São Paulo, segunda, 3 de fevereiro de 1997.

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NO AR
Os tentáculos

NELSON DE SÁ
em Nova York

Esquina da rua 48 com sexta avenida. Os nove televisores instalados no térreo do prédio da News Corporation de Rupert Murdoch são tudo o que a Fox News conseguiu, na luta com a CNN de Ted Turner pelo mercado de Manhattan. O confronto é a face mais visível na guerra das corporações de mídia nos Estados Unidos (de resto, as mesmas, na mesma guerra, pelo mundo todo).
Murdoch lançou a Fox News, uma alternativa conservadora à ``liberal'' CNN, há três meses, em meio a jogadas que combinam negócios e política. A corporação Time Warner, que detém a CNN, também tem o monopólio da transmissão de TV a cabo em Manhattan. Na hora de lançar a Fox News, negou transmissão a Murdoch, alegando falta de canais.
Sem Manhattan, a Fox News não apenas perde o mercado: desaparece das vistas da avenida Madison, o centro publicitário dos Estados Unidos (e do mundo). Para derrubar a restrição, Murdoch chamou a campo o prefeito de Nova York, o republicano Rudolph Giuliani, que ajudou a eleger com o jornal ``New York Post''. São os tentáculos da corporação. Giuliani ameaçou a Time Warner/CNN o mais que pôde, chegando perto de colocar a Fox News no ar através de um canal público municipal. Foi vencido na Justiça.
Censurado em Nova York, Murdoch retaliou derrubando um canal produzido pela Time Warner das transmissões por satélite na Grã-Bretanha, onde ele, Murdoch, detém o monopólio (BSkyB). Por outro lado, na China, censurou a CNN em seu monopólio de satélite asiático (Star) -e ``bloqueou'' o acesso à página da CNN na Internet, no serviço de acesso que criou em acordo com o governo chinês. Os tentáculos. (Por sinal, quanto ao corte nas transmissões da CNN, o mesmo esteve para acontecer no Brasil.)
Com tudo isso e um pouco mais, Rupert Murdoch não foi capaz de passar dos nove televisores em Manhattan. Em se tratando de corporações americanas, ainda está na divisão de acesso. O ``império'' News Corporation: os canais de informação Fox News e Fox Sports, a rede aberta de TV Fox, o estúdio 20th Century Fox, a editora HarperCollins, o ``New York Post'', a revista ``TV Guide'', o ``Times'' e o ``Sun'' de Londres, a BskyB, canais ingleses com Sky News e Sky Sports, a Star, jornais e emissoras na Austrália.
O ``império'' Time Warner: os canais CNN, HBO, TNT, Head Line News, CNNsi (esportes), Comedy Central, Cinemax, E! e outros, os estúdios de cinema e TV Warner Brothers, Castle Rock, Hanna-Barbera e outros, a recém-criada rede aberta de TV WB, as gravadoras Warner Music, Atlantic, Elektra, SubPop e outras, as editoras Book-of-the-Month Club, Sunset e outras, as revistas ``Time'', ``Fortune'', ``Life'', ``Sports Illustrated'' e outras. A lista vai longe, incluindo times como o Atlanta Braves, empresas financeiras e de bebidas.
Murdoch ainda não tem como enfrentar ``a maior empresa de mídia'' do mundo, ele que talvez não tenha nem a quarta (antes vêm as corporações General Electric-NBC, Disney/ABC e Westinghouse/CBS).
Mas ele vai tentando. Além do apoio direto a republicanos como Giuliani e Newt Gingrich, ele direciona a própria Fox News. Chamou para montar e dirigir o projeto um dos mais conhecidos consultores de mídia do partido republicano e contratou como maior personalidade da emissora uma ex-candidata republicana.
Era ela quem comandava uma entrevista favorável à ``religião organizada'', sexta-feira, e outra favorável à ação policial no caso O.J. Simpson, sábado. Ontem, uma grande reportagem mostrava favoravelmente os ``planos militares'' de um ex-campeão de boxe. Todos temas conservadores, com entrevistados conservadores. Mas o que mais distingue a Fox News não é ``a notícia balanceada corretamente'', no eufemismo anti-liberal do slogan da emissora. São ainda os tentáculos.
Já entrou para a história das corporações que o primeiro dia da Fox News foi tomado por ``merchandising'' jornalístico de outros investimentos de Rupert Murdoch como a ``TV Guide'' e filmes da 20th Century Fox.

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