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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Ministério Público deve denunciar Sérgio Gomes da Silva por participação no assassinato de prefeito

Promotoria liga empresário à morte de Daniel

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo acredita já ter reunido provas contra o empresário Sérgio Gomes da Silva sobre sua suposta participação no assassinato de Celso Daniel (PT), ex-prefeito de Santo André. O empresário e outro homem, cuja identidade é mantida sob sigilo, deverão ser acusados formalmente em aproximadamente dez dias.
Gomes da Silva estava no carro no momento em que Daniel foi sequestrado e depois morto, em janeiro do ano passado. Na linha de investigação da Promotoria, o empresário, que entrou em contradições ao tentar reproduzir a dinâmica do crime, simulou o sequestro do prefeito, de quem era amigo desde 1988.
Daniel era um importante nome dentro do PT. Ele havia sido convidado pelo então candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, a assumir uma das coordenadorias da campanha. Após sua morte, foi substituído pelo hoje ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Entre as provas contra Gomes da Silva está o depoimento de uma testemunha que cita literalmente o nome do empresário como um dos envolvidos no assassinato do prefeito.
Outros depoimentos e provas formam um triângulo de relações que complica a situação do empresário: os seis homens da favela Pantanal, presos pela Polícia Civil sob acusação de terem assassinado Daniel, tinham uma estreita relação com Dionizio de Aquino Severo, que, por sua vez, era próximo a Gomes da Silva.
Sete dias antes de ser assassinado na cadeia, em março passado, Severo afirmou em depoimento que conhecia Gomes da Silva. Severo foi visto na Prefeitura de Santo André e, antes de ser preso, procurou jornalistas dizendo ter informações importantes.
Durante a investigação, a Promotoria ouviu novamente todos os presos e quebrou os sigilos telefônicos e bancários dos investigados. O resultado das quebras é mantido em segredo.
Até o oferecimento da denúncia (que marca o início de um processo judicial), a Promotoria criminal deverá ouvir ainda pelo menos mais três pessoas.
A família do prefeito morto, descontente com a versão da Polícia Civil, de que houve um crime comum, acredita que Daniel tenha sido morto após descobrir um esquema de corrupção incrustado na Prefeitura de Santo André. Para os parentes, o prefeito teria sido morto ao tentar frear a coleta de propina.
Há cerca de um ano, a Promotoria criminal de Santo André denunciou Gomes da Silva e outras cinco pessoas por suposta cobrança de propina de empresários do setor de transporte da cidade. A cobrança aconteceria, segundo denúncias, dentro da própria prefeitura. A denúncia ainda não foi aceita pela Justiça. Os acusados negam envolvimento.

Silêncio
Pela primeira vez na condição de suspeito, Gomes da Silva foi ouvido pelos promotores na semana passada. A todas as perguntas, o empresário manteve-se em silêncio. Orientado por seu advogado, Roberto Podval, disse que irá falar somente em juízo.
"Ouvimos o empresário na condição de suspeito porque existe elementos de participação dele no crime", afirmou o promotor Roberto Wider Filho, um dos responsáveis pelo caso. "Porém, só iremos firmar nossa convicção quando a investigação terminar. E ainda não terminou."
Para o promotor José Reinaldo Carneiro, as reportagens recentemente publicadas pela imprensa são "especulação" e o momento, segundo ele, é de "silêncio na investigação, não de divulgação".


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