São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

Texto Anterior | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

O êxodo

As proporções bíblicas da catástrofe de Nova Orleans se refletiam, afinal, nas manchetes de ontem.
Na revista "Economist", sobre uma foto quase de ficção científica, "Cidade silenciada". Na barra de informações da Fox News, "Nova Orleans lança SOS desesperado".
Na manchete do site do "Washington Post":
- Caos e violência marcam o êxodo de Nova Orleans.

 

Já existe um culpado, George W. Bush.
O editorial do "New York Times", intitulado "Esperando um líder", diz que os furacões devem aumentar com o aquecimento global:
- Como este governo não reconhece que o aquecimento global existe, as chances de liderança são mínimas.
Também a "Economist", em editorial, questiona o governo Bush, mas não pelo efeito estufa e sim pela falta de "preparo para emergência".
Diz que o recém-organizado Departamento de Segurança Interna não sai muito bem de seu primeiro teste. É a crítica mais repisada, dos blogs à CNN e até à Fox News.
Uma exceção foi o editorial do "WP", que elogiou Bush.
 

Outro alvo, a televisão.
Executivos das três grandes redes americanas, CBS, ABC e NBC, e dos principais canais de notícias responsabilizavam, ontem em reportagens nos jornais, o quadro de "zona de guerra" pelos erros e a relativa lentidão na cobertura.
Mas um ruído acompanha os primeiros textos críticos sobre a TV, por exemplo, no título da revista on-line Slate:
- Por que nenhuma menção a raça ou classe na cobertura de televisão?
Os atingidos são, na maioria, "negros e pobres".
 

Em contraste, um dos heróis já consagrados da catástrofe é o jornal de Nova Orleans, "The Times-Picayune".
Segundo o blog de mídia Romenesko, ele volta a circular em papel hoje, sexta, não mais restrito à internet.
Mas é o blog mantido pelo site do próprio jornal nos últimos dias, aberto aos leitores, que deixa a maior marca.
Além de ajudar no resgate, com a coleção de informações sobre grupos de pessoas presas, o blog postou e segue postando relatos dramáticos.
Uma série de mensagens, por exemplo, registrou o lento cerco de um hospital por uma gangue. Até a última mensagem e depois o silêncio:
- Água subindo. Tiros. Não é seguro.

Leia mais em Mundo

O PRIMEIRO DA FILA
Na primeira manchete do "Jornal da Band":
- Por 14 a zero, o Conselho de Ética pede a cassação do deputado Roberto Jefferson.
Até aí, não se esperava outra coisa. Ele "é o primeiro da fila", como sublinhou o "JN", na escalada. O choque foi outro relato da Globo, com cenas de jardim, dezenas de pessoas, taças de vinho:
- O PTB fez uma festa à noite para Jefferson, que recebeu muitos abraços. Era só sorrisos e esbanjava descontração, até na roupa. Discursou e arrancou aplausos e risadas dos colegas do PTB.
 

Também já se esperava, mas na manchete do UOL:
- Relatório das CPIs sugere cassar 18 deputados, inclusive José Dirceu.
Mas também Dirceu ganhou seu quinhão de solidariedade, no blog de Jorge Bastos Moreno, destacado na home page do Globo Online:
- Ele está sendo vítima de rito sumário, sem direito à defesa. Serraglio dá munição para Dirceu dizer -com razão gritante- que está sendo vítima de um linchamento jamais visto na história do país.
 

Do blog de Ricardo Noblat, por outro lado:
- Serraglio, cadê Azeredo?... É a pergunta que não quer calar: por que o relator deixou o senador do PSDB de fora da lista dos 18?
 

Abrindo seu blog A Coisa Aqui Tá Preta, no apagar das luzes, Claudio Weber Abramo, da Transparência Brasil, vai além e pergunta dos corruptores:
- Segundo os promotores da operação lavagem de gente, o dinheiro nasce em árvore... Determinar quem alimentou o valerioduto é essencial.
Ou era, até ontem.
nelsondesa@folhasp.com.br


Texto Anterior: Grito dos excluídos: Stedile critica política econômica, mas descarta ir às ruas propor "Fora, Lula"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.