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Esquerda "crítica" festeja com eleito
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ainda não acordei", disse Luiz
Inácio Lula da Silva ao entrar na
sala do comitê de campanha onde
o esperava, anteontem à tarde,
um grupo de cerca de 15 intelectuais de esquerda, ligados ou simpatizantes do PT. "Você está cansado?", alguém perguntou. "Não,
ainda não acordei do dia 27", respondeu o presidente eleito. Risadas gerais.
Em clima de comemoração, os
intelectuais estavam apertados na
pequena sala. Cadeiras extras tiveram que ser trazidas de última
hora para acomodar todos. Houve quem, como os professores de
direito Fábio Konder Comparato
e Claudineu de Melo, levasse as
mulheres. Para beber, água e suco
de laranja. Um fumante notou a
falta do cafezinho.
Estavam presentes os críticos literários Antonio Candido e Roberto Schwarz, o economista Paul
Singer, o professor de filosofia
Paulo Arantes, o sociólogo Francisco Oliveira, a cientista política
Maria Victoria Benevides, a psicanalista Maria Rita Kehl, o jornalista Eugênio Bucci e o escritor Frei
Betto.
O grupo foi convocado para o
encontro por Lula. Desde maio,
esses intelectuais vinham se reunindo, de maneira informal -às
vezes no comitê, às vezes na casa
de algum deles-, para discutir os
rumos da campanha. Estavam
preocupados sobretudo com a
aliança feita com o PL.
Também temiam que o publicitário Duda Mendonça transformasse o petista de cenho franzido
em um candidato despolitizado,
"de florzinhas e criancinhas", como definiu um dos participantes.
Volta e meia, se encontravam
com o próprio Lula ou com o presidente do PT, José Dirceu, para
fazer sugestões, nem sempre acolhidas. Queriam atuar como um
"contrapeso" a Duda, ser uma referência à esquerda da campanha.
No encontro de quinta-feira,
porém, nada disso era assunto.
Lula eleito, o negócio era festejar.
"Me sinto ao contrário do que o
Cazuza falava na música: meus
amigos estão no poder", disse um
dos intelectuais presentes, que
não quis se identificar.
Lula comentou estar vivendo
"um momento único" em sua vida, em que é procurado por pessoas querendo ajudar. No grupo,
ninguém, pelo menos por enquanto, quis dar palpites para o
futuro governo. "Não nos atrevemos a meter a colher de pau no
angu alheio", disse, irônico, Konder Comparato.
Maria Rita Kehl acha que o presidente eleito quis, com o encontro, "prestar contas" a quem o
apoiou. "Ele é um homem do trabalho coletivo, isso não é uma deferência a nós. No domingo, depois de saber que tinha ganhado,
prestou contas até aos mortos",
disse a psicanalista.
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