São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

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Esquerda "crítica" festeja com eleito

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ainda não acordei", disse Luiz Inácio Lula da Silva ao entrar na sala do comitê de campanha onde o esperava, anteontem à tarde, um grupo de cerca de 15 intelectuais de esquerda, ligados ou simpatizantes do PT. "Você está cansado?", alguém perguntou. "Não, ainda não acordei do dia 27", respondeu o presidente eleito. Risadas gerais.
Em clima de comemoração, os intelectuais estavam apertados na pequena sala. Cadeiras extras tiveram que ser trazidas de última hora para acomodar todos. Houve quem, como os professores de direito Fábio Konder Comparato e Claudineu de Melo, levasse as mulheres. Para beber, água e suco de laranja. Um fumante notou a falta do cafezinho.
Estavam presentes os críticos literários Antonio Candido e Roberto Schwarz, o economista Paul Singer, o professor de filosofia Paulo Arantes, o sociólogo Francisco Oliveira, a cientista política Maria Victoria Benevides, a psicanalista Maria Rita Kehl, o jornalista Eugênio Bucci e o escritor Frei Betto.
O grupo foi convocado para o encontro por Lula. Desde maio, esses intelectuais vinham se reunindo, de maneira informal -às vezes no comitê, às vezes na casa de algum deles-, para discutir os rumos da campanha. Estavam preocupados sobretudo com a aliança feita com o PL.
Também temiam que o publicitário Duda Mendonça transformasse o petista de cenho franzido em um candidato despolitizado, "de florzinhas e criancinhas", como definiu um dos participantes. Volta e meia, se encontravam com o próprio Lula ou com o presidente do PT, José Dirceu, para fazer sugestões, nem sempre acolhidas. Queriam atuar como um "contrapeso" a Duda, ser uma referência à esquerda da campanha.
No encontro de quinta-feira, porém, nada disso era assunto. Lula eleito, o negócio era festejar. "Me sinto ao contrário do que o Cazuza falava na música: meus amigos estão no poder", disse um dos intelectuais presentes, que não quis se identificar.
Lula comentou estar vivendo "um momento único" em sua vida, em que é procurado por pessoas querendo ajudar. No grupo, ninguém, pelo menos por enquanto, quis dar palpites para o futuro governo. "Não nos atrevemos a meter a colher de pau no angu alheio", disse, irônico, Konder Comparato.
Maria Rita Kehl acha que o presidente eleito quis, com o encontro, "prestar contas" a quem o apoiou. "Ele é um homem do trabalho coletivo, isso não é uma deferência a nós. No domingo, depois de saber que tinha ganhado, prestou contas até aos mortos", disse a psicanalista.



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