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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Na Europa, aposta é na "alternativa"

MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES

Um ano depois da eleição, surgem críticas em setores da esquerda na Europa ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O jornal francês "Libération", em artigo no início da semana, diz que o presidente Lula recuperou a situação econômica, mas retarda as reformas sociais. Outros setores ainda defendem o governo e consideram que o projeto do PT no Brasil pode ser um exemplo para as esquerdas no mundo.
Para George Monbiot, escritor e analista político do jornal britânico "The Guardian", "não há dúvidas de que muita gente está decepcionada com Lula" em relação à sua política econômica. Mas ressalva que o presidente "foi tão longe quanto poderia ter ido" com as restrições políticas "incrivelmente difíceis" que enfrenta.
"Essas restrições são impostas pelos especuladores financeiros e pelo Fundo Monetário Internacional. E, para mim, o que isso mostra é que, não importa o quanto sejam boas as intenções de um governo, até que se assuma o controle da política global e da economia global, os governos podem fazer muito pouco", disse Monbiot.
O professor Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, considera que os grupos de esquerda mais radicais, "que pensavam que Lula era um radical extremista", estão decepcionados. "Mas a esquerda que tem um projeto de governo na Europa não está decepcionada. Vê as dificuldades e acha que Lula está indo muito bem", disse.
Para Valladão, desde o começo o governo Lula estava consciente da realidade e de princípios básicos, como o de que "não se pode gastar mais do que se arrecada". Mas ele reconhece que se esperava mais na área social e critica os ministérios sociais por não apresentarem mais projetos. "Os ministros sociais têm de ter mais idéias. Sempre falta dinheiro, até na França, mas é preciso ser mais criativo, arrojado para fazer políticas sociais", disse.

Solidariedade
Na Espanha, a Izquierda Unida, que reúne os antigos partidos comunistas, ambientalistas e pacifistas, aprova o governo Lula. Seu porta-voz, José Francisco Mende, assegura que a organização não vê motivos para criticar e que não se poderia esperar que Lula resolvesse os problemas do país em um ano. Segundo ele, o projeto do presidente é a "proposta da esperança" em contraponto ao avanço da "globalização de caráter muito capitalista e muito de direita".
"Creio que Lula é capaz de afiançar um modelo novo para o século 21. Não serve à velha esquerda dos países comunistas e nem tampouco à social democracia que teve de fazer uma política de direita. É necessário uma esquerda transformadora, ecológica, que tenha em conta o ambiente e que governe para a maioria", disse Mende.
Para ele, Lula pode impor esse modelo, que serviria de exemplo para a América Latina e referência para toda a esquerda, porque tem apoio e é feito "dentro da realidade e não com propostas utópicas". "São propostas inovadoras, que às vezes têm algumas contradições, como não poderia ser de outra forma. Mas são pessoas como Lula que fazem as propostas que não são nem populistas nem conservadoras", explicou.
Monbiot, do "Guardian", considera que o caminho que o presidente escolheu, buscando alianças com países pobres ou de renda média, é a alternativa correta para sair das restrições impostas pela ordem internacional. O escritor defende que esses países criem uma forte solidariedade entre si para enfrentar as restrições.



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