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ELIO GASPARI
O dia da Benedita
O 30 de Setembro qualificou
Benedita da Silva para o
exercício do governo do Rio de
Janeiro. Pode ser que todos os
outros dias do ano, inclusive os
próximos, façam dela a mais
desqualificada dos candidatos,
mas a governadora deu uma lição de compostura aos seus descompostos adversários. Conseguiu essa condição quando disse
que "o que está em jogo é a democracia, isso não atinge apenas o processo eleitoral, mas a
democracia".
Veja-se o que disseram os seus
adversários.
Anthony Garotinho: "O Risco
Brasil é esse: o risco de um governo fraco, que não se faz respeitar. Se foi boato, ela se intimidou. Se foi ordem do tráfico,
ela se acovardou. Coincidentemente, o arrastão de Ipanema,
da Tijuca, todos acontecem com
o mesmo personagem. A quem
interessa o crime?"
Cesar Maia: "É uma descompensação de quem mostrou,
mais uma vez, que não tem
equilíbrio e capacidade para governar".
O Rio de Janeiro estava paralisado pelo tráfico e seu prefeito
e um candidato a presidente da
República cuja mulher disputa
o governo do Estado nada tinham a dizer nem a fazer, além
do tititi da responsabilização
inútil. Poderiam dizer o que
quisessem de Benedita, desde
que deixassem as acusações para o dia seguinte. Tornaram-se
personagens medíocres de um
triste dia da história do Rio. Poderiam ter feito qualquer uma
das seguintes coisas:
1) Ir ao palácio Guanabara,
colocando-se à disposição da
governadora para colaborar no
restabelecimento da ordem.
2) Atender a freguesia numa
padaria ou botequim que estivesse aberto.
3) Anthony e Rosinha Garotinho poderiam ter ido à prefeitura para pedir a Cesar Maia que lhes desse licença para manter
aberta uma escola. Poderiam
dispensar os professores e ficar
nas salas de aula, ensinando
geografia aos garotos.
Poderiam ter feito essas e outras coisas, mostrando que têm
algum interesse pelo dia-a-dia
dos contribuintes, em vez de ficarem em suas salas xingando-se uns aos outros. Pode-se argumentar que isso é demagogia.
Não é. É o exercício do patrimônio moral que a função pública
dá às autoridades. Foi essa força
que moveu o prefeito Rudolph
Giuliani no dia 11 de setembro.
Foi ela que levou Carlos Lacerda para o rescaldo de uma rebelião de presos na Frei Caneca.
Essa disposição de exercer a autoridade levou o general Costa e
Silva a encerrar uma rebelião de
bombeiros paulistas com meia
dúzia de gritos. Foi ao quartel
revoltado levando apenas o motorista.
Como Cesar Maia é chegado
num Napoleão, pode-se dizer
que esteve na batalha das Pirâmides, reclamando da poeira.
Faltou a Cesar Maia, no exercício da função de prefeito, bem
como à família Garotinho na
condição de oligarquia emergente, a percepção de que poderiam ser úteis aos cariocas. Para
quê? Mesmo que fosse para dar
carona a uma criança que voltava para casa.
O que está em jogo é a democracia porque os arrastões não
podem se tornar uma tática
eleitoral. Nem na mão de Cesar
Maia, como querem fazer parecer seus adversários, nem na
mão dos traficantes. Muito menos na mão dos tucanos. Além
disso, passados dez anos do famoso arrastão da praia de Ipanema, vê-se que a conflagração
do Rio (ou sua instrumentalização) mudou de patamar.
A conduta de Cesar Maia e de
Garotinho no 30 de setembro
trouxe uma triste constatação.
Ambos pensaram que podiam
tirar proveito da catatonia do
Rio. Os traficantes também.
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