São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ TROCA-TROCA

Legenda perdeu representatividade e nomes importantes, como o do vice-presidente José Alencar

Bancada do PL na Câmara sofre retração de 28,3%

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Atingido em cheio pelas denúncias do "mensalão", o Partido Liberal está assistindo à desidratação de sua bancada na Câmara, que perdeu o maior número de deputados desde o dia 6 de junho, quando surgiu a acusação de que a legenda recebia mesada do PT.
O então PL do vice-presidente José Alencar e do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) foi um dos partidos que mais engordaram após 2002 devido à ação do Palácio do Planalto, operação que se repete agora com outro fiel aliado, o PSB. Eleito em uma aliança com o PT, Alencar trocou o PL pelo recém-criado PMR (Partido Municipalista Renovador), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.
Os liberais elegeram 26 deputados em 2002, mas somavam 53 -mais do que o dobro- no dia 6 de junho, data em que Roberto Jefferson (PTB) fez as denúncias do "mensalão", citando entre os beneficiários do suposto esquema o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, que renunciou quase dois meses depois, seguido por outro integrante do partido, o ex-deputado Carlos Rodrigues (RJ).
Ontem, quando expirou o prazo para as trocas de partidos por políticos que pretendem disputar as eleições do ano que vem, a bancada do PL contabilizava 38 deputados -redução de 28,3% em relação ao dia 6 de junho.
"O estrago dessa crise é evidente. Atrapalhou a gente, mas você vai ver que os outros partidos tiveram uma queda menor. É que as saídas do PL já estavam previstas, em sua maioria", afirmou o presidente do PL, que apontou uma série de motivos regionais para explicar as desfiliações.

Inchaço
Na contramão do esvaziamento do PL, o PSB se tornou o destino escolhido pelo Planalto para a migração interpartidária. O partido elegeu 22 deputados, mas sofreu uma debandada quando Anthony Garotinho deixou a sigla. Tinha 17 integrantes na data das denúncias do "mensalão", e fechou a semana com 29, o que representa aumento de 70,6% em comparação a junho.
"O salto foi fruto de uma política coerente do PSB. Somos responsáveis e não fomos alvo de denúncias na crise política", afirmou Renato Casagrande (ES), líder do PSB na Câmara. "Continuamos a ter uma responsabilidade com o governo, mas vamos cobrar publicamente a melhora na execução orçamentária", diz.
O estouro da crise política também produziu reflexos em outros partidos da base, como o próprio PT. Em junho, a sigla possuía 91 integrantes, mas ontem somava 83. Com as baixas, o PT chegou, inclusive, a perder brevemente o status de maior bancada da Casa.
Na lista dos que deixaram o PT, figuram nomes expressivos, como Miro Teixeira (RJ), ex-líder do governo e ex-ministro das Comunicações na gestão Lula, que se filiou ao PDT.
"O Miro saiu do PT de uma forma muito respeitosa, prometeu trabalhar pelo governo dentro do PDT. Nossa interlocução com os pedetistas está muito boa", disse Henrique Fontana, líder do PT na Câmara.

Senado
Mesmo com o troca-troca partidário, o PMDB continua a maior bancada do Senado, com 21 integrantes. O PSDB ultrapassou o PT na Casa, com 15 senadores, enquanto a bancada petista está com 12. Já o PC do B e o PMR ganharam representação.
Uma das trocas mais curiosas na Casa foi a de Leomar Quintanilha (TO), que deixou o PMDB para se filiar ao PC do B, partido do novo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (SP).
Com mandato até 2011, Quintanilha iniciou sua carreira política na Arena, partido que dava sustentação ao regime militar (1964-1985). No começo da década de 70, nas Forças Armadas, combateu a guerrilha do Araguaia, organizada pelo PC do B nas matas da região conhecida como Bico do Papagaio, entre Pará e Tocantins (à época Goiás).
Segundo seus assessores, Quintanilha deixou a sigla por problemas locais e aderiu aos comunistas porque não queria deixar a base aliada.
O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), estava negociando sua ida para o PSDB, mas decidiu permanecer no partido. Tucanos no Estado resistiam à sua ida e ele utilizou uma conversa com o presidente Lula para se cacifar no PT de Mato Grosso do Sul.
"Ele [Lula] pediu para eu ficar no PT porque o partido precisa de candidatos fortes lá em Mato Grosso do Sul em 2006. Eu tenho que cuidar mais dos temas nacionais e esquecer as picuinhas regionais", disse ele.
O projeto de Delcídio é disputar o governo do Estado no ano que vem, mas ele está em atrito com o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. A expectativa do senador é que o presidente Lula interfira a seu favor.
(SILVIO NAVARRO, RANIER BRAGON, FERNANDA KRAKOVICS E FÁBIO ZANINI)


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