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INTELIGÊNCIA
Diretor-geral muda símbolo, institui hino (de sua própria autoria) e estabelece juramento aos funcionários da agência
Abin aposenta "araponga" e adota "carcará"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Saem os arapongas, entra o carcará como símbolo da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência). Essa foi uma das dez mudanças que o novo diretor-geral, Márcio Paulo Buzanelli, imprimiu no
órgão para criar uma "linguagem
moralmente edificante".
O carcará, conhecido como "gavião do cerrado" e popularizado
na música de João do Vale e José
Cândido ("Carcará pega, mata e
come"), é uma ave que, segundo
Buzanelli, tem "altivez, nacionalismo, visão aguda e controle do
território". E por que não mais a
araponga? "Porque não é agradável, é muito depreciativo. Araponga, na verdade, serve para designar atividades ilegais. E é um
passarozinho pequeno, simpático, mas tem um nome que não
tem eufonia (som agradável)."
O novo símbolo já está por toda
parte na sede da Abin, no centro
de Brasília, a partir do chão da entrada principal. Está, também, no
página do órgão na internet
(www.abin.gov.br).
Buzanelli, paulista, 55, também
instituiu um hino, cuja letra é de
sua própria autoria, dizendo que
"a Abin é a luz forte que dissipa a
escuridão/ Desfaz as incertezas e
desvenda o sorrateiro". Em outro
trecho, diz: "Nós somos da inteligência brasileira/ Anônimos heróis na busca da verdade". A música é do general Paulo Roberto
Uchoa, secretário nacional antidrogas, no cargo desde o governo
Fernando Henrique Cardoso.
O hino é cantado sempre na
abertura e no encerramento de
cursos e em três datas especiais,
uma delas criada pelo próprio Buzanelli ainda em 2004, antes de
ocupar a direção geral: o Dia do
Veterano, 29 de novembro.
A nova data visa manter o vínculo dos aposentados com o órgão e o segredo das informações
que obtiveram quando na ativa:
"Não quero que saiam por aí falando indevidamente."
Os três ex-diretores da Abin
-dois deles nomeados no governo FHC- integram um recém-criado Conselho Superior de Inteligência, presidido por Buzanelli,
e ganharam direito a um mural de
fotos na sede da agência.
A Abin tem agora uma bandeira
azul e branca -também idealizada pelo próprio Buzanelli-, uma
outra bandeira para sinalizar que
o diretor-geral está na casa, uma
revista quadrimestral e um novo
slogan: "Orgulho de ser Abin",
numa analogia ao "Orgulho de
ser brasileiro" criado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
"Precisamos de uma linguagem
moralmente edificante", disse ele
à Folha, listando as mudanças e
seus dois principais objetivos:
desmistificar a Abin como sucedânea do velho SNI da ditadura
militar e fortalecer "a lealdade e as
relações afetivas entre os servidores e o órgão".
Ele próprio é funcionário da
Abin e atua na área de segurança
desde 1978 -ainda na época do
SNI. Substituiu na direção geral o
igualmente polêmico delegado
Mauro Marcelo. A diferença é que
Buzanelli foi escolhido pelo general Jorge Armando Félix, chefe do
Gabinete de Segurança Institucional, enquanto Marcelo foi nomeado diretamente por Lula.
Outra providência do diretor foi
mudar a nomenclatura dos cargos da agência. Sua função agora é
"comandante de inteligência" e os
analistas passaram a ser "oficiais
de inteligência".
Buzanelli, porém, não vê nenhum traço de militarismo em todas essas mudanças. "Não há militarismo. Comandante é aquele
que comanda junto com os demais, esse é o sentido da palavra",
disse ele, informando que cerca
de 70% dos funcionários apoiaram a troca dos nomes.
Outra mudança introduzida na
sua curta gestão foi o juramento
dos funcionários, exigido mesmo
dos antigos que ainda estão na ativa. Todos, novos e antigos, tiveram de jurar fidelidade "à bandeira, à Constituição e à honra".
Ele compara: "Como o juramento de Hipócrates", diz, referindo-se ao dos médicos, antes de
exercerem a profissão.
Como medidas práticas, o diretor praticamente duplicou os escritórios da Abin pelo país, que
antes eram chamados de agências
e agora passam a ser superintendências. Eram 29 e pularam para
54, nas capitais e nas principais cidades do interior.
A "insígnia do diretor" (a bandeira exclusiva dele) será hasteada nas unidades que tiverem pátio, como a de Goiás, sempre que
ele estiver no local. "Faz parte da
liturgia do cargo", justifica ele.
Buzanelli também mantém a
proposta do antecessor, Mauro
Marcelo, de instalar escritórios na
Venezuela, na Colômbia, no Paraguai e na Bolívia. Hoje, a Abin já
tem representação na Argentina e
nos EUA. Buzanelli, aliás, foi "oficial de ligação" na Flórida (EUA)
por dois anos e meio.
Na tentativa de popularizar o
órgão de informação, ele abriu a
agência a visitas de estudantes de
vários níveis e está de olho nas faculdades de jornalismo.
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