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JUDICIÁRIO
Supremo sinaliza que reconhecerá poder de investigação do Ministério Público, mas com regras mínimas de procedimento
STF suspende votação sobre procuradores
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votaram
ontem a favor da condução de investigações criminais por procuradores da República e promotores de Justiça, e o plenário sinalizou que reconhecerá esse poder
de atuação deles, mas deixará expressa a necessidade de regras mínimas de procedimento para coibir abusos.
O julgamento foi suspenso por
um pedido de vista de Cezar Peluso, quando o placar registrava esses três votos favoráveis ao Ministério Público e dois contrários, de
Marco Aurélio de Mello e do presidente do STF, Nelson Jobim,
que tinham se manifestado em
outubro de 2003.
Os votos a favor foram de Joaquim Barbosa, que havia pedido
vista no ano passado, Eros Grau e
Carlos Ayres Britto, todos nomeados pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. A votação segue a
ordem inversa de antigüidade.
Há autoridades do governo, como o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que vêem excessos na instituição e querem a limitação de seus poderes.
Tanto Grau quanto Britto reconheceram que há abusos, mas disseram que isso não deve servir de
pretexto para retirar parte das
funções da instituição.
Jobim fez defesa enfática da necessidade de adoção de regras de
conduta. Ele comparou as investigações da instituição aos antigos
IPMs (inquéritos policiais militares), por falta de prazo para terminar nos dois casos.
"Há um vazio legislativo relevante no que diz respeito ao tempo e ao modo de fazer", afirmou.
Para ele, o procurador-geral da
República, Claudio Fonteles, poderá baixar as normas no âmbito
federal, e os procuradores-gerais
de Justiça, nos Estados.
Segundo Fonteles, o Conselho
Superior do Ministério Público
analisará no dia 28 um projeto
contendo regras para as investigações. Se aprovado, passa a valer
no dia seguinte.
Gilmar Mendes, que ainda não
votou, mas fez comentários no
debate no plenário, defendeu a
necessidade de leis federal e estaduais disciplinando a questão.
O STF está julgando dois casos.
Em um deles, o deputado Remi
Trinta (PL-MA) quer arquivar
uma denúncia de desvio de R$
700 mil do SUS (Sistema Único de
Saúde) em clínica médica dele.
No outro, o policial de São Paulo Jefferson Paça é acusado de violência na abordagem de condutores de veículos de transporte coletivo de passageiros, chamados perueiros. Ambos questionam a ausência da polícia nas apurações.
O julgamento servirá de referência para várias investigações
recentes, como o desvio de verba
do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Uma derrota do
Ministério Público poderá levar
os acusados e condenados nelas a
pedir o arquivamento.
No aspecto jurídico, o debate está concentrado em artigos da
Constituição que tratam do papel
do Ministério Público (129) e das
polícias (144). O julgamento também foi acompanhado por policiais, que temem o esvaziamento
de suas funções.
O ministro Joaquim Barbosa,
que se desligou da carreira de procurador da República para assumir o STF, disse que "a elucidação
dos crimes não se esgota no âmbito policial". Para ele, "nada impede que o Ministério Público, titular da ação pública, destinatário
natural dos inquéritos policiais,
faça averiguações e depois ofereça
denúncias".
Na mesma linha, Eros Grau afirmou que o inquérito policial é
uma das formas de investigação,
mas não a única. "A nossa realidade reclama a firme atuação do Ministério Público", disse, citando a
sua importância no combate ao
crime organizado, por exemplo.
"Privar o Ministério Público da
peculiaríssima tarefa de defensor
do direito é desnaturalizá-lo,
apartá-lo de si mesmo, reduzi-lo a
bobo-da-corte", declarou Carlos
Ayres Britto.
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