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NO AR
Os tentáculos
NELSON DE SÁ
em Nova York
Esquina da rua 48 com sexta
avenida. Os nove televisores
instalados no térreo do prédio
da News Corporation de Rupert Murdoch são tudo o que a
Fox News conseguiu, na luta
com a CNN de Ted Turner pelo
mercado de Manhattan. O confronto é a face mais visível na
guerra das corporações de mídia nos Estados Unidos (de resto, as mesmas, na mesma guerra, pelo mundo todo).
Murdoch lançou a Fox News,
uma alternativa conservadora
à ``liberal'' CNN, há três meses,
em meio a jogadas que combinam negócios e política. A corporação Time Warner, que detém a CNN, também tem o monopólio da transmissão de TV
a cabo em Manhattan. Na hora
de lançar a Fox News, negou
transmissão a Murdoch, alegando falta de canais.
Sem Manhattan, a Fox News
não apenas perde o mercado:
desaparece das vistas da avenida Madison, o centro publicitário dos Estados Unidos (e do
mundo). Para derrubar a restrição, Murdoch chamou a
campo o prefeito de Nova York,
o republicano Rudolph Giuliani, que ajudou a eleger com o
jornal ``New York Post''. São os
tentáculos da corporação. Giuliani ameaçou a Time Warner/CNN o mais que pôde, chegando perto de colocar a Fox
News no ar através de um canal público municipal. Foi vencido na Justiça.
Censurado em Nova York,
Murdoch retaliou derrubando
um canal produzido pela Time
Warner das transmissões por
satélite na Grã-Bretanha, onde
ele, Murdoch, detém o monopólio (BSkyB). Por outro lado,
na China, censurou a CNN em
seu monopólio de satélite asiático (Star) -e ``bloqueou'' o
acesso à página da CNN na Internet, no serviço de acesso que
criou em acordo com o governo
chinês. Os tentáculos. (Por sinal, quanto ao corte nas transmissões da CNN, o mesmo esteve para acontecer no Brasil.)
Com tudo isso e um pouco
mais, Rupert Murdoch não foi
capaz de passar dos nove televisores em Manhattan. Em se
tratando de corporações americanas, ainda está na divisão
de acesso. O ``império'' News
Corporation: os canais de informação Fox News e Fox
Sports, a rede aberta de TV
Fox, o estúdio 20th Century
Fox, a editora HarperCollins, o
``New York Post'', a revista ``TV
Guide'', o ``Times'' e o ``Sun'' de
Londres, a BskyB, canais ingleses com Sky News e Sky Sports,
a Star, jornais e emissoras na
Austrália.
O ``império'' Time Warner: os
canais CNN, HBO, TNT, Head
Line News, CNNsi (esportes),
Comedy Central, Cinemax, E! e
outros, os estúdios de cinema e
TV Warner Brothers, Castle
Rock, Hanna-Barbera e outros,
a recém-criada rede aberta de
TV WB, as gravadoras Warner
Music, Atlantic, Elektra, SubPop e outras, as editoras
Book-of-the-Month Club, Sunset e outras, as revistas ``Time'',
``Fortune'', ``Life'', ``Sports
Illustrated'' e outras. A lista vai
longe, incluindo times como o
Atlanta Braves, empresas financeiras e de bebidas.
Murdoch ainda não tem como enfrentar ``a maior empresa
de mídia'' do mundo, ele que
talvez não tenha nem a quarta
(antes vêm as corporações General Electric-NBC, Disney/ABC e Westinghouse/CBS).
Mas ele vai tentando. Além
do apoio direto a republicanos
como Giuliani e Newt Gingrich,
ele direciona a própria Fox
News. Chamou para montar e
dirigir o projeto um dos mais
conhecidos consultores de mídia do partido republicano e
contratou como maior personalidade da emissora uma
ex-candidata republicana.
Era ela quem comandava
uma entrevista favorável à ``religião organizada'', sexta-feira,
e outra favorável à ação policial no caso O.J. Simpson, sábado. Ontem, uma grande reportagem mostrava favoravelmente os ``planos militares'' de um
ex-campeão de boxe. Todos temas conservadores, com entrevistados conservadores. Mas o
que mais distingue a Fox News
não é ``a notícia balanceada
corretamente'', no eufemismo
anti-liberal do slogan da emissora. São ainda os tentáculos.
Já entrou para a história das
corporações que o primeiro dia
da Fox News foi tomado por
``merchandising'' jornalístico
de outros investimentos de Rupert Murdoch como a ``TV Guide'' e filmes da 20th Century
Fox.
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