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ELEIÇÕES 2004/FINANCIAMENTO
Um terço das empresas que contribuíram com a campanha petista em 2000 tem contratos com a gestão; situação do Estado é parecida
Prefeitura paga R$ 1,4 bi a doadores de Marta
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Vinte e nove empresas que, em
2000, contribuíram para eleição
da prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), receberam R$ 1,417
bilhão em contratos com o Prefeitura. O número é produto do cruzamento da lista dos doadores de
campanha, obtida no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), com a
de fornecedores da prefeitura, registrada no SEO (Sistema de Execução Orçamentária).
Outro cruzamento -da lista de
doadores da campanha do governador Geraldo Alckmin (PSDB)
com o sistema de execução orçamentária do Estado, o Sigeo- reforça a idéia de que colaboradores
são fornecedores em potencial. A
exemplo da prefeitura, quase um
terço dos doadores da campanha
têm contrato com o governo.
Procurados pela Folha, nem a
prefeitura nem o governo quiseram comentar essa relação entre
doadores de campanha e fornecedores do serviço público.
No caso da prefeitura, 29 das 94
empresas que apoiaram Marta
-com contribuições variando de
R$ 120 a R$ 501 mil- são beneficiárias de contratos que, apenas
na administração direta, somam
R$ 1,576 bilhão em empenhos (reserva de recursos), sendo R$ 1,417
bilhão já oficialmente liberado.
Esse número é significativo se
comparado ao dos doadores de
campanha de Alckmin em 2000.
Antes de ser governador, Alckmin foi adversário de Marta na
disputa pela prefeitura. E, segundo o levantamento, 17 empresas
que colaboraram com sua campanha -cinco delas também constantes da lista de Marta- são fornecedoras da prefeitura. Só que
volume de recursos é bem menor.
De janeiro de 2001 até 29 de julho,
obtiveram R$ 187 milhões.
Os contratos da prefeitura com
empresas que colaboraram com
as campanhas de Paulo Maluf
(PP) e Luiza Erundina (PSB) passam de R$ 500 milhões em valores
já liberados (liquidados).
A lista dos dois inclui a Vega,
maior doadora da campanha de
Marta, com R$ 501 mil. Para Maluf, foram R$ 500 mil. Erundina,
por sua vez, foi contemplada com
a metade (R$ 250 mil).
Diretor de desenvolvimento e
comunicação da Vega, Luiz Gonzaga explica que a empresa investe o limite legal (2% do lucro) em
campanhas, optando por colaborar nas 27 cidades em que atua.
Embora mais de 60% dos negócios da Vega sejam com o setor
público, Gonzaga rejeita a expressão "política de boa vizinhança"
para classificar o procedimento
da empresa. "Prefiro "investimento na democracia'", diz.
Segundo o SEO, a prefeitura liberou R$ 372,9 milhões para a Vega, sendo R$ 360,9 milhões já sacados. Gonzaga diz que não se
sente desconfortável no papel de
doador e fornecedor:
"Não vejo problema. Se fosse errado, seria proibido por lei. Mas
não estou fazendo nada ilegal".
Além da Vega, a construtora
OAS, o grupo Itaú, o Grupo Votorantim e a Cia. Brasileira de Distribuição são exemplos de empresas que pulverizam suas doações
entre candidatos numa mesma
disputa. As quatro têm contratos
com a prefeitura. Os valores pagos à OAS, uma das responsáveis
pelos CEUs, por exemplo, somam
R$ 140 milhões. Ao Itaú, já foram
pagos R$ 16,9 milhões. Procuradas pela Folha, essas empresas
não quiseram comentar seu critério de contribuição.
Na lista de doadores, há, os fiéis
a um só candidato. Em 2000, a
construtora Progredior, por
exemplo, doou R$ 220 mil à campanha de Marta. Este ano, mesmo
depois de ter recebido R$ 11,5 milhões em contratos com a prefeitura, diz que não contribuirá
mais, por "falta de recursos".
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