São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/FINANCIAMENTO

Um terço das empresas que contribuíram com a campanha petista em 2000 tem contratos com a gestão; situação do Estado é parecida

Prefeitura paga R$ 1,4 bi a doadores de Marta

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Vinte e nove empresas que, em 2000, contribuíram para eleição da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), receberam R$ 1,417 bilhão em contratos com o Prefeitura. O número é produto do cruzamento da lista dos doadores de campanha, obtida no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), com a de fornecedores da prefeitura, registrada no SEO (Sistema de Execução Orçamentária).
Outro cruzamento -da lista de doadores da campanha do governador Geraldo Alckmin (PSDB) com o sistema de execução orçamentária do Estado, o Sigeo- reforça a idéia de que colaboradores são fornecedores em potencial. A exemplo da prefeitura, quase um terço dos doadores da campanha têm contrato com o governo.
Procurados pela Folha, nem a prefeitura nem o governo quiseram comentar essa relação entre doadores de campanha e fornecedores do serviço público.
No caso da prefeitura, 29 das 94 empresas que apoiaram Marta -com contribuições variando de R$ 120 a R$ 501 mil- são beneficiárias de contratos que, apenas na administração direta, somam R$ 1,576 bilhão em empenhos (reserva de recursos), sendo R$ 1,417 bilhão já oficialmente liberado.
Esse número é significativo se comparado ao dos doadores de campanha de Alckmin em 2000. Antes de ser governador, Alckmin foi adversário de Marta na disputa pela prefeitura. E, segundo o levantamento, 17 empresas que colaboraram com sua campanha -cinco delas também constantes da lista de Marta- são fornecedoras da prefeitura. Só que volume de recursos é bem menor. De janeiro de 2001 até 29 de julho, obtiveram R$ 187 milhões.
Os contratos da prefeitura com empresas que colaboraram com as campanhas de Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) passam de R$ 500 milhões em valores já liberados (liquidados).
A lista dos dois inclui a Vega, maior doadora da campanha de Marta, com R$ 501 mil. Para Maluf, foram R$ 500 mil. Erundina, por sua vez, foi contemplada com a metade (R$ 250 mil).
Diretor de desenvolvimento e comunicação da Vega, Luiz Gonzaga explica que a empresa investe o limite legal (2% do lucro) em campanhas, optando por colaborar nas 27 cidades em que atua.
Embora mais de 60% dos negócios da Vega sejam com o setor público, Gonzaga rejeita a expressão "política de boa vizinhança" para classificar o procedimento da empresa. "Prefiro "investimento na democracia'", diz.
Segundo o SEO, a prefeitura liberou R$ 372,9 milhões para a Vega, sendo R$ 360,9 milhões já sacados. Gonzaga diz que não se sente desconfortável no papel de doador e fornecedor:
"Não vejo problema. Se fosse errado, seria proibido por lei. Mas não estou fazendo nada ilegal".
Além da Vega, a construtora OAS, o grupo Itaú, o Grupo Votorantim e a Cia. Brasileira de Distribuição são exemplos de empresas que pulverizam suas doações entre candidatos numa mesma disputa. As quatro têm contratos com a prefeitura. Os valores pagos à OAS, uma das responsáveis pelos CEUs, por exemplo, somam R$ 140 milhões. Ao Itaú, já foram pagos R$ 16,9 milhões. Procuradas pela Folha, essas empresas não quiseram comentar seu critério de contribuição.
Na lista de doadores, há, os fiéis a um só candidato. Em 2000, a construtora Progredior, por exemplo, doou R$ 220 mil à campanha de Marta. Este ano, mesmo depois de ter recebido R$ 11,5 milhões em contratos com a prefeitura, diz que não contribuirá mais, por "falta de recursos".


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