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SÃO PAULO
Prefeito eleito diz esperar de Marta a mesma "altivez" na transição de FHC a Lula
PT agora propõe fim das taxas; Serra critica via do 'terrorismo'
Jorge Araujo/Folha Imagem
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O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), durante pronunciamento e entrevista coletiva no Hotel Crowne Plaza, ontem à tarde |
RICARDO BRANDT E
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua primeira entrevista como prefeito eleito de São Paulo, o
tucano José Serra cobrou ontem
que o PT repita a "altivez" do
PSDB em 2002 e proporcione
uma transição pacífica na cidade.
Frisando que o "PSDB sabe separar os interesses do partido e os
interesses do povo", Serra lembrou o processo de transmissão
iniciado por Fernando Henrique
Cardoso em 2002, quando Luiz
Inácio Lula da Silva venceu a eleição para a Presidência.
O tucano reafirmou "a expectativa de governar a cidade sem a
oposição do quanto pior melhor,
que prejudica o interesse público". Serra fez o discurso depois de
o presidente da Câmara, o petista
Arselino Tatto, propor a extinção
das taxas já para o ano que vem, num sinal de
que o clima pode esquentar nos
próximos dias.
"Não acredito que o PT optasse
por esse caminho, porque o caminho do terrorismo, da chantagem, o caminho das agressões,
dos 1.500 comerciais, dos senadores dedicando três ou quatro programas a ataques, este caminho
foi derrotado na eleição. Seria
uma ironia se voltassem agora
sob a forma dessas represálias".
Para Serra, o eleitor escolheu a
"forma republicana de governar".
"Nosso partido, PSDB, é comprometido com a causa republicana.
Não mistura interesse de partido
com o do governo. O eleitor vem
nos lembrar que o dinheiro público é do povo. Essa foi uma eleição
baseada em valores", disse.
Serra afirmou que o PSDB "não
hesitou em votar a agenda de reformas defendidas pelo governo
[federal]" e disse esperar que o PT
"jogue pela cidade". Ele afirma
crer que "o PT tem valores melhores que os que se manifestaram na
campanha".
Sobre o risco de tratamento diferenciado a São Paulo por parte
do governo federal devido a sua
vitória -como chegou a ser cogitado pela campanha petista-,
Serra se mostrou incrédulo. "A
confiança venceu o medo", disse
ele. "A confiança nas instituições
venceu porque a população votou
apesar de ameaças infundadas de
que, caso não ganhasse a candidatura situacionista, o governo federal se afastaria de suas obrigações
em relação a São Paulo".
Ao mesmo tempo em que critica a conduta do PT municipal,
Serra ressalta o espírito democrático do presidente Lula: "Temos
certeza de que o governo do presidente Lula continuará sua relação
com São Paulo em função do interesse público, em função dos interesses da população da maior cidade brasileira".
Serra deixou claro que só aguarda um sinal do PT para colocar
sua equipe de transição em trabalho. "A expectativa é termos um
mecanismo de transição que foi
tão bem sucedido no caso federal,
quando o governo do presidente
Fernando Henrique abriu todas
as informações, inclusive de medidas que estavam tomando depois das eleições."
Mas, segundo o tucanato, se até
a próxima semana não houver
qualquer iniciativa por parte da
prefeita Marta Suplicy (PT), o
partido convocará uma reunião
para iniciar a transição.
O aceno foi dado porque os tucanos temem retaliação petista.
Um indicativo seria a ameaça de
Tatto. Outro, o movimento dos
aliados de Marta para redução da
margem de remanejamento do
orçamento de 15% para 1%. Além
disso, o PSDB cita a dificuldade de
obtenção de dados da administração -o que foi classificado por
Serra como "caixa-preta" - durante a campanha.
Segundo o deputado Alberto
Goldman, "os petistas saíram
enlameados da disputa". Agora,
espera-se "dignidade na transição". O vereador eleito José Anibal chamou de "infantil" a ameaça de Arselino Tatto. Mais comedido, o deputado federal Aloysio
Nunes Ferreira disse que essa foi
uma declaração feita de "cabeça
quente". O deputado evocou a
maturidade política de Lula.
Por isso, em seu discurso, baseado em rascunhos, Serra afirmou que o "PSDB foi altivo na
derrota em 2002 e vai saber ser
humilde na vitória em 2004".
Ele, no entanto, foi evasivo
quando questionado sobre o que
faria com as informações obtidas
na transição. Em 2002, Lula deixou claro que não exporia as mazelas do governo anterior. Serra,
por sua vez, não respondeu.
O tucano deve viajar nos próximos dias.
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