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Proposta de mudança do regimento para acelerar mudanças constitucionais recebe críticas da oposição e até da base governista
Câmara critica "atalho" para obter reformas
RAYMUNDO COSTA
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A oposição e até mesmo setores
da situação condenaram a proposta de mudança do regimento
interno da Câmara dos Deputados para apressar a votação das
reformas. A proposta foi feita pelo
deputado João Paulo Cunha (PT-SP), eleito ontem para presidir a
Casa, mas a idéia é do ministro José Dirceu (Casa Civil), articulador
da candidatura de João Paulo.
A contestação começou no PFL.
"Faremos tudo para acelerar as
reformas. Votaremos em qualquer dia da semana, mas o regimento não pode mudar. Ele é a
garantia de que as oposições serão
ouvidas", disse o líder da bancada, José Carlos Aleluia (BA).
"O presidente da Câmara não
pode ser correia de transmissão
de interesses do governo na Casa", fez coro o líder do PPS, da base de sustentação do Palácio do
Planalto, deputado Roberto Freire (PE). "Quando há consenso,
não precisa apressar nada."
O PT sempre foi contrário à
mudança do regimento. Em seu
primeiro mandato, Fernando
Henrique Cardoso tentou mudá-lo, mas, apesar da ampla maioria
de que dispunha na Câmara, o
máximo que conseguiu foi limitar
o número de Destaques para Votação em Separado que podem
ser apresentados pelos partidos.
João Paulo ainda não tem uma
proposta fechada. Sugeriu apenas
a redução do número máximo de
sessões, hoje em 40, para a apreciação das propostas de emendas
constitucionais em comissão especial. Mas a oposição suspeita
que o objetivo final do PT é acabar
com os destaques, passando a tramitação dos projetos na Câmara a
ser processada como no Senado.
Os Destaques para Votação em
Separado são solicitações para
que determinados trechos de uma
proposta de lei tenham uma apreciação específico no plenário. É o
instrumento que a minoria usa
para aprovar suas propostas. No
governo FHC, era utilizado pelo
PT para obstruir as votações. Mas
o Planalto então conseguiu reduzir a apresentação de destaques a
quatro pelos maiores partidos. O
PT podia apresentar três.
Para o ex-líder do governo FHC
na Câmara, Arnaldo Madeira
(PSDB-SP), a redução do número
de sessões proposta por João Paulo é desnecessária: "Quando há
acordo, sempre se vota com o número mínimo previsto de dez sessões". Esse foi o número de sessões preciso para aprovar a CPMF
(Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira).
Alegando não conhecer a proposta de João Paulo, o deputado
Ricardo Berzoini (PT-SP), que seria um dos principais interessados na mudança, também avalia
que "o pior obstáculo é um eventual desentendimento entre os líderes. Se houver acordo, vota-se
com celeridade". Berzoini se licenciou do Ministério da Previdência para assumir seu mandato. Retorna hoje ao cargo.
Outro integrante da base governista, Inácio Arruda (PC do B-CE), também julga desnecessária
a medida: "Não é bom começar
alterando os prazos. O melhor para o governo e para o Congresso é
discutir profundamente com a
sociedade as propostas de emenda. Os prazos atuais não são ruins.
São até relativamente pequenos".
"Regimento interno é um instrumento do parlamento para defender o direito das minorias, para impedir que as forças dominantes digam "quero dessa forma
e acabou". A agilização é aconselhável, mas não pode impedir que
a minoria tenha direito de se manifestar", disse o líder do PSDB,
Jutahy Júnior (BA).
"Não se pode fazer um regimento interno ao sabor de cada presidente no Planalto", disse Arnaldo
Faria de Sá (PTB-SP), mas o líder
do PTB, Roberto Jefferson (RJ), se
disse "inteiramente a favor" da
proposta de João Paulo. O líder do
PL, Valdemar da Costa Neto, quer
a mudança: "Podemos economizar muito tempo nas comissões e
trazer para o plenário só os temas
polêmicos. Mas, quando o governo quer, a Casa anda de acordo. É
a vida. O que FHC perdeu em oito
anos de governo? Nada", disse.
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