tucanos

Segundo o peemedebista, que critica aproximação de Alckmin e ACM, PSDB optou pelo "nome mais fraco" ao indicar seu presidenciável

DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Nenhum outro peemedebista foi tão estridente na oposição ao governo Lula quanto Geddel Vieira Lima (BA). Com frases que oscilaram sempre entre a ironia e a crítica pura, condenou a ala governista do partido, à qual chamou ao longo dos anos de "adesista" e "traidora". Mas contingências locais -oposição ao grupo de Antonio Carlos Magalhães- o aproximaram do PT e, por conseqüência, do Palácio do Planalto. "É melhor uma incoerência de quatro anos a uma da vida inteira", justifica. Leia a seguir trechos da entrevista de Geddel à Folha. (VERA MAGALHÃES)  

FOLHA - Como o sr. justifica a aproximação com o PT, após quatro anos na oposição?
GEDDEL VIEIRA LIMA
- Primeiro, pelas circunstâncias locais. Tanto nós quanto o PT somos opositores ao grupo que manda na política baiana hoje. Além disso, por erros grosseiros cometidos pelo lado de lá, sobretudo pelo PSDB.

FOLHA - Que erros?
GEDDEL
- Começou pela escolha do candidato [Geraldo Alckmin]. Escolheram o nome mais fraco. Depois, a incapacidade de diálogo com quem permaneceu parceiro, na oposição, todo esse tempo. Alckmin preferiu, na Bahia, se deitar no colo de Antonio Carlos Magalhães. Não nos restou outra saída. No palanque em que ACM estiver, sempre estarei em outro.

FOLHA - A aliança é só local ou nacional também? Vai apoiar Lula?
GEDDEL
- Se tiver de apoiar na eleição nacional, vou apoiar, sem meias-palavras. Conversei com o presidente algumas vezes já. Reafirmei as divergências, mas fiz uma pauta de reivindicações para o meu Estado. Entreguei na mão do Guido [Mantega, ministro da Fazenda] uma proposta para recuperação da lavoura cacaueira, que vai gerar 250 mil empregos.

FOLHA - Mas como justificar essa guinada para o eleitor?
GEDDEL
- As urnas em 2002 me remeteram para a oposição, e lá fiquei e fui combativo. Se as circunstâncias políticas mudam eu tenho de evoluir. Mas tenho de fazer antes da eleição, para que o eleitor decida se é o caso de me reconduzir. Não vou fazer como meu amigo Fernando Henrique e dizer "esqueçam o que eu disse". Vou procurar razões para a convergência.

FOLHA - Todo o PMDB oposicionista se converterá a Lula?
GEDDEL
- Caminha para isso. O PSDB foi absolutamente inapropriado nessa negociação. [Germano] Rigotto teve uma boa conversa com Lula, Moreira Franco já está conversando. Continuo tendo pelo presidente Lula muito apreço, sou amigo dele. Vou continuar defendendo os avanços do seu governo. Mas assim como ele não vinculou seu destino ao meu, não vou atrelar o meu ao dele.

FOLHA - O sr. vai defender o governo das denúncias do mensalão?
GEDDEL
- Criticarei esses fatos com o mesmo vigor que critiquei antes. Não tenho compromisso com essas questões. Não tenho de explicar erros do PT do passado, e sim buscar convergências para o futuro.

FOLHA - A que o sr. atribui a força de Lula no Nordeste?
GEDDEL
- Não é só no Nordeste. Lula, melhor que ninguém, fala uma linguagem que a população entende, porque é um "oriundi". Quando conta uma história da mãe que acendia e apagava a luz elétrica de noite porque era a primeira vez que via o corpo de seu filho adormecido, é uma coisa que vai direto nas pessoas. Além disso, a economia vai bem.

FOLHA - O sr. responsabilizava Lula pelo mensalão. E agora?
GEDDEL
- Acho que houve traição, incapacidade política do PT e uma dose de preconceito em relação a ele [Lula]. Não ficou caracterizado que era uma coisa ligada a ele, como ficou no caso do Collor, por exemplo.


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