São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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Lula diz que vai reclamar da ação dos EUA em Doha

Em evento com intelectuais, presidente afirma que ligará para Bush e Singh, da Índia

Dilma sorri quando Lula fala que todos sabem quem será seu candidato em 2010; economista diz duvidar que reforma tributária seja feita

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a cerca de 40 intelectuais, com quem se reuniu no Rio ontem, que telefonaria para o presidente George W. Bush a fim de reclamar do comportamento dos Estados Unidos na recente Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Lula criticou as posições dos EUA e da Índia, que, por não se entenderem em questões relacionadas ao protecionismo agrícola, levaram as negociações ao fracasso. O presidente disse que, depois de se queixar a Bush, pretende ligar para o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.
Participantes do encontro relataram à Folha que Lula demonstrou contrariedade com o fato de os dois países, embora parceiros em questões nucleares, discordarem em tema relacionado à "fome no mundo".
O sociólogo Emir Sader, presente à reunião, anotou os comentários do petista. Segundo ele, Lula disse o seguinte, após avisar que telefonaria para Bush e Singh: "Vou dizer para eles: "Pô, acertar acordo nuclear vocês sabem, né? Mas acertar coisa muito mais importante, a questão agrícola, que vai afetar a fome no mundo, ajudar os países mais pobres, vocês não conseguem?'"
O cineasta Paulo Thiago afirmou que Lula citou a superpopulação como uma justificativa plausível para a Índia. "Ele falou muito que o Bush e a Índia derrubaram um trabalho espetacular, que a Europa tinha concordado, que estava tudo acordado. Ele disse assim: "Quem vai ganhar com isso são os mais ricos, quem vai perder são os países mais pobres". Disse que a Índia ele entendia, porque tem 650 milhões de pessoas lá. Realmente a divisão de terras é mínima. Mas os EUA, ele não compreendia."
O encontro foi fechado para jornalistas. Em uma mesa, sentaram-se Lula, os intelectuais e oito ministros. O presidente falou sobre sua sucessão. Disse que, para manter o trabalho desenvolvido em seus dois mandatos, precisa eleger o sucessor. Sem citar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, presente, Lula afirmou que todos ali sabiam quem é seu candidato preferido. A maioria riu. Dilma sorriu de modo discreto, conforme os relatos.
O encontro começou sem a presença de Lula. A condução coube ao ministro Paulo Vanucchi (Direitos Humanos). Quando o presidente chegou, falaram 14 intelectuais, o ministro Fernando Haddad (Educação) e Dilma.
Ao discursar por 35 minutos, Lula comentou questões levantadas pelos intelectuais. Ao dizer que a reforma tributária sairá ainda neste ano, foi interrompido pela economista Maria da Conceição Tavares. "Duvido, presidente!", gritou. Amigo dela, Lula riu e falou que cumprirá a promessa.
Para o escritor Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras, a fala do presidente não foi aprofundada. O dramaturgo Alcione Araújo lamentou que Lula não tenha comentado sobre o que considera falta de convergência entre as políticas de educação e de cultura.


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