|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELECOMUNICAÇÕES
Presidente afirma que novos donos não poderão alegar falta de recursos se descumprirem metas
Anatel descarta dinheiro público nas teles
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
Mesmo obrigados a pagar à vista
40% do valor das empresas do recém-privatizado Sistema Telebrás,
os novos controladores das teles
não poderão alegar falta de recursos para escapar dos investimentos obrigatórios na universalização e na qualidade dos serviços.
A advertência foi feita pelo presidente da Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações), Renato
Guerreiro, em entrevista à Folha.
Para ele, a falta de recursos não
pode justificar o descumprimento
das metas fixadas pela agência e
não isenta as empresas de eventuais sanções.
A entrada de 40% sobre o valor
de cada empresa leiloada será paga
na próxima terça-feira e soma R$
8,82 bilhões para o governo.
Guerreiro reconhece que a LGT
(Lei Geral de Telecomunicações)
permite que a União, os Estados e
os municípios apliquem recursos
orçamentários nos programas de
universalização das empresas de
telefonia privatizadas.
Mas ele descartou que a possibilidade de a União investir recursos
públicos no setor.
Na sua avaliação, o consórcio
AG Telecom terá que se desfazer
da Tele Norte Leste caso fique
comprovado que seus componentes tenham dívidas em atraso com
a União e que isso configure desrespeito à legislação.
Para o presidente da Anatel, a
Telesp Participações (telefonia fixa) e a Telesp Celular oferecem um
serviço de nível médio. A seguir,
os principais trechos da entrevista.
Folha - A LGT permite que verbas
orçamentárias sejam destinadas às
operadoras se os gastos com a universalização não forem recuperados com a exploração dos serviços.
Isso significa que as operadoras
expandirão suas atividades com
recursos públicos?
Renato Guerreiro - Não. Sempre fomos contra a possibilidade
de a União aportar recursos orçamentários nas operadoras. Nas
discussões com o Congresso, ficou
evidente o interesse dos parlamentares em que Estados e municípios
pudessem fazê-lo.
Não consideramos a hipótese de
a União alocar recursos para isso.
Mas Estados e municípios têm a
possibilidade legal de aplicar verbas orçamentárias no setor.
Folha - A Andrade Gutierrez e a
Inepar, que compraram a Tele Norte Leste por R$ 3,434 bilhões, estariam inscritas no Cadin. Isso pode
anular o leilão da empresa? A Anatel analisou a situação dos participantes do leilão no Cadin?
Guerreiro - A análise do Cadin
não fez parte das obrigações da
Anatel e deveria ter sido feita por
quem realizou o leilão.
Apesar de não ser uma exigência
da Anatel, a Andrade Gutierrez (líder do consórcio AG Telecom) declarou à agência que não tinha dívidas pendentes.
Minha posição é pela absoluta legalidade: se a lei impede que empresas inscritas no Cadin adquiram patrimônio público, acho que
elas devem se desfazer da empresa
que compraram. A regra vale para
todos, mas não posso confirmar se
elas estão inadimplentes ou não.
Folha - O BNDES ameaça não financiar o consórcio AG Telecom
por considerar que ele possui um
perfil estatal representado pelo
Banco do Brasil e por fundos de
pensão. Isso prejudicará a atuação
da Tele Norte Leste?
Guerreiro - Pode prejudicar.
Mas isso não é justificativa para
que ela não seja punida caso não
cumpra todas as metas dos contratos de concessão.
Mas concordo que a falta de recursos pode levar ao descumprimento das metas.
Folha - Qual é a prioridade da
agência?
Guerreiro - Até dezembro de
99, a prioridade da Anatel é atuar
muito próximo às operadoras para
que elas alcancem as metas previstas nos contratos de concessão.
A Anatel não deve ter a visão distorcida de que existe para punir.
Sua finalidade é fazer com que os
concessionários atendam a sociedade brasileira, cumprindo as metas impostas.
Folha - Como será esse acompanhamento?
Guerreiro - Vamos fazer projeções sobre o que as empresas já
vêm realizando. Vamos cutucar as
empresas.
Atualmente, existem empresas
com padrão de qualidade internacional, outras com padrão médio e
outras com padrão sofrível.
Em 99, em todo o país deverá haver uma uniformidade dos índices
mínimos de qualidade.
Folha - Qual a avaliação do sr. sobre a qualidade da Telesp?
Guerreiro - Ela está em um nível de qualidade médio em relação
ao Brasil. E acho que o paulista vai
perceber, rapidamente, uma melhoria na Telesp.
Ela vai ter que melhorar, porque
poderá não conseguir alcançar as
metas. A Telesp Celular também
está no mesmo patamar.
Folha - Quando os consumidores
começarão a sentir uma melhora?
Guerreiro - Nesse setor, ninguém melhora de um mês para outro. Então, as melhorias deverão
começar ainda neste ano e imediatamente em algumas empresas.
Nas empresas com qualidade
mais sofrível, o cidadão terá que
começar a perceber melhorias nos
próximos seis meses.
Folha - Ao analisar a privatização
da Telebrás, o TCU ressaltou que a
Anatel deve ter força e apoio político para exercer a fiscalização do
setor. A agência possui esses
pré-requisitos?
Guerreiro - A força da Anatel
reside única e exclusivamente na
lei. Se por apoio político o TCU entende independência em exercer
esse poder, posso garantir que a
Anatel o fará sem qualquer temor.
Folha - O sr. acredita que ainda
há interesse nas "empresas-espelho", que concorrerão com o Sistema Telebrás privatizado?
Guerreiro - O leilão da Telebrás
foi um sucesso, mesmo com a crise
na Ásia, na Rússia e no Japão. O
sucesso vai despertar ainda mais o
interesse pelas "espelhos".
Folha - As empresas de consultoria que avaliaram a Telebrás calculam que, em 2007, as "espelhos"
só terão 15% do mercado residencial e 25% do mercado não-residencial. Além disso, elas deverão
concentrar a concorrência nas
grandes cidades. Qual sua opinião?
Guerreiro - Essa é uma tendência natural. Não há dúvida de que
elas iniciarão suas atividades pelas
grandes cidades, pois foi isso que
aconteceu com o serviço celular.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|