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Na TV, Lula revelou medo, diz historiador
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o historiador Manolo
Florentino, a entrevista com
o presidente transmitida pela TV Globo no último domingo revelou "o medo estampado nos olhos do Lula".
As recorrentes metáforas,
defende o professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, vieram acompanhadas de uma atitude permanentemente defensiva, de
uma "dubiedade primária" e
careceram da autoconfiança
que dava corpo ao antigo
discurso do petista.
"São signos de quem sabe
que errou, em todos os sentidos: politicamente, eticamente e como líder", diz.
"Agora ele sabe disso."
(RAFAEL CARIELLO)
Folha - Como o sr. avalia a
entrevista?
Manolo Florentino - O que
ficou claro ali foi o medo estampado nos olhos do Lula.
Isso ficou claro para todo
mundo. E a defensiva permanente, como resultado
desse medo. Ambas as coisas são signos de quem sabe
que errou, em todos os sentidos: politicamente, eticamente e como líder.
Folha - Dá para dizer que o
presidente tergiversava?
Florentino - Ele foi muito
comum. Ele reiterou duas
coisas que são muito próprias do seu discurso. Primeiro aquelas metáforas de
sentido comum, via de regra
referentes ao futebol, que em
última instância só fazem esterilizar o discurso político.
E, o que achei terrível para
ele, a dubiedade primária.
Quando Lula diz, por exemplo, que não sabe se vai se
candidatar e, na pergunta seguinte, diz que vai colher o
que plantou... Imagino que
ele não vá colher grama, não
é? O que ele está tentando
colher é a reeleição.
Folha - Como se explica a
dubiedade e a fuga das perguntas?
Florentino - Signo de quem
sabe que errou em todos os
sentidos. Agora ele sabe disso. Agora não há mais aquela autoconfiança, que podia
ter um fundamento nas fantasias do Lula, do PT. Isso ficou esvaziado. Agora ele sabe que não tem conteúdo,
que não tem projeto. Essa
consciência é que criou esse
profundo medo.
Folha - Que efeito isso pode
ter para a opinião pública?
Florentino - O resultado é
piorar ainda mais a imagem
do presidente da República
com os formadores de opinião. Sempre que ele fala, todos esses reiterados erros
vêm à tona. Uma entrevista
como essa tem um impacto
maior, mais imediato, nesse
grupo, mas aos poucos chega à base da pirâmide -não
tenha dúvida disso.
Folha - Lula diz que pede a
Deus que, "quando terminar
tudo isso", aqueles que o acusaram lhe peçam desculpas.
Como o sr. vê o pedido?
Florentino - Peço a Deus
que o perdoe. Mais nada.
Porque ele só pode pedir isso
a Deus, a mais ninguém.
Folha - Na entrevista, como
em outras ocasiões, o presidente parece colocar o seu
governo em absoluto destaque na história do país, totalmente distinto e "refundador". Como se explica isso?
Florentino - Isso é um traço
da geração de 1968, que não
é a do Lula, mas que ele, em
última instância, encarna. A
geração de 68 está no poder.
O problema é que, na hora
de apresentar projetos para
o país, cadê? Há muito disso:
a falha de uma geração que
não tinha projetos, mas apenas palavras de ordem.
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